Capítulo 6
A Confiança
Victhana sentou-se à sombra e desembalou o pão que guardara da refeição da noite passada. Olhou o espaço das senzalas e suspirou o ar daquele novo dia quente. O cheiro desagradável não estava presente e também não havia ninguém por perto, assim pôde morder seu pão e aproveitar o curto tempo que teria sozinha.
Já havia feito seu trabalho ao cuidar dos cavalos e os três que estavam lá ficaram mais ativos, provavelmente bem hidratados pela quantidade de água que beberam só naquela manhã. Sua mãe e outras mulheres já tinham ido para a cozinha, e outras juntos dos homens foram colher o algodão e até buscar mais água no rio.
Por um instante o gosto do pão lhe atravessou além do estômago quase vazio, para seus pensamentos. A massa bem fermentada, não se parecia com a comida do sul. O aspecto de casca crocante e interior macio lhe davam uma satisfação, até chegar na metade dele e lembrar de algo.
"Abrimos nossa última reserva de comida.", dissera Joaquim.
Temendo não ter algo que lhe enganasse a fome no fim do dia, resolveu guardar a outra metade, ficando feliz por não está no sul, onde eram feitas vistorias todas as noites para verificar se o escravo escondia comida ou até mesmo armas.
Até havia adotado a senzala em que ficara com sua mãe, sendo a que ficava mais perto da estrada e do rio, se sentindo menos desconfortável ao pensar naquilo. Pelo menos a roupa limpa que usava lhe dava mais conforto, um vestido longo branco com leves ondulações ao longo, sendo com duas alças no braço na altura dos ombros. Sua mãe havia feito tranças em seus cabelos e agora elas repousavam sobre suas costas. Talvez pudesse visitar o rio mais tarde quando todos do casarão partissem.
Após guardar metade do pão em sua senzala, ela caminhou pelo espaço arenoso, mordendo o pedaço restante e logo visualizou a paisagem ao horizonte, os algodões colhidos sem sua maioria, e a movimentação em frente ao casarão.
Havia homens, guardas, cavalos, carroças e logo atrás chegavam Benedito e Joaquim. Benedito em suas roupas mais sofisticadas e Joaquim em roupas arejadas.
Victhana percebeu que ele tinha um olhar sério, como se avaliasse toda a situação que ela mesmo via de outro campo de visão. Não saberia se ele estava preocupado com aquilo ou estaria pensando em outra coisa.
— Como você acha que deve ser a capital daqui? — uma voz feminina perguntou em imaginação.
Com o susto, Victhana segurou o pão mais forte. Aquela não era uma pergunta que sua mãe faria, pois ela sabia como eram as capitais. Virou-se para encarar a mulher que vinha em sua direção. Era Latasha, mulher com quem sua mãe conversava na noite anterior, sob a luz da fogueira de histórias. Luene, sua mãe e aquela mulher, haviam se aproximado há alguns dias.
— Creio que seja como na antiga cidade. — disse com calma, voltando a observar ao longe, a movimentação. — Rica, cheia de gente empacotada e cruel.
— Mas isso que disse não é tão diferente dos outros lugares. — ela deu de ombros e se aproximou mais um pouco de Victhana.
— Bem... Aqui está se mostrando ser um pouco diferente. — Victhana sentou-se no tronco ao chão, na sombra de uma outra senzala, mordendo seu pão. — De onde você veio?
— Meus pais eram do outro continente. — disse, esfregando as mãos levemente suadas e depois esfregou elas em sua roupa. — Congo, o país.
Victhana assentiu e observou a mulher vestida com as roupas mais frescas e limpas que ganhara na noite passada. Seus cabelos crespos estavam amarrados com uma linha grossa que podia se assemelhar a um barbante. O semblante suave tinha traços finos e não soube dizer se era por ser magra em causa da fome, apesar de que ela era alta e esguia. Os olhos pequenos a encaravam com atenção.
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A Primeira Imperatriz
Fiksi SejarahVicthana é escrava em um fazenda no sul do Brasil imperial, em 1880. Sobrevivendo a fome ao lado de sua mãe, nas senzalas, ela organiza uma fuga para o nordeste. Mas quanto mais ao norte, o dobro sofriam com a seca e as estiagens no sertão nordestin...