39- Orgulho e Preconceito

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Esse capítulo contém cenas que podem ser um gatilho.

A semana foi um caos. Em todos os sentidos possíveis.

Fui presenteada com diversas cenas com Harry, das quais tive que me empenhar para administrar emocionalmente. Diversas vezes, quando escutávamos o "corta" dávamos um passo generoso na direção oposta do outro. Eu fazia o máximo para parecer casual e despreocupada, pegando o texto para ler, ou brincando com alguma coisa do cenário.

Mas dava para ver há quilômetros de distância o desconforto estampado na nossa cara.

Liz ficou impressionantemente mais próxima e simpática, soltando comentários "casuais" que eram claras tentativas de jogar verde e colher maduro em cima da minha relação crisenta com Harry. Talvez ela ficasse confortável com a minha existência desde que eu não fosse amiga do namorado dela.

Relaxa Liz. Não sou uma ameaça.

Outro fator contribuinte para a confusão era a minha mudança com Amanda. As coisas dela já estavam no apartamento e ela estava dormindo num colchão de ar no chão enquanto nossas camas não chegavam. As minhas coisas estavam indo em pequenas viagens, afinal eu não tinha nada além de duas malas cheias de roupas, alguns acessórios e poucas tralhas.

Eu não pude me mudar de uma vez, já que eu teria que dormir em pé como um cavalo, ou jogada no chão. E isso me fez pensar em como montar um apartamento do zero era impossível, tendo em vista que não tínhamos nada além de chuveiros, torneiras e vasos sanitários instalados. E claro, o colchão de Amanda.

Com exceção da cama, que era o básico para eu viver lá diariamente, eu não havia comprado nada e eu sequer tinha toalhas. Amanda estava comprando o básico de comida para sobrevivência dela, ela tinha a TV do apartamento dela, mas não tínhamos TV a cabo nem internet, ou seja, ela baixava séries e filmes com o Wi-Fi do estúdio e era assim que ela se entretinha.

Eu passei a semana fazendo uma lista de coisas que eu precisava comprar para o apartamento, mas ela não parecia ter fim. Quando eu achava que estava completa, eu lembrava de alguma atividade ou cômodo que eu precisava preencher e aí estavam pelo menos mais 10 itens.

Eis um exemplo: você precisa fazer uma refeição. Você não precisa de uma panela e de uma colher. Você precisa de no mínimo três panelas, muitos talheres, um fogão, talvez um ralador, sem contar a louça para comer depois.

Enfim, pelo menos minha mente estava tão ocupada com coisas de casa que não tinha nem um espaço para Harry. Eu nem saberia descrever mais como eu me sentia. Ao mesmo tempo que eu estava triste, eu estava com um ciúmes irritante, que causava raiva e vontade socar alguém.

Oh! Socador de alho, preciso colocar na lista.

Como eu estava saindo de um cenário e indo a caminho do palco 29, estava sem meu planner, então saquei o celular e abri o bloco de notas para adicionar o novo item na lista provisória que tinha ali. Amanda, sentada na parte de trás do carrinho de golf comigo, se inclinou para ver o que eu estava escrevendo.

- Você colocou as coisas que te mandei? – ela perguntou e eu assenti em resposta – Já parou pra pensar como a gente banaliza coisas muito importantes que só parecem substituíveis?

- Sim! – eu disse enfática, feliz por ela me entender.

- Já parou para pensar o quão indispensável é uma frigideira?

Murchei na sua fala. Eu nunca pensei em frigideira como algo substituível.

- Frigideira, Amanda? – perguntei, com tédio – Você esqueceu da frigideira?

Aimlessly |H.S|Onde histórias criam vida. Descubra agora