Capítulo 12
O Preço da Liberdade
Os cavalos bufaram assustados quando Tauã e Benedito arrancaram em uma cavalgada rápida em direção a mata. O vento havia parado de farfalhar as folhas quando eles entraram noite a dentro pelas árvores e não pararam de cavalgar um só segundo por dez minutos seguidos.
Depois que saíram da área de mata, Tauã os guiou para um área de mata baixa que deu para uma estrada de capim ralo e mais uma colina.
— Vamos subir. — disse para Benedito. — Se tivermos sorte pode haver uma cidadezinha pequena em algum lugar nesta direção.
Eles subiram a colina longa em trotes pequenos e relaxados dos cavalos, depois da euforia da fuga ter passado, e Tauã ouviu novamente aquele som distante. Algo fazia lembrar aquele som. Era a direção que havia tomado com Benedito ao seu lado, sem saber para onde iriam, mas sabia que não havia algo errado em seguir aquele som. O vento agitou a mata atrás deles novamente.
E então, chegaram ao topo.
Tauã admirou a vista do mar e deu um longo suspiro.
O som distante que ouvira era aquele; o som do mar quebrando na praia. O cheiro, de maresia, era o cheiro daquele seu primeiro amor. O som era a melodia das vezes que se encontravam para treinar a vista do mar em um dia calorento. Era um som que reverberava por seus sonhos de um amor que nunca viveria, e o cheiro da lembrança de amar alguém.
Benedito vislumbrou o mar sob a luz do luar. As ondas quebrando suavemente; o som tranquilo do vento fazendo as folhas atrás deles e a frente, no barranco onde pararam, se mexerem com o próprio mar. Aves por dentre a noite completavam o clima agradável e a sensação de liberdade.
Por muito tempo, quando ao lado de seu irmão Thoumas, se perguntou como era a liberdade. Como os escravos enxergavam aquilo.
— Existem vários tipos de liberdade, meu irmão. — dissera Thoumas com um tom contemplativo. — A liberdade da mente; o que te aprisiona e te mantém refém do que você quer ou acredita. A liberdade de escolha; quando você não pode escolher ou decidir algo. Há também a liberdade do sentir; quando você ama algo e não tem medo de que vão te repreender por aquilo. Para cada uma existe um preço. — ele havia feito uma pausa para olhar pela varanda do segundo andar do prédio em que estavam observando o campo de areia avermelhada. — Esta liberdade, — indicou com a cabeça para o bando de escravos que passavam ali, levantando poeira, em direção as senzalas. — a independência deles, o preço de que estamos falando... — ele encarou o irmão Benedito ao seu lado. — O preço da liberdade é a morte. — disse e se foi.
Talvez a liberdade era simplesmente poder olhar uma vista como aquela sem ser impedido, preso ou morto.
Eles ficaram por alguns minutos a mais recebendo a brisa fria no rosto até o farfalhar das folhas sumir novamente, deixando aquele momento de contemplação de lado.
Tauã indicou lá embaixo e Benedito observou.
Havia mais mata no barranco em que seguia aos pés deles. O barranco daquele morro parecia ser dividido em dois, antes de chegar lá em baixo. No nível a duzentos metros para baixo, só havia mata de tamanho médio e algumas árvores frutíferas. Mais outros duzentos metros abaixo havia uma barranco menor e abaixo dele estava uma cidadezinha, e uma trilha em S pela encosta do barranco, descendo o morro, era o modo de chegar lá daquele ponto. Havia uma lagoa ao centro da cidade, e Tauã deduziu que, pelo nível da cidade, ele seria preenchido com a água do mar quando a maré estivesse cheia.
— Tomara que ainda estejam acordados. — disse Benedito e sorriu, ao observar algumas luzes baixas perdidas pelas casas da cidade. — E que possam nos receber.
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A Primeira Imperatriz
Historical FictionVicthana é escrava em um fazenda no sul do Brasil imperial, em 1880. Sobrevivendo a fome ao lado de sua mãe, nas senzalas, ela organiza uma fuga para o nordeste. Mas quanto mais ao norte, o dobro sofriam com a seca e as estiagens no sertão nordestin...