I - Aipo roxo, margarida murcha

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Aipo roxo, margarida murcha

- Apenas feche - ela sussurrou contra a porta de seu carro, tentando fechá-la com afinco.

Não adiantava. Não adiantaria.

Não importava quanta mágica Pandora tivesse, não importava o quão poderosa ela fosse, e não importava que o seu sobrenome fosse Duncan, ela nunca chegaria perto de sua mãe, muito menos de sua avó.

Na verdade ela apenas fingia ser uma grande bruxa, pois a verdade era que ela não era. Quer dizer, ela era uma bruxa, só não sabia como usar sua magia. Nem ao menos sabia se ela tinha magia.

Algumas pessoas passaram e ela logo apoiou suas costas contra o carro acenando com a cabeça na direção dela, fingindo que não estava fazendo nada - todos a cumprimentaram de volta.

As pessoas sabiam quem era Pandora Duncan, filha de Luna Duncan, neta de Ambrose Duncan; seu pai não importava, não de verdade, pois ele era apenas um empresário no ramo têxil e não um bruxo.

As pessoas sabiam que ela era uma bruxa. Isso era óbvio.

Pandora Duncan era uma Duncan, ou seja, ela era uma bruxa.

Quem não sabia disso?

Há gerações as mulheres Duncan eram conhecidas em sua cidade por terem escapado da Inquisição.

- Feche - ela ciciou, cerrando seus lábios com força, tentando visualizar a porta já fechada.

Quando for a hora certa, tudo será simples, fácil.

Não era tão simples quanto sua mãe fazia parecer. Magia não era uma matéria simples de faculdade.

- Deixa que eu fecho - Aponi, a irmã-gêmea de Pandora, disse ao perceber a frustração de sua irmã.

Pandora se sobressaltou ao perceber que ela ainda estava ao seu lado e nem ao menos havia percebido, o que era extremamente estranho, pois Aponi fazia questão se ser notada, assim como a sua irmã. Talvez fosse algo de família, mas cada uma das delas tinha a sua maneira de chamar atenção: Aponi era como se fosse o Sol de tão brilhante, de tão necessário, porém Pandora era a Lua, e era sempre à lua que as pessoas mostravam a sua adoração.

Aponi Tate fazia questão de criar uma fama, qualquer uma, desde a garota mais inteligente que existirá, aquele rostinho angelical possuía muitos segredos dos quais a humanidade não fazia ideia, até ser conhecida como a garota conseguiu virar doze doses de tequila no último ano novo, pois ela queria ser tudo, menos a-Duncan-que-não-é-Duncan.

Ela não era uma bruxa.

Somente aquele que carregava a magia dentro de si poderia ter a honra de portar o sobrenome Duncan e esta era uma regra inquebrável, mesmo que o coração de alguém se quebrasse com isso.

- Eu poderia ter feito isso, se eu quisesse - Pandora resmungou, mal-humorada.

Não é que ela não quisesse trancar o seu carro, porém ela queria se testar. Queria ser capaz de sentir orgulho de ter magia dentro de si, afinal o que era uma bruxa que não sabia fazer magia?

Mas que desonra.

- Por que não o fez? - Aponi perguntou, entregando as chaves do carro para sua irmã e percebendo que as pessoas as estavam olhando.

As gêmeas Duncan eram tudo, menos parecidas.

Aponi Tate tinha seus olhos azuis, cabelos loiros e a pele bronzeada. Era linda como um todo, contudo não possuía a marca da bruxaria, não havia sido tocada pela herança mágica de seus ancestrais.

Já Pandora Duncan era... era uma bruxa e isso, por si só, já fazia toda a diferença. Cabelos castanho-achocolatados, olhos verde-azulados, pele pálida como o leite. E o sorriso... ela tinha um sorriso maquiavélico que estava quase sempre em seus lábios.

- Eu só estou treinando... enfim, você pode me encobrir caso mamãe tente me dar boa noite hoje? - Pandora nem ao menos esperou sua irmã responder, apenas deu um beijo na cabeça dela - e não espere por mim acordada... hoje vai ser a noite.

- Certo, Pan, eu tenho certeza que mamãe não vai se incomodar que você vai sair sendo que tem que escrever um relatório para amanhã... - Aponi murmurou depois de revirar seus olhos - vai voltar que horas? Antes ou depois do amanhecer?

- Verde não combina com você, irmãzinha - Pandora deu uma risada fraca - boa sorte ao dissecar o seu sapo! - ela mandou um beijo à distância enquanto sorria.

- Você... - antes que terminasse a sua frase, Pandora já estava entretida ao conversar com outras pessoas - eu não curso medicina! Eu curso história!

Odiava quando sua irmã fazia aquilo.

Agia como se magia fosse algo natural.

Agia como se tivesse nascido com um dom especial.

Agia como se fosse melhor do que os outros.

Ela não era, mas parecia que ninguém percebia aquilo.


~*~

Frederico Bertolini era errado. Muito errado.

No entanto ele era tão errado que ela não resistia ao seu charme.

- Meu pai vai me matar se souber que você dormiu aqui - ela murmurou ainda deitada em sua cama com o famoso olhar pós-Fred.

- Ele não vai saber, não é? - ele confirmou enquanto colocava suas roupas e aproveitava para dar umas boas olhadas na garota ao seu lado.

Alguns diriam que foi um mero golpe de sorte, mas não foi. Ele era só bom em conquistar.

- Jamais - ela inclinou sua cabeça na direção dele esperando por um beijo a mais.

Ele inclinou sua cabeça, selando seus lábios nos dela, deitando seu corpo sobre o da garota e se aproveitando dos próximos minutos naquele quarto escuro.

Eles tinham que ir. Realmente tinham que ir.

O delegado poderia aparecer a qualquer minuto.

E isso só fazia tudo ser ainda mais tentador.

PseudomágicaOnde histórias criam vida. Descubra agora