46- Antes do impacto

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Olhei para a parede a minha frente. O tom rosa escuro que escolhi com ajuda de Amanda numa memória tão boa, de repente, me parecia triste demais.

Pisquei.

Senti o peso do cobertor em meus ombros e o tecido tocando meus braços levemente. Sabia que era Harry, mas não queria virar para olhá-lo, não conseguia.

Pisquei.

- Veronica está aqui. – ele disse – Ela quer conversar com você.

Pisquei.

O sofá não parecia mais confortável como era no dia anterior, nem seguro, nada parecia. Eu sequer lembrava do caminho do meu quarto até ali. Andar pelo corredor, descer as escadas, sentar no sofá. Teria Harry me guiado?

Escutei meu nome ao fundo e ergui os olhos, Amanda, Ve e Harry me observavam de braços cruzados, sobrancelhas tensionadas. Pena, apreensão. Não era bom, mas nenhum pensamento meu durava mais de 3 segundos, então não consegui refletir muito sobre como eu me sentia com aquela reação.

Os lábios da minha empresária começaram a se mover lentamente, os sons chegavam até mim e me atravessavam, não conseguia decifrar nenhum deles. Eu estava cansada, não me lembrava de ter dormido na noite anterior, pouco me lembrava desde que entrei no carro.

Pisquei.

Eu me sentia entorpecida, dormente, flashes atingindo minha mente devagar. Questionando o que eu poderia ter feito para mudar tudo aquilo. Levantei minha mão para tocar minha bochecha, ainda dolorida. Droga.

Pisquei.

- Olha isso, Ve! – Harry disse com certa exaltação. – Você acha isso ok? – ele enfatizou puxando o cobertor do meu braço.

Pude ver o espanto no rosto de Veronica enquanto Amanda virava rosto, provavelmente esgotada de ver o hematoma na minha pele.

Fechei os olhos dessa vez e fiquei. Tentando conter a ardência e impedindo as lágrimas de escorrerem novamente.

- Jade. – ouvi Veronica dizer.

Abri os olhos devagar, com Harry sentado meu lado dessa vez. Amanda atrás do sofá com suas mãos em meus cabelos e minha empresária ajoelhada aos meus pés.

- Acionei os advogados e a polícia. – ela disse séria. – Isso não vai ficar assim.

- O que? – questionei, sentindo o desespero tomar conta da apatia – Polícia? Não.

Minha respiração acelerou, fora do meu controle, minha visão embaçada me trazia agonia, ao passo que eu também não tinha forças para me por de pé e tentar conter aquilo. Harry tocou meu ombro e eu me virei assustada em sua direção, ele imediatamente recuou. Eu estava desconectada com a realidade, mas no momento eu não sabia e não tinha nada para me trazer de volta. E toda a escuridão saiu de dentro de mim e me cobriu.

Eu apaguei.

♡ ♡ ♡

Acordei naquela segunda-feira na casa de Harry, depois da confraternização familiar, com as luzes entrando no quarto. Esfreguei um pouco os olhos, tirando as remelas que aumentavam a vontade de deixar meus olhos bem fechados. Eu não tinha ideia do horário, mas meu dia não estava livre e eu sabia que não poderia ficar ali por tanto tempo.

Harry também sabia, e por isso me puxou contra seu corpo num abraço apertado. Eu dei uma risada e pude ouvir ele resmungar em resposta, expressando seu desejo de ficar ali o dia todo. Mas eu não podia e ele também não.

Aimlessly |H.S|Onde histórias criam vida. Descubra agora