Capítulo 17
Conflito de Carvalho
A manhã havia chegado suave com aquele vento frio que ocorreu ao longo da semana. A maioria das pessoas se moviam nas senzalas; alguns iam para o rio, outros vinham em direção ao casarão.
O guarda Kaluanã olhou para o campo ao lado; o vento frio sibilando nas poucas folhas e nos galhos secos das árvores, os quatro cavalos restantes estavam sendo movidos do pasto para o estábulo lateral, onde havia o feno em sacos já que, mesmo sendo propicio ali, a seca tinha prejudicado a produção nas plantações que já haviam acabado.
Ele sentiu falta do guarda Tauã, que partiu com Benedito; eles eram bons amigos. Juntos tinham presenciado coisas naquela fazenda; o motivo do qual aquela já fora a mais importante antes de Thomas partir, há seis anos atrás. Reconhecia que Thoumas era um arrogante, até mesmo com sua família, mas não negaria que ele tinha uma ótima mente para lidar com situações, montar seus objetivos e fazer com que eles dessem certo.
Os imprevistos também devem ser planejados.
Kaluanã relembrou a fala do Senhor Thoumas para Senhor Benedito poucos dias antes de partir para a capital. Podia até arriscar que ele já sabia das coisas que poderiam vir a acontecer, mas o que importava era estar preparado para quando algo inesperado viesse a acontecer.
Por isso, quando ele ouviu o som do trotar de vários cavalos descendo a estrada vermelha em direção a fazenda, ele não se sentiu surpreso. Apenas apreensivo.
A poeira subia sob os pés dos cavalos e quanto mais desciam, mais o som se tornava alto, suficiente para tremer aquela terra seca. Conseguiu contar mais de trinta homens cavalgando atrás dos quatro mais imponentes a frente deles.
Kaluanã ergueu o corpo, levou a mão a boca fazendo com que sua voz fosse longe e ecoasse para as senzalas e ao casarão quando gritou:
— Os regentes!
Todos se agitaram. Quem estava nas senzalas passou a correr entre elas para depois vir em direção ao casarão em busca da proteção. Quem estava no casarão adentrou, tratando de fechar as janelas e as portas secundárias, as trancando com pedaços grossos de madeira por trás, assim evitariam caso algum deles quisessem entrar nos cômodos. A maioria dos homens corriam para o estabulo lateral do casarão e outros para os fundos, em direção ao quintal.
O grupo de cavaleiros parou antes da área das senzalas e os quatro regentes seguiram um pouco mais até o espaço entre o casarão e as senzalas. Os cavalos relincharam e a poeira baixou.
Kaluanã nunca viu aquele espaço de mais de cem metros ficar tão pequeno. Ele temeu; apenas por alguns instantes.
Ele ouviu as portas sendo abertas e Joaquim sair delas com uma expressão confusa; um misto de apreensão e dúvida, ao observar os regentes e os homens parados atrás deles. Observou ele caminhar em silêncio em direção ao estabulo lateral do casarão. Esperou um minuto até que viu sair montado em seu cavalo, indo em direção aos regentes, que esperavam. Percebeu ele engolir em seco quando passou a frente da varanda do casarão, e o jeito inseguro como segurava as rédeas de seu cavalo.
Joaquim estava surpreso. O misto de apreensão e curiosidade tomou conta dele quando ouviu o grito do guarda Kaluanã, além do medo. Muitas questões surgiram em sua cabeça e não quis procurar as respostas delas até encarar a situação.
A tensão fez seu corpo ficar mais ereto enquanto andava a cavalo, se aproximando dos regentes, observando os homens atrás deles. Joaquim engoliu em seco e observou cada expressão direcionada a ele, até que um deles se adiantou alguns passos a frente, deixando a distância de quinze metros entre eles.
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A Primeira Imperatriz
Historical FictionVicthana é escrava em um fazenda no sul do Brasil imperial, em 1880. Sobrevivendo a fome ao lado de sua mãe, nas senzalas, ela organiza uma fuga para o nordeste. Mas quanto mais ao norte, o dobro sofriam com a seca e as estiagens no sertão nordestin...