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A moto mal conseguia ficar em linha reta, a estrada estava tomada de buracos que quase nos faziam cair. Além de tudo isso, tínhamos apenas a iluminação dos faróis, o que não é muito.

- Céus, se você quer me sufocar é só falar logo. - Sadie reclama.

- Estou tentando não cair - Falei na defensiva. - Como você me trouxe até aqui te moto?

- Usei seu carro - Ela se afasta de novo. - E não me pergunte o que eu fiz com ele.

- Você é burra? Um carro seria tão mais fácil.

- Passar por aqui de carro é um inferno.

Olho para trás e tudo que vejo é uma escuridão tão grande que chega a ser pertubadora. Abraço sua cintura mais forte quando começo a imaginar o que aconteceria caso eu caísse da moto e ficasse ali sozinha.

- Eu sei que está tentando se segurar, mas se continuar desse jeito nós duas vamos cair.

Sadie colocou a moto onde outros carros estavam estacionados e saiu andando alguns passos na minha frente.

O vento estava forte, meus cabelos não ficavam quietos e isso fazia com que minha visão bloqueasse. Liguei a lanterna e então Sadie se virou.

- Desliga isso, vai acabar a pilha.

- Por que estamos numa praia?

Ela não disse nada.

Continuei andando pela areia tão fria quanto o clima e enfim ela parou. Olhei para onde estava sentada e fiquei hesitante, mas depois fiz a mesma coisa.

Ficamos em silêncio, apenas ouvindo o barulho do mar naquela praia escura.

a única iluminação era a da lua, que ainda me fazia ver o rosto de Sadie.

- Precisamos sair de lá. - Disse repentinamente.

- Por que?

Ela tirou o cabelo do rosto, se inclinou um pouco para trás e respirou fundo.

- Porque eu preciso te matar, mas eu não quero.

- Então pede para o seu amigo.

- Você se ouviu? É uma suicida ou algo assim para querer tanto morrer?

- Eu só acho que... Se me matar é o que precisa para ficar livre, então faça. A minha vida está de cabeça para baixo, eu não tenho mais nada a perder. Mas você ainda pode viver. Viver de verdade.

- A polícia pode me achar - Falou. - E então eu ficaria naquele inferno.

Abaixei minha cabeça e fiquei brincando com a areia.

- Por que você precisa me matar? Quero dizer, não fez esse tempo todo, por que simplesmente não foge?

- Eu já fugi muito - Balançou a cabeça. - Fugir é uma coisa que eu sempre fazia quando tudo estava dando errado.

- Faça mais uma vez.

Ela ficou em silêncio, olhando para o mar.

Coloquei meu corpo para trás e deitei na areia, fechando os olhos. Eu deveria estar com eles abertos e apreciar a paisagem, mas sentir o vento e escutar o barulho das ondas já é o suficiente.

O som dos carros estava longe, estar ali era uma paz absoluta.

- Você viria comigo?

Abri meus olhos e me levantei num segundo, ficando sentada novamente.

- Digo... Se eu fugisse e... - Ela estalou a língua e se levantou. - Esquece, é loucura.

- E por quê eu não iria?

Ela se virou para mim.

- É loucura. É minha culpa sua vida estar assim.

Eu tinha que concordar.

- E como faríamos isso? Tipo, fugir.

- Nós não temos para onde ir. E eu quero encarar isso.

- Eu tenho um apartamento em Nova York.

- Como é que você tem um apartamento lá? Além do mais, isso é longe pra cacete.

- A gente pode dar um jeito, eu só estou dizendo que ainda temos para onde ir.

- Não vai dar certo, esquece.

- Quer saber? Eu iria com você. Se decidisse nesse instante que iria até a China, eu iria.

- É claro. Você não tem muitas opções.

- Eu iria porque você é a única pessoa que eu tenho agora. Acha que eu posso ir atrás de algum dos meus amigos? Como acha que seria a reação de Noah se eu fugisse até a casa dele e falasse tudo que aconteceu? Ele diria que eu estou maluca.

- Não, você não...

- Eu estou querendo dizer - Acabei interrompendo o que ela ia falar, e eu sei o quanto isso é chato. - Que é sua culpa eu estar nessa merda, tudo porque você não é corajosa o suficiente para puxar o gatilho, mas quer saber, Sadie? Só estou pedindo uma chance para que as coisas possam se consertar.

- E por um acaso você acha que vai conseguir isso fugindo? - Sua voz estava trêmula. - Porra, eu estou praticamente morta por você. A minha vida se resume a ficar escondida naquele moquifo junto contigo porque não sou corajosa o suficiente para encostar um dedo em você e aqueles caras sabem disso. O Ryan sabe, O Ben também sabe agora. E quer saber? Essa coisa de velhos tempos é a porra de uma piada, porque eu tenho absoluta certeza de que ele contou, e agora Ryan está furioso. Vai matar você e em seguida eu também vou ser morta por traição.

Ela saiu andando, sem rumo.

- Então a resposta, antes que você fique pensando nela, é um não. E se Nova York der certo? Vamos ficar naquele apartamento vivendo da mesma maneira, só que mais confortavelmente. E aí o que pretende depois disso? Com que dinheiro iríamos sobreviver? Por favor pense um pouco, nós não estamos em um filme.

- Então que se foda Nova York. Que se foda essa merda. Você fica dizendo que está cansada de fugir, mas também está se escondendo, e essa é uma forma clara de fugir da realidade.

- Estou fugindo porque não quero ver você morta. Não quero ver seu rosto cheio de sangue igual aquele dia. Eu só preciso pensar, e então achar uma solução para que você saia dessa.

- E depois? Você mente mas no final eles descobrem que eu ainda estou viva, me escondendo. É um inferno, não tem jeito.

- É a culpa - Ela parou e ficou olhando para a areia. - Eu sinto culpa quanto olho para você. Sinto que poderia ter sido feliz, mas agora está presa.

- Por que se livrou da sua arma?

- Me livrei? não, ela está aqui - Sadie mostrou que estava na sua cintura. - Tenho que andar com ela, mas é só...

- Eu vou fazer isso - Aproximei minha mão da sua cintura, tentando pegar a arma. - Se eu não fizer, vamos ficar nos torturando para sempre, nenhuma de nós será feliz.

- Não. - Ela segura meu braço.

Eu tinha mil respostas planejadas, mas tudo que consegui fazer foi tentar mais um vez.

- Para de ser idiota, Sadie. Você finalmente vai ficar livre.

- Do que adianta ser livre sem você? Acha mesmo que eu vou te deixar fazer isso? Está enganada.

- Então me fala o que impede você de fazer isso. É tão simples, quer que eu peça? Posso implorar se quiser.

- Não adianta implorar, eu nunca vou conseguir fazer isso porque gosto de você.

- Eu também, então simplesmente me deixa fazer isso. Por você.

Ela sacou a arma e fez menção a me entregar, mas quando eu ia pegar, Sadie jogou para dentro da água.

- Não temos mais uma arma.

Olhei para o mar e fiquei encarando fixamente, com a respiração acelerada e uma vontade enorme de gritar com Sadie por não ter me deixado fazer o que eu queria.

Mas eu não fiz isso.

Killer • SillieOnde histórias criam vida. Descubra agora