Pandora Duncan
Sabe aquele momento que você sente que está prestes a perder o controle de si mesma, mas não perde por que tem alguém que precisa de você?
Sabe aquele momento que você não faz ideia do que fazer, mas tenta ser racional?
Sabe aquele momento que tudo é tão triste que você só quer dormir para sonhar — mesmo que seus sonhos fossem como os meus — com algo melhor?
Essa era eu, após a morte de Frederico Bertolini.
Andei com passos bambos e incertos na direção de seu corpo e desabei ao ver a poça de sangue que se formava ao redor de sua cabeça.
Ele morreu, meu coração me dizia, ele morreu e a culpa é toda sua.
Tudo o que eu pensava eram em suas últimas palavras dirigidas a minha pessoa: Eu te amo, Pan — certo, não eram exatamente suas últimas palavras, contudo tinham o mesmo efeito que estas.
Ele disse que me amava.
Frederico Bertolini me amava e eu apenas não consegui responder, pois eu estava quebrada demais para corresponder aos seus sentimentos.
E agora, Pandora, o que vai fazer já que ele morreu?
Derrubei minha cabeça contra seu peito, chorando, sentindo vários olhos sobre meu corpo. Olhos que eu via. Olhos escondidos. Olhos interessados. Olhos com pena. Todos os olhos do mundo estavam assistindo minha dor.
— Pandora — Lúcifer disse de algum lugar que eu não olhei, pois estava concentrada demais em manter meus olhos fechados para não ver mais o sangue de Frederico manchando o chão do Alasca, mas o seu cheiro ainda...
Eu meneei minha cabeça para ele saber que eu estava ouvindo, apenas não tinha psicológico o suficiente para responder.
— Não é o fim — ele respondeu, finalmente.
Não precisei olhar para saber que aquele gato safado já havia desaparecido da visão de todos, pois era assim que Lúcifer funcionava. Ele era tão, ou mais, egoísta que eu.
— Fred, por favor, olha para mim — eu pedi, levantando meus olhos e segurando seu rosto com minhas duas mãos — por favor, Fred.
Ele não se moveu. Nem quando eu puxei sua cabeça. Nem quando eu alisei seu rosto com meu polegar. Nem quanto eu dei um tapa em seu rosto por me deixar. Nem quando eu aproximei meus lábios, perigosamente, dos dele.
Não consegui beijá-lo. Não era por falta de vontade, pois há anos Frederico Bertolini era um desejo que eu possuía, que qualquer garota possuiria, porém ele sempre foi meu amigo e misturar amizade com relacionamentos não dava certo. Nunca deu. Jamais daria. Mas por ele eu estaria disposta a tentar.
Ele disse que me amava.
— Eu preciso de você — sussurrei, abraçando-o mesmo sentindo seu sangue sujando meus braços no processo — eu já disse que não poderia perder mais ninguém e você me deixou, Fred.
Ouvi algumas risadas atrás de mim e não precisei me virar para saber de quem eram.
— Talvez não fosse hoje, nem amanhã, nem daqui um mês, mas nós poderíamos ter dado certo. Se você quisesse, nós poderíamos ter dado certo — eu sussurrei em seu ouvido e beijei sua testa, como o último beijo que eu havia dado nele — porque eu seria louca por me apaixonar por você, Fred, mas eu sou louca e você sabe disso.
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Pseudomágica
FantasyPandora Duncan, a tentação encarnada, é uma bruxa em treinamento que não sabe fazer uma bruxaria. Frederico Bertolini, notório por sua má fama com as mulheres, descobriu que não viveria para completar vinte anos. O que os dois têm em comum? Uma tard...