Eu Nunca

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Andrew Deluca

Tamanha foi a minha surpresa ao chegar ao meu destino e ver Meredith chutando seu carro constantemente com toda a raiva possível. Eu a avisei diversas vezes que aquilo um dia iria acontecer. Ela não percebeu que estacionei meu carro bem de frente à picape dela, talvez por estar com as energias a mil, dedicando toda a sua atenção a fazer aquele pneu desgastado implorar por misericórdia.

Saí do meu carro já dando risada, pronto para me aproximar e dizer um bom e sonoro "eu avisei". Mas então ela me recebeu com um soco e um olhar de pânico bem esquisito.

Depois de analisar o carro dela e chamar um guincho, nós entramos no prédio. A princípio, eu não queria que ela me acompanhasse, mas Meredith parecia não querer mesmo ficar sozinha ali fora e uma parte de mim amoleceu quando ela me olhou com súplica.

Nós falamos com aquele cara e eu não gostei nada da forma como ele a olhou e falou sobre ela. O homem das cavernas que habita em mim se viu com muita vontade de saltar para fora e esganar aquele porco. Mas então a voz suave e assustada de Meredith me trouxe de volta à realidade e eu vi que o melhor era apenas tirar ela de lá.

O que eu não esperava era que ficaríamos presos no elevador e que eu teria a brilhante ideia de cantar uma música para acalma-la. Não achei que aquilo fosse dar certo, mas fiquei feliz pelo resultado final. Acho que nunca me diverti tanto com uma mulher desde que Sam se foi. Eu queria que aquele momento não acabasse, mas terminou quando a música também acabou. E eu queria beija-la, queria sentir o sabor dela de novo, mas infelizmente, ou felizmente, fomos interrompidos.

Depois de me afastar eu voltei para a minha racionalidade e agradeci mentalmente por não tê-la beijado. Eu não queria estragar as coisas, precisava manter Meredith como apenas uma amiga se eu não quisesse que as coisas acabassem mal entre nós, porque eu com toda certeza destruiria tudo com todos os meus traumas mal resolvidos.

— Merda... — ouvi ela resmungar enquanto olhava para o seu celular. — Sem sinal. A Donna vai ficar preocupada. — guardou o celular de volta na bolsa que estava no chão ao lado dela.

Nós estávamos sentados de frente um para o outro, encostados nas paredes. Ficamos em silêncio por muito tempo, mas aquilo não era ruim, pelo menos ela não estava tendo um ataque de pânico.

— O tempo vai passar mais rápido se a gente se distrair. — ela disse. — Eu sou bem inquieta, então não é legal ficar em silêncio.

— Sobre o que quer conversar?

— Que tal a gente jogar "eu nunca"?

— E como se joga isso? — franzi a testa.

— O que? — ficou boquiaberta. — Nunca jogou? — neguei com a cabeça. — Você é uma espécie em extinção. — riu. — Ok, funciona assim: nós levantamos todos os dedos das mãos. — ergueu suas mãos com as palmas abertas. — Daí um de nós diz algo que nunca fez e se o outro tiver feito, abaixa um dedo. Quem abaixar todos os dedos perde.

— Parece chato e infantil.

— Você que é chato. — revirou os olhos. — Pra ficar mais interessante, sempre que um de nós já tiver feito algo, o outro tem direito a fazer uma pergunta sobre o assunto.

— Hum... — talvez aquele fosse um meio de saber mais sobre todas as curiosas estranhezas dela. — Ok. — também ergui minhas mãos.

— Eu nunca saí do país.

— Isso é golpe baixo. — abaixei um dedo.

— Cada um joga com as armas que tem. — sorriu.

Bitter SweetOnde histórias criam vida. Descubra agora