40- Reciprocidade

1K 78 132
                                    

Me joguei na cadeira e olhei pela janela, soltando o ar com força. Ajeitei jaqueta, os fones de ouvido e me acomodei no meu cubículo, me preparando para as 5 horas e meia de vôo.

Nova Iorque que parecia um perfeito sonho distante, agora era só uma pilha de nervos para mim.

Olhar para Connor me dava arrepios, eu não sabia exatamente o que fazer ou como tratá-lo. Eu não podia simplesmente o acusar de se aproveitar de mim, em qualquer nível, mas tampouco podia tratar ele mal, o afastando propriamente, porque eu não queria irritá-lo.

Meu emprego estava em jogo.

Afinal, além de ser só uma atriz de primeira viagem, eu era uma latina, e pior, brasileira. Os americanos me viam de duas formas: uma trabalhadora preguiçosa ou uma mulher sexualizada, o que era excelente quando se tratava do mundo corporativo, mesmo que de entretenimento. Capte a ironia.

Quando eu sai do estúdio na sexta-feira, tudo que eu queria era não ter que ver nem a sombra do meu diretor. Mas não duraria para sempre, já que ele estava nos esperando num hotel 5 estrelas da Times Square.

Harry era outra incógnita. Ele havia me defendido com unhas e dentes aparentemente, já que ele e Connor estavam se estranhando desde o fim do ensaio. Sem sorrisos, abraços calorosos e piadas constantes como geralmente eles se tratavam.

Só que aquilo não nos deixava bem. Ele só estava sendo correto, é o que ele faria por qualquer um, porque Harry Styles era assim. Ele era verdadeiramente bom. Ele se importava e acreditava que atitudes bondosas geravam uma cadeia de resultados positivos, o que deixava impossível a tarefa de não gostar dele.

E vendo ele sentado com Liz no conjunto de cadeiras na diagonal da frente, rindo junto com ela, não gostar dele era tudo que eu mais queria.

Amanda segurou minha mão e a apertou de leve com um sorriso encorajador, como se quisesse me dizer que ia passar e que eu ia ficar bem. A vontade de chorar ali mesmo me consumiu, mas eu segurei, apenas assentindo e virando pra janela.

Harry e Liz estavam evitando afeto direto publicamente, talvez ele não quisesse expor seu relacionamento para mídia. Ele já tinha falado sobre isso comigo, que quando caia nos tabloides, tudo começava a se desmanchar. Pessoas duvidando que qualquer relacionamento dele podia ser real por causa de Larry – o que eu descobri ser uma teoria muito forte entre fãs –, perguntas sobre sua sexualidade voltavam a pipocar e assim, sua paz ia embora.

Eu achava que era uma boa escolha, proteger o que se considera valioso.

Logo depois da decolagem eu decidi ajeitar a cadeira da primeira classe para dormir. Amanda disse que iria ficar acordada e fez cafuné em mim, como uma mãe, até que eu pegasse no sono. Eu adormeci segurando sua mão, que mesmo gelada, me dava conforto no meio de todos meus incômodos.

Quando acordei eu não tinha menor ideia do horário, mas ainda estava com sono, então apenas resmunguei de leve. Procurei a mão de minha amiga, encontrando-a facilmente, agora quente e inchada, provavelmente pela longa duração do vôo.

Ela me aceitou imediatamente e a cariciou de leve. Entretanto, assim que entrelacei os dedos nos dela, senti os infinitos anéis ali presentes, então percebi como o tamanho daquela mão era completamente incoerente, causando a me levantar de uma vez.

Os olhos verdes me encaravam impassíveis, numa expressão quase apática. Ele não parecia assustado como eu estava, nem ao mesmo envergonhado, me fazendo pensar que meu estado de sonolência criou uma miragem na qual ele aceitava minha mão de bom grado, deixando ainda um carinho sobre ela.

Desconfortável com sua encarada, dei uma pigarreada e me ajeitei na poltrona.

- Desculpa. Achei que era a Amanda.

Aimlessly |H.S|Onde histórias criam vida. Descubra agora