XXIV - Papel queimado, tinta seca

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Papel queimado, tinta seca





Lúcifer estava ao lado de Pandora.

Ele jamais a deixou, por um segundo que fosse — mesmo quando eles foram até a casa dela para que ela trocasse de roupas, ou quando ela passou no restaurante e comprou comida, ou quando ela tentou ligar para sua mãe, ou quando ela procurou e não achou o telefone emergencial de seu pai... — alegando que precisava estar ao lado dela quando ela precisasse de um conselho.

— Para onde estamos indo? — Frederico perguntou ainda a acompanhando.

— Está com seu carro? — ela olhou pelo estacionamento a procura do veículo em que ela já havia entrado uma vez.

— Sim, logo ali — ele apontou e ela seguiu o caminho.

Então eles ouviram uma lata de lixo ser derrubada atrás deles no estacionamento e ele olhou por pura curiosidade, sem saber que aquela era a intenção da pessoa que a derrubou.

— Olha o que apareceu — Daniel Travler comentou assim que seus olhos cravaram-se em Frederico — ouvi dizer que você levou minha garota para casa no dia em que nós brigamos... acho que temos que ter uma conversa sobre os limites desse nosso coleguismo do time.

Ela entrou em pânico, seus olhos esbugalhados e sua respiração entrecortada. Não tinha ideia do que fazer para suas pernas voltarem a funcionar ou que seu coração parasse de pulsar com tanta força.

No entanto... pela maneira que ele falou, não percebeu que era Pandora que estava com Frederico. Ele não a reconheceu.

Daniel não sabia que ela estava ali.

Ela relaxou um pouco ao perceber que poderia passar por ali sem ter que encarar mais uma vez o garoto que partiu seu coração.

— Sabe, você não simplesmente dá em cima da garota do seu amigo, isso é errado — Daniel deu dois passos para frente.

Frederico se colocou a frente de Pandora, entre o antigo casal, e mesmo machucado, ele passou a imagem de que estava pronto para lutar por ela, com ela, contra Daniel e os seus... dois... três... quatro... cinco amigos.

— Não — ela comentou sem conseguir se mover, as imagens do último encontro com Daniel ainda eram vívidas em sua mente — não faça isso — ela murmurou para que apenas Frederico a ouvisse.

— Eu apenas a levei para casa, algo que você poderia ter feito se não fosse um babaca — sem conseguir se conter, ele revidou, percebendo que o estacionamento estava mais vazio do que o necessário.

— Ah, mas eu posso ainda levá-la para casa. Aquela bruxa está tão apaixonada por mim que mesmo que ela tivesse descoberto que era tudo por causa da aposta, ela ainda voltaria para mim — ele comentou vitorioso.

Não era bem assim.

Lágrimas escorriam de seus olhos quando ela se virou para trás, deixando seus óculos caírem no chão enquanto encarava o garoto com tanta repulsa, que nem mesmo ela sabia como ainda conseguia olhar para ele.

Daniel ficou rígido ao finalmente notar Pandora.

— Eu sou apenas uma aposta? — ela perguntou já com algumas suspeitas.

— Eu...

— Eu ouvi muito bem o que você disse. Sou?

— Era — ele deu de ombros e os seus amigos babuínos apenas riram com ele.

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