5- Graduada

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Parte dois

Soltei uma risada forte e sincera quando abracei Rodrigo sem soltar a câmera, as lágrimas chegaram aos meus olhos, mas não escorreram. Me afastei levemente para encarar seus olhos e dei um beijo breve em seus lábios, quando nos soltamos ele pegou o capelo e o jogou pra cima e pegando logo em seguida.

- Tenho uma surpresa pra você. – ele sorriu – Me da essa câmera tenho que filmar sua reação. – olhei para meu namorado completamente desconfiada, mas acabei cedendo ao seu pedido.

Fiquei olhando pra ele confusa enquanto ele olhava para trás de mim sorrindo e fazendo gestos, me segurava para não me virar, só não o fiz porque Rodrigo implorou para tal. Eu soltava risos de nervoso, apertando com força as mangas da beca que era estranhamente confortável. Senti mãos cobrirem meus olhos.

- Mãe? Pai? – perguntei.

- Não mesmo – Rodrigo respondeu.

As mãos desceram para meus ombros, e ao ser virada rapidamente, Ian entrou na minha visão. Dei um grito rápido em choque, faziam exatamente 3 anos que eu não o via pessoalmente, desde que ele aceitou a proposta de emprego e foi para Los Angeles seguir seu sonho. A gente se falava por mensagens nas redes sociais e ele acompanhava meu canal que cresceu mais do que o esperado durante meus anos de faculdade, atingindo há 2 meses 3 milhões de inscritos.

- Não acredito que você está aqui – dessa vez permiti as lágrimas escorrerem. Abracei Ian com muita força e ele me tirou levemente do chão.

- Eu nunca perderia você numa beca, você finalmente é uma administradora! – ele disse no meu ouvido – Você precisa me explicar como conheceu esse GA-TO que é seu namorado.

- Juro que vou! – garanti assim que o soltei.

Peguei a câmera das mãos do Rodrigo que ainda filmava, puxei-os para perto e finalizei o vídeo. Desliguei a câmera e coloquei na bolsa que estava comigo. Ficamos mais alguns minutos no teatro, conversando com meus pais, meu irmão, minhas amigas e companheiras de faculdade.

Nostalgia e sensação de missão cumprida preenchia o ambiente. O que será de mim agora? Era tudo que eu conseguia pensar. Me peguei olhando a roda da conversa completamente distraída, porém muito feliz por ter essas pessoas na minha vida. Quando o auditório estava quase vazio nos separamos para ir para uma pizzaria, onde comemoraríamos o fim dessa jornada e compartilharíamos planos para as próximas.

• • •

Horas mais tarde, me joguei na cama do meu quarto com Ian ao meu lado, o plano inicial era que Rodrigo dormisse comigo aquela noite, mas ele entendeu perfeitamente que eu tinha muito a atualizar com meu melhor amigo.

- Na balada, – respondi distraída e apaixonada – ele me salvou aquele dia.

- Então ele é mesmo um príncipe perfeito. Ele te encontrou na balada, muito bêbada e sozinha, te levou para casa em segurança e não se aproveitou de você em nenhum momento?

- Sim. – suspirei sorrindo e me virei na cama para encarar Ian olhando o teto do meu quarto – Depois ele me mandou uma mensagem para ter certeza que eu estava bem, e não paramos mais de conversar. Ficamos por 6 meses, durante meu 6º período, e estamos namorando há 1 ano. – coloquei a mão em seus cabelos escuros e muito maiores agora – Senti muitas saudades.

- Eu também, Jade. Ou melhor Jade Loren. – rimos.

Jogamos conversa fora e contamos histórias sobre os últimos 3 anos. Ele sobre suas participações em filmes e séries e como ele se tornou assistente de consultor de um estúdio de gravações bem grande em LA, e eu sobre meu canal, pessoas que conheci, pessoas com quem gravei e as festas de faculdade.

Eu e Laura nunca imaginamos que as coisas tomariam essas proporções, quem diria que trocaríamos o quarto dela por uma sala em um coworking, que teríamos um editor, um auxiliar audiovisual e que ela atualmente estaria cuidando do meu marketing, – algo que ela descobriu gostar muito na faculdade – negociações para eu participar de eventos, organização de festas (como a de 1 milhão de inscritos) e outras questões administrativas. Sem contar que dava um dinheiro bom, ótimo na verdade.

