Sal Grosso

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Meredith Grey

Depois das minhas explicações iniciais naquela primeira aula, eu comecei com a parte prática, incentivando os mais corajosos a mostrarem suas vozes. Se eu quisesse iniciar as aulas de canto, teria que conhecer a voz de cada um.

— Vamos, galera, sem timidez. — eu disse. — Quem aqui gosta de arranhar a garganta um pouco? Até mesmo se não souberem cantar, não tem problema. Estão aqui para aprender. — e a sala se manteve no mais completo silêncio. Eles se entreolhavam meio tímidos e até cutucavam os colegas para que eles se pronunciassem.

— A Amber canta muito bem. — Bela disse, recebendo um olhar de pânico de sua amiga logo em seguida.

— Ah, é mesmo? — sorri para a garota com o rosto vermelho. — Quer nos mostrar?

— Não sei... — coçou seu braço.

— Vamos fazer assim, você me diz qual a sua música preferida, eu começo a cantar e você me acompanha, ok? — sugeri e ela assentiu ainda um pouco incerta.

— Scars to your beautiful.

— Eu também amo essa música. — me animei. — Em um, dois, três...

Comecei a cantar a primeira parte da música e os olhares atentos se intensificaram. Prendi toda a atenção da turma, que me olhavam maravilhados e com sorrisos satisfeitos em suas faces.

Amber começou a me acompanhar na segunda estrofe, a voz ainda um pouco tímida, ela olhando para os lados e continuando a coçar o seu braço como se isso a distraísse do nervosismo.

E quando chegamos ao refrão, a menina fechou os olhos e se soltou de vez, usando todo o potencial de sua voz lindamente. Parei de cantar e deixei que ela brilhasse sozinha. Podia sentir no jeito de suas expressões o quanto a letra dessa música significava para ela.

Quando Amber terminou, o silêncio continuou por alguns segundos até que Bela puxou os primeiros aplausos que logo contagiaram os outros, que deram gritinhos e assobios. Agora a pequena cantora não estava mais vermelha e sorria com um brilho especial nos olhos.

— Você é muito talentosa! — pontuei. — Espero que esteja cuidando da saúde da sua voz.

— Não tenho tanto conhecimento com isso. — admitiu. — Pode me ajudar?

— Sim, claro. Eu vou amar. E na próxima aula — voltei minha atenção para todos. — falaremos sobre teatro.

— Oba! — Bela comemorou.

O sinal tocou e eu comecei a arrumar minhas coisas para a próxima aula na próxima turma.

— Obrigada pela excelente recepção. — eu disse já caminhando até a porta. — Vocês tem uma energia maravilhosa, cuidem disso. Namastê! — mandei um beijinho no ar para eles, que me devolveram um grande e sonoro "Namastê".

Eu já estava acostumada com a rotina em colégios integrais, então nem me estressei tanto pelo resto do dia. Na hora do almoço, eu fui até a sala dos professores onde todos estavam sentados em mesas e comendo.

Quando entrei, a sala ficou mais silenciosa e eu senti muitos olhares em cima de mim, mas não eram olhares bons. Tentei ignorar isso e caminhei até a mesa onde Donna estava comendo. Sentei em sua frente e comecei a desembrulhar o meu almoço. Aos poucos, os outros professores foram parando de me dar atenção e voltaram a comer.

— O que eu fiz? — perguntei só para Donna ouvir.

— Os alunos já contaram aos outros professores que você é doida. — ela disse como se aquilo não fosse nada demais. — Você não consegue passar despercebida nem por um dia, não é?

Bitter SweetOnde histórias criam vida. Descubra agora