Capítulo 8
A Liberdade
O guarda Kaluanã, que ficara responsável pelos outros três guardas restantes depois que Tauã partiu para a capital com o Senhor Benedito, caminhou pelo corredor do casarão da fazenda após passar pela entrada, indo à procura de Joaquim.
O dia estava levemente abafado e o vento não era tão suficiente para o calor. As nuvens em tons de cinza e branco, cobriam o céu e dava uma esperança de chuva, ao menos no fim do dia. Mas, como no dia anterior, nada viera. Não era algo incomum nos dias de Kaluanã, já que, como guarda daquela fazenda desde que migrou com a família Villas para o nordeste, estava acostumado com o calor.
Recebeu bem a responsabilidade da regência que seu amigo, Tauã, lhe passou antes de partir. Já haviam se passado oito dias e desejou que eles pudessem voltar em segurança.
Arrumou a casaca e segurou o cabo de sua espada após saber de uma cozinheira que Joaquim estava na sala de jantar.
Ele estava sentado na cabeceira da mesa - onde, normalmente, era ocupada por Benedito – tomando seu café da manhã, mas o rosto estava coberto pelo jornal erguido a sua frente. Devia ser quase oito da manhã.
Kaluanã era mais um dos que haviam notado a mudança do sobrinho de seu Senhor. Não que fosse uma mudança negativa, pois, mesmo no poder, ainda parecia ser um jovem calmo, apesar de ter tido tanta confiança de seu tio.
— Licença, Senhor. — pediu Kaluanã ao entrar de fato na sala espaçosa. — Trago um comunicado.
— Diga, por favor. — Joaquim baixa o jornal da sua visão e o coloca sobre a mesa. Levando a mão a sua xícara de café para tomar um gole.
— Um guarda das fronteiras da província do Ceará disse que os Regentes Portugueses estão a caminho da capital. — disse, colocando as mãos para trás. — E, provavelmente, eles façam uma pausa em alguma fazenda.
— E somos a mais importante no limite da província. — resmungou alto, baixando seu café para dar uma última mordida no pão. — Droga. — levantou-se. — Ele te contou mais alguma coisa sobre o motivo da visita a província, Kaluanã?
Joaquim se aproximou do guarda e caminhou com ele para fora da sala, em direção a varanda do casarão.
— Não exatamente. — disse, lembrando da conversa que tivera com o guarda da fronteira, naquela manhã, ao nascer do sol. — Mas haviam cinco deles e disseram que estavam viajando há mais de duas semanas, vindo da província do Rio de Janeiro.
— Se estão vindo da capital do país devem ser, no máximo, um pouco importantes e com intenções. — disse Joaquim com um suspiro, esfregando as mãos. — Mas no mínimo seja apenas guardas arrogantes.
Kaluanã sorriu de lado e concordou mentalmente com aquelas palavras, enquanto chegavam à varanda e eram recebidos com o ar quente passeando ali.
— Bem, obrigado, guarda regente. — sorriu Joaquim para ele. — Todos estão bem lá? — perguntou olhando para o longe, as senzalas, os animais, as pequenas plantações e a pouca movimentação sob o sol que arrancava suor do chão, da areia avermelhada.
— Na medida do possível. — disse e observou a distância. — Quero dizer, água não faltou, o rio ainda se assemelha a uma nascente. A comida toda noite servida ainda durará, no máximo, duas semanas.
— Espero que meu tio consiga voltar o mais rápido possível. — disse baixo para Kaluanã.
— Também espero, Senhor.
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A Primeira Imperatriz
Ficción históricaVicthana é escrava em um fazenda no sul do Brasil imperial, em 1880. Sobrevivendo a fome ao lado de sua mãe, nas senzalas, ela organiza uma fuga para o nordeste. Mas quanto mais ao norte, o dobro sofriam com a seca e as estiagens no sertão nordestin...