Pandora Duncan
— Vai ficar aí rindo ou vai me dizer como chegar até...? — não terminei minha frase, pois fui nocauteada no chão por um pedaço de madeira invisível. Ou, ao menos, tinha a textura de um pedaço de maneira, então coloquei a mão em minha testa, sentindo-a latejar.
Eu só estava cansada de ser machucada por objetos ou criaturas que eu não enxergava. Chegava até ser ridícula a maneira como eu não conseguia dar dois passos sem ajuda.
Senti algo se prendendo ao meu tornozelo e olhei o que era, porém, como sempre, não havia nada ali, então eu suspirei e tentei me levantar, contudo este algo misterioso apenas puxou-me e eu voltei a cair no chão.
Senti minha cabeça batendo no chão e coloquei a mão nela, temendo estar sangrando ou tê-la partido, porém ela era mais dura do que estes espíritos raivosos esperavam.
Tentei soltar-me daquilo que me prendia, contudo quando eu passava minhas mãos em meu tornozelo, nada havia ali. Eu estava solta, porém me sentia presa. Puxei minha calça para cima para tentar ver se minha pele aparentava ter algo a prendendo, contudo ela estava normal.
Será que eu, finalmente, enlouqueci de vez?
E então, com um solavanco, eu estava sendo arrastada para trás, sentindo o tempo passar mais rápido do que o esperado enquanto minhas mãos tentavam se agarrar a qualquer pedaço de vida que existisse no Inferno.
Minha barriga estava sangrando, pois sentia o chão áspero a rasgando com suas pontas afiadas, concomitantemente estraçalhava minhas mãos, impedindo-me de agarrar algo para salvar minha vida.
Por algum motivo, eu não estava em pânico. O motivo para eu não estar em pânico ao ter a grande chance de morrer no Inferno — sonho de qualquer garota com dezoito anos e alguns desejos — poderia ser pelo simples fato de eu estar conformada com essa fatalidade?
Senti minhas pernas perdendo contato com o chão e logo o meu corpo inteiro estava apenas caindo no abismo que há pouco eu havia visto.
Soltei um grito de terror — finalmente percebendo que eu realmente morreria — e tentei agarrar o nada sem sucesso algum.
E era assim que a minha história e de Frederico Bertolini terminaria. Eu estava fracassando em salvá-lo pela segunda vez.
~*~
— Oh, Céus! — eu berrei assim que abri os olhos e percebi que eu estava deitada no chão, no mesmo lugar que o objeto, que parecia uma madeira invisível, me atingiu.
— Eu acho que tu estás no lugar errado, então — a voz de Virgílio logo encheu meus ouvidos. Eu revirei os olhos mal tendo cinco minutos para acertar as pulsações do meu coração com minha respiração.
Aquele lugar estava brincando comigo, testando meus limites — limites que eu não gostaria de ultrapassar, porém eu o faria para chegar até Frederico, o garoto que morreu por causa de uma maldição.
Maldição jogada por Virgílio, o mesmo homem que estava me guiando pelo Inferno para que eu conseguisse quebrar esta maldição.
Algo em minha recapitulação dos fatos ainda me dizia que eu estava deixando uma peça escapar dos meus pensamentos. Eu só ainda não havia entendido o que estava errado.
— O que foi isso? — eu grunhi, colocando o braço sobre meus olhos, de repente, enxergando luz demais nas trevas.
— Uma bela queda, alguém passou uma rasteira em ti, literalmente.
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Pseudomágica
FantasyPandora Duncan, a tentação encarnada, é uma bruxa em treinamento que não sabe fazer uma bruxaria. Frederico Bertolini, notório por sua má fama com as mulheres, descobriu que não viveria para completar vinte anos. O que os dois têm em comum? Uma tard...