18- Regras e limites

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Abro os olhos com dificuldade assim que o alarme soa escandaloso pelo quarto, me fazendo contorcer para alcançar o telefone. Volto para a posição anterior e encaro o teto respirando fundo ao sentir os olhos pesados e inchados, mas eu já estava acostumada. Haviam sete dias desde a ligação trágica no pub, sete dias que eu chorava até pegar no sono, sem exceções, porém era o primeiro dia que tive que acordar cedo, então a sensação era muito pior, potencializada pelo sono.

Iniciando o meu oitavo dia solteira depois de 1 ano e 3 meses namorando, começava também os ensaios do filme. Eu havia recebido o roteiro na manhã seguinte ao Happy Hour com a equipe e eu intercalava meu tempo entre ler, memorizar, chorar... e repetir. Rodrigo ignorou qualquer tentativa de contato e por mais que eu tentasse, não conseguia parar de pensar nele e na possibilidade de tudo aquilo ser uma mentira e em que algum momento ele atenderia minhas chamadas e diria que está tudo bem e que nós estávamos juntos. Afinal, ele disse "um tempo", não disse?

Fui até o banheiro e me encarei no espelho vendo a imagem cansada e triste, antes de tomar um banho para ficar levemente mais apresentável para o dia longo que estava por vir. Depois de arrumada me dirigi até a cozinha, encontrando Ian apoiado no balcão mexendo em seu celular, ele já havia voltado a trabalhar e combinamos de ir juntos para o estúdio assim que meus ensaios começassem.

- Bom dia. – digo tentando parecer animada, indo até o filtro e enchendo um copo para mim.

- Bom dia. – ele levanta os olhos do celular e o coloca na bancada – Está bem?

- Sim. – dou um leve sorriso, ele sabe que eu minto, mas não contesta – E você?

- Bem também. Está pronta? – assinto e bebo a água do meu copo – Então vamos.

Deixo o copo na pia e o sigo para fora do apartamento, entramos no elevador e ficamos em silêncio, assim como todo o caminho até o estúdio. Ian e eu estávamos em uma situação estranha, não estava um clima ruim, com rancor ou raiva, mas não estávamos em termos habituais. Eu havia contado para ele sobre Rodrigo na volta para casa naquele dia, mas de forma muito superficial e desde então nada. Eu tinha ficado em silêncio quase absoluto nos últimos dias, uma vez que eu chorava só de pensar no assunto, quem dirá falar sobre, então tomei a decisão de não exteriorizar aquela bomba de sentimentos depressivos.

Entro no meu trailer e Amanda já está lá sentada na mesa com seus papéis, deixo minha bolsa no banco acolchoado e me sento.

- Ei Jade! – ela diz radiante.

- Oi Amanda! Tudo bem? – disse no meu tom mais animado.

- Estou bem e você?

- Tudo tranquilo. – digo dando de ombros – Trouxe algumas roupas e outras coisas para deixar aqui de uma vez.

- Ótimo! – ela exclama – Lá no quarto tem um armário caso já queira arrumar alguma coisa. Ainda temos tempo antes do seu primeiro ensaio.

Levanto e vou até o pequeno quarto no fundo do trailer e levo a bolsa com minhas roupas, começo a tirar uma por uma e acomodo na pequena mobília que tem ali. Ela tinha três prateleiras e um pequeno espaço com alguns cabides, mas foi o suficiente para caber as poucas peças que levei. Assim que finalizo deixo minha nécessaire com meus itens de higiene pessoal no banheiro ao lado do quarto e volto para onde Amanda estava.

- Então... – ela diz hesitante quando sento novamente – Onde você se enfiou na quarta?

- Como assim? Estava no pub com vocês. – digo e puxo minhas pernas para cima do banco.

- É. Estava. Então você sumiu, logo depois Harry sumiu também. Mas tivemos que ir embora e deixamos seu amigo Ian sozinho lá, esperando que vocês aparecessem. – ela diz – Aconteceu algo que queira me contar? – ela levanta as sobrancelhas sugestiva e seu tom malicioso entrega todas suas suposições.

Aimlessly |H.S|Onde histórias criam vida. Descubra agora