38- Ato falho

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Domingo é um dia naturalmente depressivo. Mas aquele foi diferente.

Acordei com a luz entrando no meu quarto e a dor de cabeça era longe de ser apenas ressaca. Fiquei encarando o teto branco por um tempo que eu não saberia contabilizar, não movi um músculo até meu celular vibrar diversas vezes na cabeceira.

Algo dentro de mim pediu para que fosse Harry e que a gente resolvesse aquela discussão, mas parte de mim sentia que era melhor que fosse assim. Se voltássemos a ser amigos, eu continuaria o tratando de um jeito que ele não merecia.

Eu queria sentir pena de mim mesma, queria me fazer de vítima e acreditar que eu havia sido injustiçada por que Harry tinha sido um ogro por nada. Ele foi um idiota. Mas um idiota muito coerente.

E quem eu queria enganar além de mim mesma?

Por mais que eu quisesse com todo meu coração acreditar que fiz certo, eu sabia que não. E esse era um dos erros que eu precisava superar, compreender que eu estraguei tudo e aceitar as consequências da minha escolha, como o próprio Gregg disse.

Eu abri mão de tentar me envolver com Harry e a forma que tentei afastá-lo gerou sequelas que eu teria que aceitar. Se me escolher significava não ter Harry de qualquer forma, eu precisava conviver com aquilo, por mais que doesse, por mais que esvaziasse meu peito.

Eu não devia ter tratado Harry daquele jeito em primeiro lugar, mas agora que já estava feito. Eu poderia pedir desculpas por ter sido a maior idiota do planeta e me corroer de dentro pra fora vendo ele se apaixonando por outra pessoa ou aceitar que não era pra ser e ter nossa amizade apenas como uma memória linda.

Eu escolhi a opção dois.

Eu até teria a opção três: dizer a verdade. Era a mais sensata da todas, mas requereria uma coragem a qual eu não possuía.

Então eu ia viver com isso.

O nome de Amanda aparecia repetidas vezes na minha tela, perguntando o que houve e porque eu fui embora antes de beber o vinho que Harry comprou para mim. Que Harry comprou pra mim. Ao ler a mensagem minha cabeça girou um pouco, fechei os olhos e respirei fundo, a sequência de fatos me deixando mais confusa ainda.

Ele bravo comigo na cozinha, ele sai e me compra um vinho, depois volta pra discutir comigo. Eu poderia ter feito tudo errado, o que era um fato, mas quem comprou a briga foi ele, depois de espontaneamente comprar um vinho pra mim.

Jade: Você estava muito ocupada bêbada na cozinha, mas eu e ele brigamos.

Amanda: Brigaram porque?

Jade: Porque eu sou ridícula. É por isso.

Amanda: O que você fez?

Jade: Ah, eu meio que ignorei ele depois dele fazer muito contato físico, ele não gostou e achou estranho, mas eu disse que não era nada.

Jade: Depois eu neguei sua ajuda pra abrir meu vinho, mas quando Gregg ofereceu eu aceitei.

Jade: Quando vocês voltaram da loja de conveniência, ele usou um comentário solto meu para dizer que sou boa em fugir das coisas.

Amanda: O que é verdade.

Bufei. Cansada de reafirmar aquilo de diversas formas.

Jade: Sim, eu sou ótima nisso.

Jade: Enfim, ele foi bem grosseiro, fui grosseira de volta, fiquei chateada. Fui embora.

Amanda: Que estranho.

Aimlessly |H.S|Onde histórias criam vida. Descubra agora