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O balcão da cozinha estava repleto de ingredientes para fazer uma torta. Não é minha culpa ter vontade de comer durante a madrugada.

Espalhei farinha pelo pouco espaço livre e comecei a modelar a massa, juntando os ingredientes até estarem firmes.

- Onde você aprendeu a cozinhar? - Sadie perguntou enquanto olhava concentrada para uma regata cinza, que estava sendo costurada.

- No YouTube, algum tempo atrás.

- Colocar fogo na casa vem de brinde?

- Eu não sou tão idiota assim.

Olhei de relance e ela deu ombros.

- Você é péssima nisso.

- Sempre precisa reclamar de mim? Faz melhor então.

Ela colocou a agulha no braço do sofá e levantou prendendo seu cabelo de forma desajeitada.

- Isso é um desafio? - Perguntou enquanto lavava suas mãos. - Se for... Está aceito.

Levantei as mãos para cima, me rendendo.

- Está bem, o avental é todo seu. - Desfiz o laço e comecei a colocar nela.

- Folgado - Alertou. - Céus, você não sabe dar um nó?

Quando finalmente coloco mais apertado e ela não reclama, faço o laço da cintura e ela se aproxima da massa.

- Você colocou manteiga? - Perguntou.

- Pouca. Não tínhamos muita coisa.

Ela assentiu e isso fez alguns fios caírem em seu rosto.

- E como é que você sabe sovar uma massa?

- Acho que esqueceu que não sabe de quase nada sobre mim.

- E qual seria a história dessa vez? - Cruzei os braços e apoiei na bancada ao seu lado.

- Eu trabalhei numa padaria... Por algum tempo.

- Numa padaria? E o que te levou até lá?

- Dinheiro. Óbvio.

- Respostas concretas.

- Isso é tudo que posso dizer. - Ela dá ombros e passa o dorso da mão em sua testa, deixando um pouco de farinha.

- Pelo menos não sou um desastre enchendo minha cara de farinha.

- Faz parte do processo. - Revidou.

- Claro, se sujar faz parte do... - Antes que eu pudesse terminar ela jogou farinha em mim.

- Sim, faz.

Joguei mais um pouco de farinha em seus braços, mas ela não revidou.

- Olha, isso provavelmente vai nos dar trabalho mais tarde.

- Tem razão, você é uma chata. - Passei as mãos uma na outra para tirar a farinha e em seguida passei pela minha blusa.

Fui até o seu lado oposto e sentei em uma banqueta, observando ela trabalhar enquanto cantarolava.

- Forma. - Pediu.

Entreguei o que foi pedido e logo a massa começou a ser espalhada pela forma.

- É assim que se faz. - Ela mostra para mim e então liga o forno.

- Cento e oitenta?

- Duzentos e vinte.

- Aí queima.

- Passa menos tempo.

- Mas...

- Já está feito. - Suas mãos sacodem no ar.

- Você fez essa parte do jeito errado.

Sua resposta se limitou a revirar os olhos e se sentar no sofá em seguida.

- Estou cansada demais para discutir com você.

- Desculpa. É que eu realmente não sou boa nisso mas estou tentando e sei lá fiquei irritada.

- Eu ficaria irritada se me levassem para longe da minha cozinha cheia de equipamentos e uma empregada.

Sua concentração voltou para a agulha, o silêncio preencheu o espaço novamente

- E como você pretende fazer isso?

- Isso... O que?

- Ryan.

- Existe uma grande diferença entre querer e poder, entendeu? Eu realmente quero fazer isso, mas... É impossível.

Lá fora estava escuro, meu foco não saia da janela, mesmo sem conseguir ver alguma coisa.

- E se ele fizer isso primeiro?

- Fazer? oque? - Perguntou.

- Te... Te matar

- Se eu fosse você, ficaria tranquila com isso.

- Mas você...

- Ele não sabe onde estamos.

- Mas o Ben sabe.

- Vamos ser sinceras - Ela deixa a agulha de lado e olha para mim. - Você não está exatamente preocupada comigo, mas sim com você mesma.

- Eu literalmente pedi para fugir com você, porque estou preocupada com o que ele faria.

- Ainda bem que parou com essa loucura, porque está claro que é mais uma das suas ideias idiotas.

Tinha farelo de torta pela minha blusa, meus joelhos estavam na frente do peito e minha cabeça apoiada neles.

- Millie - Sadie se sentou ao meu lado. - Eu queria pedir desculpas.

- Tá.

Ela suspirou.

- Sério mesmo. Eu falei sem pensar.

- Não precisa se desculpar. Sou uma idiota mesmo.

- Você não é idiota - Ela se arrumou eu meu lado e estendeu os braços. - Quer um abraço? Sou boa nisso, é verdade.

- Tenho certeza que seu abraço nem deve ser tão bom assim. - Me inclinei para o lado e ela me envolveu com seus braços.

Era bom.

Ao mesmo tempo que apertava, deixava livre. Era algo do tipo cuidadoso mas ao mesmo tempo que te protegia.

Encostei minha cabeça em baixo do seu braço e ela começou a mexer no meu cabelo.

- Todo mundo fala as coisas sem pensar as vezes - Falei. - Mas ainda acho que falar é melhor do que fazer.

- Como assim?

- Só estou querendo dizer que... Esquece.

- Tudo bem.

Olhei para cima e vi seu rosto olhando para frente.

- O que foi?

Balancei a cabeça e seu olhar se voltou para mim. A cicatriz na sua boca estava perto do meu rosto, isso significava que seus lábios também.

Uma das suas mãos foram até minha bochecha, e então em pouco tempo seu rosto estava próximo ao meu.

- Eu posso beijar você? - Perguntei, nossas bocas quase coladas.

Ela sorriu fraco.

- Já disse que eu gosto de estar no comando, não disse? - Sussurrou. - Então acho que eu mesma vou fazer isso.

Killer • SillieOnde histórias criam vida. Descubra agora