20: O Retorno Áspero

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Capítulo 20
O Retorno Áspero

Ele demorou muito tempo para encontrar um lugar ao qual pudesse chamar de lar; e passaram-se anos. Procurou seu lar em uma casa, em uma barraca, em um pedaço de terra e até no abraço de alguém; na falta do abraço de seus pais. Procurou lar em um amor nada provável e até na guerra, onde polia sua arma; a única coisa que era sua de verdade. Procurou lar até em si mesmo, mas ele não se pertencia entre tantos guardas iguais a ele; feitos apenas para servir.

Em todo esse tempo, passou longe de pertencer a qualquer coisa que tenha tentado. E quando parou de procurar, ele achou lar em uma amizade. Uma amizade em uma terra seca.

Retornar para o lar é bom. Retornar, para qualquer que fosse o lar, dava a sensação de pertencimento. Mas o lar dele já havia partido, não estava mais ali.

Seu retorno à aquela fazenda havia se tornado áspero.

Ele parou o cavalo na elevação seguinte, a última antes de descer a estrada vermelha que o levaria para a fazenda. Observou o céu; as nuvens se moviam lentamente com o vento, outras mais pesadas se demoravam mais, o que alertava a próxima chuva. O mesmo vento soprou suavemente a leve poeira que as duas carroças, carregadas com materiais, fizeram ao passar a sua frente, descendo a estrada. Lá ao fundo, no distante das montanhas, o sol iluminava a chuva leve que caía, e aquela cena lhe trouxe certo conforto. Descendo seu olhar sob a fazenda, todo aquela espaço pareceu movimentado de uma maneira diferente. Havia pessoas na plantação, homens carregando seus carrinhos de madeira, além de mulheres com as bacias na cabeça.

Ele suspirou, segurou as rédeas do cavalo e seguiu as carroças em um cavalgar suave e sem pressa. Chegaram na área de plantações e percebeu que os pequenos montes, indicando novas plantações; eles estavam prontos para o período que retornara com a chuva. Do outro lado das plantações, os homens trabalhavam agachados, cuidando dos novos plantios. As carroças desviaram a estrada e foram em direção as senzalas, percebendo agora que haviam derrubado algumas delas e estavam dando lugar a uma construção maior. Homens e mulheres trabalhavam na construção.

Seu cavalgar diminuiu ao ficar observando aquilo e as plantações a frente, mal percebendo que estava diante de dois homens a cavalo, com suas espadas em punho. Ele puxou rapidamente as rédeas do cavalo e o animal bufou, parando.

— Indo para o sul, senhor? — perguntou um dos homens.

— Não. — disse, engoliu em seco. — Eu sou um dos guardas daqui.

Os homens se entreolharam e deram de ombros. Ele percebeu que estava totalmente sem postura alguma de guarda. A fome e a sede o fizeram esquecer o quão desajeitado estava.

— Qual seu nome?

— Tauã. — disse, rapidamente. — Guarda Tauã. Eu parti com Benedito há meses atrás.

Tauã percebeu o rosto dos homens se iluminarem com a lembrança. Mas ele olhou para além deles e viu um outro homem a cavalo, se aproximando deles.

— Tauã? — alguém perguntou ao se aproximar entre os dois homens que deram lugar a ele. — Não consigo acreditar!

— Kaluanã.

Conseguiu dizer e desceu de imediato do cavalo, assim como fizera Kaluanã e se jogou em um abraço ao seu amigo. Tauã o agarrou forte, como um velho amigo faria, esquecendo que o dever de guarda vinha primeiro e eles não deveriam ter aquele abraço em público. Mas Kaluanã não ligou para isso, e ligou menos ainda pela sujeira do amigo.

Ao se afastar, Kaluanã segurou o rosto de Tauã, roçando os dedos grossos pela barba fina e de pouquíssimo volume que ele tinha; nunca tivera barba e era até motivo de piada quando se juntavam aos outros para raspá-las.

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⏰ Última atualização: Jun 29 ⏰

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