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- Que merda aconteceu naquela noite?

Sadie parou de dobrar suas roupas e franziu o cenho, olhando para mim.

- Quê?

Sentei na ponta da cama e cruzei os braços, ela virou para frente e continuei:

- Quero saber o que aconteceu na noite que você me trouxe até aqui. E quero que seja sincera.

- Por que isso agora?

- Acredito que não foi você a responsável por... matar meus pais - Suspirei. - E então, eu quero ter a total certeza de não estar sendo enganada.

- Está bem. - O restante das roupas foi jogado de qualquer jeito no guarda-roupas e ela arrumou sua postura.

Acho que ela faz isso quando o assunto é sério.

- Ryan mandou...

- Desde o início.

- Isso é o início.

- Quero saber como chegou até essa vida de matança.

- Você perguntou o que aconteceu naquela noite.

- Mas precisava ter um motivo. Eu quero saber.

Ela respirou fundo e começou a brincar com sua pulseira.

- O motivo para fazer aquilo com sua família... Apenas Ryan sabe. Quero dizer, o motivo não importava, eu só precisava chegar lá e matar - Seu olhar foi para a foto no criado-mudo. - Ou melhor... Chegar lá e pedir para o Ben fazer o trabalho pior por mim. Eu não conseguia puxar o gatilho, não conseguia fazer aquele trabalho horrível.

- Você já fez alguma vez? Tomou coragem e fez?

Ela assentiu.

- A polícia estava chegando, a voz daquela mulher falhava a cada minuto que se passava e eu não aguentava mais ver o seu sofrimento. Foi a única vez, e depois disso comecei a ter pesadelos, imaginar que estava sendo perseguida por ter tirado a vida de alguém.

- Quem era?

- Eu não sei. Nunca soube de nomes, se tinha família... - Lágrimas ameaçavam cair, mas ela passou as mãos pelos olhos. - Posso ter matado uma mãe de família.

- Nunca quis saber o motivo?

- Eu quis saber. Perguntei quando ele mandou eu matar você - Ela balançou a cabeça. - Queria saber o que alguém de dezessete anos tinha feito de tão errado para merecer a morte.

- O motivo você não sabia... Mas suspeita?

- Seus pais. Não sei o que se passava naquela cabeça maluca de Ryan, mas acho que algo parecido com "o bem mais precioso deles." acho que é um fato para ele, sabe? os dois com tanta riqueza, mas a maior riqueza ser você.

- E com certeza não era.

- Não fala desse jeito.

- Continua.

- Millie...

- É sério. Acha mesmo que eles se importavam? Eu sinceramente estou curiosa para saber o plano e como tudo aconteceu.

- É claro que eles se importavam com você.

- Pode só... Continuar?

Ela suspirou.

- Enfim, depois que soube o que precisava fazer e a liberdade que eu iria ter... Ben me arranjou uma falsa carta de indicação, e isso foi suficiente para seus pais. Eles só queriam qualquer pessoa que cobrasse barato para ficar seguindo a filha deles. E eu era essa pessoa.

Olhei para o chão e balancei a cabeça.

- Não. Você não era.

- Exatamente. Eu só precisava estar próxima o suficiente e então saber agir no momento exato - Ela colocou seu cabelo para trás e continuou encarando os pés. - O momento exato também consistia em: desaparecer. A pessoa mais próxima e que provavelmente estaria junto de você era exatamente eu.

- E aí você fingiu.

- Se quer toda a verdade... Sim. Eu fingi. Mas só até certo ponto.

- Como assim certo ponto?

- Eu fui contratada e quando cheguei na sua casa, estava óbvio que você não queria uma guarda-costas. O lance de falar e a máscara... eram só parte do plano, porque eu sabia que quando o momento exato chegasse, a coragem finalmente iria aparecer e eu ia conseguir fazer aquilo mais uma vez. Então, era mais fácil se eu não tivesse contato nenhum com você - Ela gesticulou. - Aí você veio com aquele papo de amigas. Antes de dormir sempre me convencia a jogar xadrez até te dar sono. Você tinha claramente uma talvez paixão pelo popular e a sua mãe te tratava mal, então você achava que eu estava fora do quarto e chorava em baixo do edredom.

- Eu nunca tive uma verdadeira paixão pelo "popular" - Fiz aspas. - A única coisa que eu queria era que ele parasse de espalhar pelo colégio que só ficou comigo porque estava bêbado e eu era só uma nerd - Me deitei e fitei o teto. - No caso... A verdade.

- Então, a verdade é que, naquele dia eu decidi que não iria fazer nenhum mal com você.

- Que dia? Você passou praticamente dois meses lá.

- O dia que estávamos na cozinha. Você fritando ovos de uma forma desajeitada. Eu queimei minhas mãos pegando as torradas e depois disso você me beijou.

Continuei olhando para cima, porque mesmo a conhecendo pouquíssimo, ela provavelmente está me encarando.

- Aí você falou isso para eles?

- Não. Naquele dia, eu decidi que não faria isso, e as minhas mensagens do tipo: "está tudo sobre controle" pararam de ser enviadas - Ela se levantou e começou a andar pelo quarto. - Ryan não insistiu, mas foi ver isso pessoalmente e... Foi o que aconteceu.

- E como você estava lá em cima?

- Quando eles chegaram eu estava no seu quarto. Você dormia e provavelmente não ouviu a porta do quarto batendo, mas logo em seguida comecei a ouvir passos do lado de fora, e com certeza não era ninguém da casa. Desci e eles estavam lá, armados. Prontos para fazer o que eu não fiz.

Tento me lembrar de qualquer barulho, mas os barulhos e gritos são as únicas coisas que me recordo.

- Lembro que fui empurrada para trás enquanto eles verificavam a casa e tinham certeza das câmeras serem danificadas. Foi aí que eu lembrei de você, e aquele disfarce idiota de guarda-costas finalmente iria servir para algo. Eu queria te proteger.

Sadie foi até a janela e colocou os braços para fora, sentindo algumas gotas da chuva.

- Na metade das escadas, ouvi um grito e senti meu coração acelerar. Eu sabia que não era você, mas seria o suficiente para te acordar. Quando cheguei ao topo das escadas, a sua maçaneta estava sendo forçada para baixo, e minha primeira reação foi me esconder até que você estivesse distraída o suficiente.

- Por que não falou logo comigo?

- Você iria gritar. Tentar se soltar sem saber o que aconteceu - Suspirou. - Ryan entrou no quarto e percebeu que você estava viva. E eu nunca tive tanta vontade de matar alguém quanto naquele momento. Queria gritar cara dele e usar todas as munições nele. Depois de finalmente sair, eu percebi que precisava tirar você de lá e te proteger.

- E então chegamos aqui.

Ela se sentou na ponta da cama e ficou olhando para o criado-mudo, e em seguida para mim.

- Eu ainda quero matar ele.

Killer • SillieOnde histórias criam vida. Descubra agora