Duas linhas

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Meredith Grey

Depois da conversa com os meus pais, eu fui até o meu quarto onde encontrei Amber olhando em minhas gavetas, usando alguns dos acessórios que eu não havia levado comigo quando fiz as minhas malas e saí dali. Meus pais haviam mantido os mesmos móveis. Os lençóis da cama eram novos, mas eram tão rosa quanto os antigos. As paredes ainda eram amarelas, a cor claramente retocada com o passar dos anos. As fotos eram as mesmas, os quadros nas paredes pintados por mim também. Foi como voltar há quinze anos atrás.

— Sabe... — Amber se virou para mim, segurando uma correntinha de prata com um pingente de cruz. — Olhando bem para a decoração do seu quarto, eu acho que nós não seríamos amigas.

— Não? — eu ri e cruzei os braços.

— Você era uma beata, não? Olha todos esses quadros de Jesus. — riu.

— Ei, Jesus foi um cara legal.

— Eu não discordo. — ela olhou para a correntinha em sua mão, a analisando. — É muito bonita.

— Acho que você pode ficar com ela. Eu ganhei do meu pai assim que debutei. E já que você tem quinze anos... — dei de ombros.

— Pode ser a nossa tradição de família. — ela disse enquanto colocava a corrente. — Quando a minha filha tiver quinze anos, eu darei para ela.

— É uma ótima ideia. — sentei na beirada da cama e olhei em volta mais uma vez.

— É difícil estar aqui?

— Um pouco. Mas acho que isso é bom pra mim.

— O universo te dá o que você precisa.

— É. — fiquei pensativa e pousei minha mão sobre o meu ventre. — Tudo bem ficar aqui sozinha por alguns minutos? Eu tenho que ir até uma farmácia.

— Não quer que eu vá com você?

— Não. Fique aqui, fale com seus avós, explore a casa. — fiquei de pé. — Não vou demorar.

— Tudo bem.

***

Andando pela rua, eu peguei meu celular do bolso e liguei para Andrew. Queria avisar que tínhamos chegado e que estávamos bem e também queria ouvir a voz dele. E de quebra, queria contar sobre minhas suspeitas. Não que eu quisesse fazer ele ficar nervoso, mas também não queria ter que lidar com aquilo sozinha. Essa era uma questão tanto minha quanto dele.

— Oi, aqui é o Andrew. Não posso atender agora. Ligue depois ou deixe um recado.

Bufei e abri as mensagens. Sabia que não adiantava ligar novamente. Se ele não atendia, era porque estava realmente ocupado.

"Nós chegamos. Já falei com os meus pais e a Amber pareceu ter se dado bem com eles. Está tudo bem por aqui. Por favor, me ligue quando puder".

Cheguei até a farmácia mais próxima e andei pelos corredores. O lugar estava consideravelmente vazio, já que a cidade era pequena e já tinha anoitecido. Parei na frente da prateleira onde estavam os testes de gravidez.

— Tantos... — resmunguei.

— Meredith? — uma voz familiar disse ao meu lado.

— Jo? — arqueei as sobrancelhas.

— Ah, meu Deus, Meredith! — sorriu largamente, me abraçando logo em seguida.

Naquele abraço, eu notei o pequeno volume da barriga dela contra mim. Talvez estivesse com quatro meses ou cinco.

Bitter SweetOnde histórias criam vida. Descubra agora