Os vagões seguiram por quilômetros através de uma rede de túneis infindáveis. As paredes rochosas escorriam umidade, enquanto luzes sinalizadoras piscavam em tons de vermelho e verde, em contraste na escuridão.Rubi permanecia imóvel entre os pequenos, sentindo o estômago vazio revirar a cada curva brusca em alta velocidade. Os trilhos magnéticos impulsionavam o comboio a uma velocidade suficientemente alta para sentir a inércia a cada mudança de direção.
O primeiro ponto de parada foi num pequeno hangar. Havia oito naves caças modelo VR-13, com pilotagem por meio de sistema neuroelétrico de última geração. A mesma tecnologia que aprendera a usar no simulador de voo e combate da colônia Genesis. A mesma engenharia fornecida pelos seres alienígenas que Botsume conseguiu decodificar em suas pesquisas secretas no laboratório. Tamanho conhecimento a ser usado contra tantas vidas.
Naquele instante, pensou em Botsume. A imagem do seu rosto se misturou a sensação de seu toque quente, enquanto dançavam no salão, na primeira noite. Percebeu a verdade de que uma pequena fração de tempo poderia se converter numa eternidade.
Um sentimento de saudade se fundiu com medo e revolta. Medo de perder Botsume, de perder seu filho que nem nasceu. Revolta por o pai do seu filho ter provocado todos os eventos que sucederam ao sequestro do cargueiro Montenegro.
Seria Botsume seu para que pudesse perdê-lo? Não seria pretenção achar-se capaz de ter esse filho em meio à guerra e a incerteza de sair dessa com vida? Pensamentos obscuros povoavam sua consciência conturbada.
A mente de Rubi estava caótica. A imagem de Botsume deu lugar ao olhar cínico de Twin Landor. A memória de toda extravagância dos colonos marcianos e o colorido de suas roupas fizeram-na sentir repulsa.
A fome e o enjoo tiravam seu foco em pequenos lapsos de delírio que teimavam em aparecer, de forma crescente e progressiva. Ela não podia sucumbir antes de retornar à colônia. Queria ver o pai do seu filho ao menos uma vez mais antes de encontrar seu irresoluto e derradeiro destino.
Assim que percebeu a movimentação de rebeldes para fora dos vagões, Rubi saltou rapidamente, esquivando-se entre as rochas e estruturas metálicas construídas de improviso. A adrenalina se espalhou pelos seus vasos sanguíneos feito uma droga, tornando seus sentidos expandidos e completamente alertas. Tentou controlar a respiração ofegante para que não consumisse o oxigênio tão rapidamente.
Assim que conseguiu se aproximar do grupo sem ser vista, percebeu que os vagões continuaram pelo túnel, sumindo na escuridão. Era o momento de agir.
Malik, Lockheart e Torres não estavam com os rebeldes no hangar. Eles seguiram com os demais, no intuito de liderá-los na invasão da colônia pela cúpula externa. Isso foi um alívio, pois os outros não sabiam sobre Rubi e, deste modo, não seria reconhecida.
Como forma de manter o anonimato, Rubi desligou o microfone do capacete. Ela se embrenhou entre os pilares cheios de fios pendurados e dissimulou fazer parte do grupo de rebeldes que se reunia ao redor de uma grande mesa. No centro, um mapa digital mostrava o trajeto que deveriam seguir.
- Malik deixou instruções contundentes de que devemos partir em tempo exato para coincidir com a abertura dos portões! - disse uma mulher de estatura alta, que tomou a voz de comando daquele grupo. - Não podemos demorar na zona externa, pois mesmo que os radares não interceptem nosso sistema de camuflagem, ainda assim, podem nos localizar visualmente pela torre de observação e comunicações da colônia!
Ela observou a todos, percebendo a presença de Rubi. Chamou a atenção por ser mais baixa que os demais.
- Ei, você! - dirigiu-se a comandante - O que está fazendo aqui?
Todos se voltaram para a pequena mulher, logo atrás. Rubi teve que improvisar, antes que a banissem do local.
- Eu sou uma excelente piloto e conheço a área interna de Genesis, assim como o hangar do espaçoporto!
- Como chegou até nós? Não lembro de você no exílio.
- Eu sou enviada de Botsume, irmão de Malik... eu fui uma infiltrada, coletei informações e estou aqui para ajudar no ataque àqueles porcos Landors!
A comandante ponderou por um breve momento, então perguntou:
- E que tipo de informações você coletou que vai nos fazer ganhar essa guerra?
Rubi precisava fazer o seu melhor, mesmo que seu corpo estivesse gritando por socorro e no seu limite físico. Ela respirou fundo, centrou a mente e apostou todas as fichas na sua convicção de que iria dar certo.
- O hangar da colônia tem um sistema de organização de segurança e ataque, além de uma extensa frota de caças, assim como naves e cargueiros civis. - Rubi se aproximou da mesa e indicou com as mãos os lugares dos quais falava. - A parte de baixo é a zona civil, das naves não militares e sem poder bélico. Na ala oeste ficam os cargueiros de transporte de alimentos e produtos terrestres, e na ala leste ficam os transportes de passageiros. O andar de cima é uma plataforma com dezenas de caças VR-13 armados até os dentes, feito vespas dentro de uma colméia!
- Disso nós já sabemos.
- A questão é que a colônia sediou o encontro da Cúpula dos Dois Mundos, trazendo não só uma grande população civil para Genesis, como também uma frota inteira de seguranças privados para reforçar o exército marciano. Há muito mais vespas nesta colmeia do que você já pode ter contado antes!
- E o que você sugere que façamos, por conta deste agravante?
Rubi sorriu por dentro do capacete, pois acabara de ter uma ideia.
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Os Rebeldes planejam o ataque à colônia marciana enquanto Rubi encontra um jeito de retornar à Genesis.
Qual será o seu plano?
O que Rubi vai encontrar no seu caminho?
Acompanhe os próximos capítulos desta aventura Sci Fi e descubra o seu derradeiro destino!
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GENESIS
Science FictionNo século XXIII, os humanos já haviam colonizado a Lua e o planeta Marte. Porém, as consequências da IV Grande Guerra haviam mudado a Ordem Interplanetária, transferindo o poder dos governos falidos para as grandes corporações privadas. Em contraste...