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Eu esperava que a qualquer momento meus pais ou Nancy entrassem pela porta do quarto e vissem minha testa daquele jeito.

Não sei que desculpa teria que dar para uma testa sangrando da noite para o dia, porém teria que inventar alguma coisa. O espelho exibia meu reflexo e o de Sadie lá trás, que parecia preocupada.

- Está preocupada comigo ou com a reação dos dois quando descobrirem?

Esperei uma resposta com sua voz, mas ao invés disso, o tablet foi pego.

"Não com você porque esse arranhãozinho não vai fazer mal nenhum. Estou preocupada mesmo em que desculpa dar, pois seus pais sabem o quanto você é burra e se esbarria fácil em algum lugar, mas e quanto a mim? Por que eu não estava olhando a criança de dois anos?"

- Isso só aconteceu porque você me pegou no colo sem eu pedir - Falei. - Não era mais fácil simplesmente ter me pedido para andar até lá fora?

"Você nunca iria, só traria estresse."

- E o que te faz pensar isso?

"Está claro que você se importa com a opinião daquele garoto, principalmente porque ele foi o motivo para eu estar aqui nesse exato momento, então com certeza se eu não tivesse tirado você dali, acabaria indo atrás dele."

- Eu não me importo com a opinião dele.

"E eu gosto de usar essa máscara, já que estamos falando apenas mentiras."

- Então tira, qual é o problema? Eu já te vi sem ela e escutei sua voz, por que isso importa?

O tablet foi desligado, ela não iria responder.

Depois de finalmente parar de revirar a caixinha com o kit de primeiros socorros, Sadie se levanta e coloca meu rosto para cima brutalmente.

- Cacete, era só pedir por favor - Reclamo. - É verdade, você não fala.

Mas não tenho uma reação negativa ou qualquer outra, já que ela parece concentrada apenas nesse corte.

- Está bem, acho que sei o que fazer - Falei, e seu olhar se dirigiu ao meu por um pequeno instante. - Eu cai da escada. Simples.

Ela revirou os olhos.

- É uma boa ideia, pode parar de me criticar ao menos uma vez? Pensa só, você poderia estar no banheiro ou em qualquer outro lugar achando que eu estava dormindo, mas fui atacar a geladeira e acabei caindo.

- Ideia idiota - Suspirou. - Espero que ao menos funcione.

- Então vamos executar?

Sadie assentiu.

- Qual é o problema de falar? As vezes você consegue ser irritante.

As vezes, já que eu estou agradecida pelo que ela fez por mim na festa, mas não pretendo dizer.

[...]

- ...E é por isso que consegui esse corte.

Meu pai me olhou entediado, mas minha mãe tinha um claro olhar de reprovação.

- Atacando a geladeira no meio da madrugada? - Falou. - Espero que não seja para comer aquelas besteiras que você insiste em comprar, já que está quatro números maior.

Eu odeio quando ela faz isso. É como se fosse uma das suas maiores desculpas para me fazer ficar igual a si mesma.

Ela quer olhar para mim e vê-la ali, como se fosse um espelho.

- E você acha que era o que? Eu desci no meio da madrugada para comer aquelas coisas horríveis que você compra?

- Coisas horríveis? Coisas horríveis são as que você pede todos os dias para o seu "lanchinho da meia noite" - Fez aspas.

- Pelo menos parece uma comida de gente normal.

- Estou querendo te tornar uma pessoa bonita, olha só como esse uniforme fica ridículo em você quando está sem seu blazer por cima - Ela vem até mim e passa as mãos por ele. - O que isso?

- Não é na...

- Cigarro? - Falou escandalosamente. - Olhe o que sua filha está fazendo, Arthur.

Levar um tapa na cara é uma sensação estranha, e eu espero não sentir nunca mais.

- Isso é um absurdo - Ele se levantou e ficou ao lado da minha mãe. - Daqui a pouco você vira o que? uma drogada?

- E se eu for? - Provoco, mesmo sabendo que não é verdade. - E se eu nunca conseguir ser a filha perfeita dos Brown? E se a filha deles fosse reconhecida pela desgraça da família?

Olho para o relógio na mesa de centro e então percebo que preciso ir. Em certa parte, isso foi um alívio.

Bato a porta do carro com força, Sadie revira os olhos.

- O que foi? É só a porra de um carro.

Liguei o som do carro e durante o caminho acabávamos fazendo uma certa competição para aumentar ou abaixar o som, mas ele sempre acabava mais baixo.

A frente do colégio estava vazia, já que uma forte chuva caía lá fora.

- Vamos esperar passar. - Falei, mas foi em vão, já que Sadie me puxou do carro.

Fechei o carro enquanto andava lentamente até dentro do edifício, sentindo a água escorrer pelo meu rosto e minhas mãos.

A cafeteria, por outro lado, estava lotada de pessoas comprando café ou chocolate quente.

- Um capuccino, por favor? - Falei assim que me encosto no caixa. - Vai querer alguma coisa? - Pergunto para Sadie.

Ela apontou para uma garrafa de água.

- Tem no bebedouro, não vou dar três dólares sendo que tem de graça.

Pego a carteira quase vazia e coloco meu cartão na maquineta, esperando liberar.

- Foi recusado. - A atendente falou.

- Como assim? - Tiro e coloco outro.

- Recusado - Ela disse, entediada. - É sério que você não tem cinco dólares?

Algumas pessoas na fila atrás de mim começavam a cochichar, então comecei um loop maluco de colocar e tirar o cartão dentro da maquineta.

- Cartão estúpido. - Murmurei enquanto sentia meus olhos marejarem.

- Dá pra ir logo? - Alguém atrás de mim falou.

- Merda de cartão - Começo a fazer a mesma coisa, mas com o outro dessa vez. - Cacete, que merda.

A essa altura, eu deveria ter parado quando foi recusado, mas só fiz isso quando ele quebrou ao meio nas minhas mãos.

- PORRA. - Empurro a maquineta para trás e coloco as mãos no meu rosto enquanto faço meu caminho até o banheiro.

Passo pela multidão de garotas se olhando no espelho e entro em uma das cabines.

Tampo minha boca com as duas mãos enquanto lágrimas escorrem em todo meu rosto, se misturando com a água da chuva.

Junto meus joelhos e apoio minha cabeça neles, enquanto tento me afastar da porta, evitando que me vissem sentada no chão.

Olho por debaixo da porta por um instante e reconheço os sapatos pretos de Sadie, que eram rasgados na frente. Ela caminha pelo corredor lentamente e então entra na cabine ao meu lado.

Não demora muito, e logo seu corpo está passando pela abertura entre as cabines.

- Sadie, o chão... Isso é um banheiro.

Mas ela não liga, e logo está sentada de frente para mim.

Viro meu rosto para o lado, limpando ele.

- O que você está fazendo aqui? - Pergunto com a voz baixa.

Foi então que ela segurou minha mão e ficou lá, em dizer nada.

- O que é isso? - Aponto para as nossas mãos.

Ela deu ombros.

Ontem eu estava odiando uma garota chamada Sadie Sink, contratada para me seguir de um lado para o outro.

E hoje eu estou de mãos dadas com ela enquanto nos olhamos fixamente, sentadas no chão de um banheiro.

Killer • SillieOnde histórias criam vida. Descubra agora