Fim de Jogo

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Meredith Grey

Era quarta à noite, Andrew me convidou para tomar uma taça de vinho na varanda principal do andar de cima de sua casa. Nós começamos uma conversa bem casual, até tomarmos mais do que apenas uma taça e começarmos a falar de nossas vidas pessoais.

— Sente falta dos seus pais? — ele perguntou.

— Sim. — fui sincera. — Mas eu tento não focar no que é ruim. Prefiro ver a minha vida pelos lados positivos e pelos aprendizados.

— Sabe, docinho, eu te admiro muito. — sorriu.

— Mesmo? — sorri também. — Eu também te admiro.

— Não, não diga isso. — riu de leve.

— Por que não?

— Há coisas que você não sabe sobre mim.

— Me deixe saber.

Ele pareceu pensativo enquanto me encarava. Foi ficando cada vez mais sério e quando pareceu tomar uma decisão, ele encheu sua taça mais uma vez e se recostou na cadeira após tomar um grande gole.

— Sam sofria de depressão. Eu a ajudava como podia, fazia tudo por ela. Em alguns dias ela estava sempre sorrindo, nem parecia que um dia esteve triste. Já em outros dias ela se trancava em seu próprio mundo, não levantava da cama, não falava com ninguém, nem mesmo queria comer. Mas eu sempre estava lá, sempre tive paciência e sempre segurei o mundo dela, juntando cada caquinho só pra ver aquele sorriso que eu tanto amava de novo.

— E eu não deveria te admirar por ter lutado tanto por alguém que amava?

— Quando eu disse que fazia tudo por ela, quis dizer que era literalmente tudo. A depressão estava consumindo a mente dela de formas terríveis, Sam passou a querer coisas que estão fora de alcance para a maioria das pessoas. Muitas dessas coisas foram testes de caráter e eu reprovei em todos eles.

— O que ela poderia querer de tão ruim? — franzi a testa.

— Por que não falamos mais um pouco sobre você? — ele ergueu a garrafa de vinho e encheu minha taça mais um pouco. — Como andam as buscas para encontrar a sua filha?

— Will disse já estar quase a encontrando. Ele não me dá tantos detalhes, só avisa que estamos cada vez mais perto.

— Eu espero que ele esteja certo e que ela tenha crescido em um bom lugar.

— Eu também. — sorri fraco. — As estrelas estão lindas hoje. — olhei para o céu.

— Ficam ainda mais lindas quando refletidas nos seus olhos. — tornei a observá-lo e abri um sorriso.

— Diga-me, o que está acontecendo entre nós? Você disse que estamos nos conhecendo, mas e depois? Não quero ser chata, mas eu tenho trinta anos e um casamento fracassado nas costas. Não posso me dar ao luxo de esperar tanto por um relacionamento sério.

— Mer, eu... — respirou fundo. Andrew me olhou como se estivesse preocupado com alguma coisa ou como se carregasse alguma culpa. — Eu não posso te prometer nada. Não quando eu conheço muito bem a minha instabilidade. Você é especial demais e eu gosto da sensação de estar com você. Mas eu tenho um passado que ainda me consome e eu não sei se vou ignora-lo por mais tempo.

— Andrew, a Sam se foi. — tentei não ser dura ao dizer aquilo, mas ele me olhou como se eu tivesse lhe dado um tapa. — Quero dizer que as pessoas que já não estão aqui não devem interferir no caminho dos que ficam.

— Talvez você não tenha perdido alguém que amasse tanto assim.

— Tem razão, eu não perdi ninguém para a morte. Mas as pessoas que eu perdi estão por aí, longe de mim por não aceitarem a filha grávida. Eles me rejeitaram, nem sei se sentem minha falta. A Sam morreu amando você. Esse sentimento se eternizou.

Bitter SweetOnde histórias criam vida. Descubra agora