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Tateei o espaço ao meu lado esperando sentir minha colcha que sempre me aquecia nos dias mais frios.

Mas tudo que encontrei foi um chão frio, onde eu estava deitada pelos últimos cinco dias.

Cinco dias desde aquela noite e ainda estou tentando processar tudo que aconteceu ali. Lembro dos gritos, um estrondo forte, o chute contra minhas costelas, minha mão cortada e sangue no carpete.

Me lembrar disso tudo é pior do que se eu realmente tivesse morrido, já que esse era o plano.

Sento com dificuldade e deixo meu corpo apoiado na estaca de madeira onde a corda está amarrada. Não quero olhar para o outro lado e encarar o motivo para eu estar aqui.

Sadie ou Elizabeth - qualquer que seja seu nome, passa a tarde e a noite fora de casa. Outro dia, o barulhento relógio na parede marcava duas horas quando aquela porta foi aberta e uma cadeira foi puxada cuidadosamente até o quarto onde dormia.

Olho para baixo e vejo sua resta atrás de mim.

- O que você quer?

- O pacote de biscoitos está ali no canto há dois dias - Ela aponta para a embalagem dentro de uma caixa. - Isso significa que não come há dois dias.

- Estou me matando, já que você não quer fazer isso.

Depois de um longo suspiro, ela desiste.

- Vai se foder então.

- Não dá, eu precisaria da sua ajuda. Minhas mãos estão amarradas.

Reconheço o barulho do motor da sua moto, isso significa que estou sozinha novamente.

Levantar amarrada é uma tarefa quase impossível, mas se continuar do jeito que as coisas estão, acho que serei profissional.

Giro meu corpo pela estaca até ficar de frente para uma televisão velha com um botão em cima, que me permite ligar usando o pé.

Para minha sorte, estava no mesmo canal, o canal que me permita ver as notícias, e eu queria saber qualquer coisa.

qualquer coisa mesmo.

Hoje é quinta-feira. Noah deve estar com raiva.

Ou talvez preocupado.

Todas as quintas, nosso almoço é num parque perto do colégio, onde sentamos em um banco enquanto comemos hambúrgueres e julgamos as pessoas que passam por ali.

Pensar nisso faz meu estômago roncar, mas controlo a vontade de pegar o pacote que estava atrás de mim.

Escorrego até estar no chão novamente, e me mantenho focada na repórter ruiva que apresenta o jornal. Sinceramente, estou cansada de ver seu rosto.

Minhas tentativas de assistir televisão são apenas para saber se há alguma mínima notícia sobre o que aconteceu naquela casa.

A minha casa.

Mas não sei se vale mais a pena. Não depois de todos esses dias.

Escuto o barulho da moto e tento me levantar para desligar a TV, mas meus pés ficam escorregando no chão e não me permitiram fazer isso.

- É isso que você faz quando eu saio?

- Acho que não posso fazer muita coisa estando amarrada no meio do nada.

- É, tanto faz.

Vejo as sacolas que estavam anteriormente em suas mãos, sendo colocadas em cima do balcão de mármore.

- Virou dona de casa agora?

- Se você quiser passar fome o problema é seu, mas eu ainda preciso comer.

Ela pega uma lata de pêssego enlatado e se senta no sofá, comendo aquilo como se fosse a coisa mais deliciosa do mundo.

- Estou entediada.

- Que pena, não sou boba da côrte para divertir a princesa.

- Por que você não come coisa de gente normal?

- Quer dizer aquela comida que é feita a partir do mau trato dos animais?

- Que ironia - Falei. - Apoia que os animais fiquem vivos mas mata pessoas.

- Eu não matei seus pais.

Essa frase ainda é... estranha.

Eu não sei quais são as sensações exatas que ela me causa, mas eu começo a sentir como se minha cabeça fosse explodir, e tudo que Sadie fala é uma mentira.

- E a Nancy? - Perguntei repentinamente.

- Nancy?

- Você sabe de quem estou falando.

- Não sei nada sobre ela.

- Então ela pode estar viva?

- O que aconteceu depois que te levei daquela casa não me interessa - Ela me fitou, revirando os olhos ao perceber o olhar preocupado que eu estava. - Se ela se manteu onde dorme... Possivelmente está bem.

Possivelmente.

Isso quer dizer que ainda há chance.

Nancy poderá visitar os filhos no dia de ação de graças. Terminar o vestido tricotado da Ana, sua neta. Fazer uma viagem até o Japão.

- Por que você disse que não tinha escolha?

- Se continuar me fazendo perguntas eu vou matar você.

- Que ameaça ruim - Sorrio. - Se não fez isso aquele dia por que faria agora?

Ela levanta sua blusa e tira a arma que estava escondida na sua calça, na altura da cintura.

Não é porquê eu quero, mas mesmo sabendo que ela não teria coragem, ver isso em suas mãos faz com que eu recue, perca a voz e sinta meu coração acelerar.

O gatilho é disparado, mas o tiro atingiu a parede, passando bem longe de mim.

- Não entendi - Olhei para o buraco que tinha se formado e sacudi a cabeça, tirando a franja da frente do meu rosto. - Era para isso ser uma ameaça?

- É melhor se sentir ameaçada - Falou. - Até porque, com certeza vão te procurar.

- Vão?

Ela assentiu.

- Eles querem você morta, Millie Brown.

Killer • SillieOnde histórias criam vida. Descubra agora