Killer • Sillie

- 15

Eu tenho tantas perguntas.

Fico encarando Sadie sentada naquele sofá, com os olhos focados para a televisão.

- Por que me querem morta?

- Quer perguntar ao Ryan? Eu trago ele aqui, aí você fica sabendo da resposta e morre depois.

- E você também morre, já que traiu eles, não é? - Suspirei, tentando me manter o mais calma possível. - Se você realmente não matou meus pais... Então por que me trouxe aqui?

- Eu não sei os motivos dele, só faço o que manda.

- Matar é divertido? Você acha tirar a vida de alguém uma diversão?

- Já disse que não tive escolha.

- Então para de mentira, foi você que os matou.

- Quer a verdade? Eu estou cansada pra caralho - Ela se levantou. - Acha que eu trato isso como uma diversão? A liberdade viria para mim quando eu matasse você. Foi a última coisa que Ryan me pediu em troca de todos aqueles anos.

- Então por que você não fez?

- Eu não sei.

- Como assim você não sabe?

- Nunca quis isso, Millie - Confessou. - Fui obrigada, retribuição.

- Retribuição?

- Eu não menti quando disse que não tinha família.

- E o que isso tem a ver?

- Muita coisa - Falou. - Não tive uma família, mas precisei ser criada por alguém, e infelizmente eles são a minha família. Não de sangue, obviamente, e se eu soubesse que aceitar ajuda deles me traria até aqui, eu jamais teria aceitado.

- Você foi criada por eles? Como isso é possível?

- Favor, Millie, favor... É uma infinita troca de favores. Meu pai morreu de ataque cardíaco, e de alguma forma ele sabia como iria morrer, já que antes disso acontecer ele pediu para que cuidassem de mim.

- Aqueles caras cuidando de uma criança?

- Você ainda não entendeu que era favor? Por dinheiro, e eu não tenho orgulho de dizer que meu próprio pai foi responsável por construir o que eles são hoje, entendeu isso?

Ela se aproxima e fica atrás de mim enquanto desamarra minhas mãos.

- Mas você tem escolha - Falei. - Escolheu me deixar viva.

- Esse não era o plano.

- Por que está me soltando?

- Porque eu ficava exatamente nesse mesmo lugar durante minha infância, e eu sei como é uma merda.

- Você morava aqui?

- Uau, descobriu que nem todo mundo é rico?

- Não, é só que... - Olhei para meus pulsos machucados por causa da corda. - Parece que alguém aqui já foi pirata.

- Aprendi assistindo o filme da Alice.

- Sadie? - Chamei. - Eu posso ir?

Ela olhou para a porta e começou a sorrir escandalosamente.

- Ah, não era uma piada?

- Idiota. - Levantei e deixei ela para trás.

- Vamos descobrir quem é a idiota aqui.

A porta era fácil de abrir, mas assim que saí descobri que estava chovendo.

Que se dane, a última coisa que quero é ficar aqui.

Não faço ideia de onde estou, mas eu sei que tem plantas. Muitas plantas. A trilha que ela vai com a moto está cheia de lama, então me vejo presa ali.

Me abrigo em baixo de uma estrutura metálica ao lado da casa e fico esperando a chuva passar, mas ela só aumenta.

- Acho que está presa aqui - Sadie estava vindo até mim. - Tipo, não tem mesmo como sair.

- É claro que tem. Você sempre vai até sei lá onde buscar comida.

- Sabe andar de moto?

- Não quero conversar contigo.

- Bipolaridade, talvez?

- Você me sequestrou, e agora estou num lugar esquisito. Não somos amigas, nada está bem entre nós.

- Não foi sequestro. Eu estou escondendo você e...

- Sequestro.

- Você é chata pra caralho

- É só me matar, aí quem sabe você se livra logo de mim.

- Não pode ficar aqui fora - Falou enquanto olhava ao redor. - Eles sabem que possivelmente estou nessa casa.

- Por que se importa tanto com isso? Eu só queria que tudo isso acabasse.

Sinto um alívio quando ela saiu, já que agora o meu rosto molhado não era apenas por causa da água da chuva.