Acordamos na manhã seguinte e demos uma boa volta pela cidade para Ian matar toda a saudade que ele estava. Depois do almoço voltamos para o meu apartamento que eu ainda dividia com Pedro, e sentei no sofá com meu computador para resolver umas coisas do meu trabalho e meu amigo assistia qualquer série repetida na TV.

- Sabe que até dos tiroteios eu senti falta.

- Ah claro que sentiu, logo você que já foi assaltado um milhão de vezes. – ri e ele me olhou emburrado.

- Você tá estragando a minha romantização do Rio de Janeiro.

- Ok. Me desculpa.

Continuei fazendo minhas coisas e assim que terminei ficamos o dia inteiro assistindo filmes. Quando Ian escolhia o 4º filme da noite, eu fui até a cozinha e coloquei pipoca no microondas, sentei no balcão e fiquei observando os cartazes de filmes que passavam na tela com intenção de achar um que me interessasse.

- Mana... – ele disse, ainda mexendo no Netflix.
- Fala mana.

- E o Harry? – ele perguntou.

Franzi levemente as sobrancelhas, eu pensei tão pouco nessa história nos últimos anos que me toquei que constantemente eu esquecia que ela aconteceu. De todas as coisas que já vivi, essa era a história mais sem noção e que ninguém nunca soube além de nós dois e claro, Harry. Mas Ian via de outra forma, era a história favorita dele e ele nunca entendeu, porque escondi isso de todo mundo. De fato, a maioria das pessoas gostaria que explanar que conheceu uma estrela internacional, eu até contaria para meus amigos mais próximos e riria sobre. Entretanto, essa história nunca deixou de ser levemente traumática, talvez seja um complexo de inferioridade que Harry conseguiu acessar, mas mesmo não sendo nada demais eu me senti humilhada por muito tempo e a voz de Harry Styles rodou na minha cabeça diversas vezes naquela época. Eu só me lembrava daquele dia como o dia que um cantor internacional e incrivelmente lindo de certa forma disse que eu nunca seria uma opção para ele. É infantil e descomedido, eu entendo, mas só não consigo evitar.

- O que que tem? – perguntei, já rindo, tentando ver aquele dia como uma situação engraçada.

- Ele nunca te recompensou?

- Claro que não. – dei de ombros – Ele nem deve lembrar de nada. – adicionei e logo após isso o apito do microondas soou. Despejei a pipoca numa grande bacia e voltei para o sofá vendo a página do filme "Para todos os garotos que já amei" aberta. – Porque a pergunta?

- Curiosidade. – ele disse simplesmente, dando de ombros – Eu realmente achei que ele ia entrar em contato.

- Sinto muito, – ri – de repente ele não foi com a minha cara mesmo.

- É... – ele deu play no filme e não falamos mais disso.

Após algumas horas, nós nem prestávamos mais atenção nos filmes, conversávamos e ríamos com as falas de plano de fundo. Eu realmente sentia falta do Ian todos os dias, e não me toquei o quão forte era até passar mais tempo com ele novamente.

- E aí? Já contou pra ela o real motivo de você estar aqui? – Rodrigo adentra meu apartamento, me assustando mais que o devido.

- Que susto, menino. – eu disse, virando pra ele com os olhos esbugalhados, ele riu e veio até mim me dando um selinho.

- Então? – ele se virou pra Ian. Eu, curiosa, olhei imediatamente para meu amigo que balançava a cabeça freneticamente com um olhar matador.

- O que? – eu perguntei. Sem respostas. – O que que foi? – levantei a voz sentindo o desespero.

- Tá vendo. – Ian levantou do sofá – Eu disse que ia te avisar quando contasse pra você vir aqui. – ele apontou pra Rodrigo.

- Foi mal. – a voz do meu namorado era baixa.

- Não conversem como se eu não tivesse aqui. – eu reclamei, ansiosa demais pra ao menos avaliar opções do que poderia ser. Me levantei do sofá, virando para Ian – O que está acontecendo? Por que você tá aqui?

Aimlessly |H.S|Onde histórias criam vida. Descubra agora