Dente de cavalo, orelha de boi
Mais um cigarro era tudo o que Frederico pedia. Apenas mais um. Somente mais um deles entre seus lábios e ele poderia ficar bem.
Na verdade, ele ficaria muito bem.
Ele só não possuía mais nenhum em seus bolsos, afinal o seu último maço havia sido consumido em questão de horas, quando ele apreciou a natureza e se perguntou o que haviam colocado em sua bebida para que ele simplesmente tivesse aparecido no meio da floresta sem memória de como havia parado ali.
Era realmente desconcertante.
Ele colocava as mãos no bolso com constância, mesmo sabendo que pelo estado de seus machucados, o melhor seria não fazê-lo, contudo não conseguia conter seu impulso de ficar analisando-os minuciosamente — então apenas enfiava as mãos no bolso e tentava ignorar a dor que estava sentindo.
O que ele fez ontem?
Ah sim, ele estava fugindo do Delegado.
Lambeu seus lábios tentando impedi-los de tremer, não pelo frio.
Deu mais alguns passos para frente e começou a tossir a seco, alto, sentindo seu peito doer a cada tossida, sentindo como se seus pulmões quisessem se expelir do seu corpo.
Ele sabia que sua tosse estava piorando, sabia que fumar não melhoraria muita coisa e também tinha noção de que estava encurtando sua vida quando fazia o que estava fazendo, fumando o quanto fumava, porém, naquele exato minuto, não conseguia controlar o seu vício.
Era como se o único remédio dele fosse desconhecido.
Era como se a única razão para ele não ter fumado tanto em seus poucos anos de vida, não existisse mais.
Mas o que realmente estava acontecendo com ele?
Seu celular começou a tocar.
Oh, sua mãe lembrou-se de verificar se o Delegado já o havia castrado ou não.
— Estou vivo — ele comentou com a voz rouca.
Sua mãe não sabia e jamais poderia imaginar que seu filho fumava, principalmente depois de seu avô ter morrido por este mesmo motivo. Jason até mantinha este segredo de Elisabeth, sendo que eles contavam tudo um para o outro, por causa da história dela.
Ah sim, Frederico Bertolini tinha em posse os livros autografados de Estilhaços e Trincos por cortesia da melhor amiga da escritora. Ele jamais admitiria, pois era algo que apenas uma garota leria, mas a história era mesmo de arrepiar, principalmente Trincos.
Ele jamais poderia se imaginar em uma situação de vida ou morte tão tênue quanto a que ela sofreu.
— Oh, que grata notícia, terei que desmarcar com a funerária então — ela disse com tanto sarcasmo que ele achou desnecessário, e Frederico era um devoto ao sarcasmo humano — você deveria dar mais notícias aos seus pais, você sabe, apenas para deixá-los menos preocupados.
— Eu sinto muito, ainda estou meio enrolado.
— E com isso você quer dizer que está matando aula? Fugindo de um pai que quer matar o garoto que desonrou a filha dele? Ignorando a mãe por não querer escutar os sermões? — ela fez uma pausa dramática sabendo que ele não responderia — você ao menos se importou um pouco com a garota?
— Mãe, eu...
— Meu Senhor, que sua alma seja poupada no seu julgamento após a morte, pois o Sr. Lovacar não o perdoará em vida — ela exclamou com tanto fervor que Frederico se encolheu — onde eu errei para você ser assim?
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Pseudomágica
FantasyPandora Duncan, a tentação encarnada, é uma bruxa em treinamento que não sabe fazer uma bruxaria. Frederico Bertolini, notório por sua má fama com as mulheres, descobriu que não viveria para completar vinte anos. O que os dois têm em comum? Uma tard...