Capítulo 11

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O dia seguinte, na colônia Genesis, fora solitário e desinteressante. Rubi andou pelo passeio público com suas árvores e palmeiras, olhando botiques e inovações tecnológicas de consumo. Porém, nada preenchia seu vazio interno. Apenas a perspectiva de encontrar Botsume mais uma vez.

Ela havia se acostumado às horas e dias intermináveis vagando no espaço profundo à bordo do velho cargueiro Montenegro. Aquilo que Sand Landor chamara de lata velha fora seu lar por cerca de duas décadas. Mas seu envolvimento com Botsume e a visão dos exilados mudara completamente sua percepção das coisas. O mundo monótono e banal que se mostrava à sua frente na maior parte da vida se transformara numa aventura cheia de surpresas e medo, quebra de paradigmas e incógnitas, inclusive sobre sua própria participação nesta trama.

Pensou se não deveria ter morrido quando sua nave fora invadida por Lockhead. Botsume salvara sua vida e isso deveria significar alguma coisa. Não acreditava em destino, mas ansiava por um propósito maior em sua existência.

Na atual situação, seu intuito era aguardar o retorno de Botsume. O cheiro dele ainda estava no vestido pendurado no closet, como uma lembrança do extase da noite anterior. Tudo lembrava o rosto dele, como uma tatuagem em sua memória.

Um murmúrio chamou sua atenção, quando uma aglomeração de pessoas se formou próximo aos elevadores multidimensionais na ala oeste do passeio.

O Governador Landor entrou na ala pública com sua túnica laranja esvoaçante, seus metais chacoalhantes e uma farta comitiva de bajuladores. Todos no passeio pararam o que estavam fazendo para reverenciar sua chegada. Aleatoriamente, ele oferecia sua mão de unhas impecavelmente feitas para que os súditos pudessem beijá-la. O pesado anel de ouro estava lá, para lembrá-los a quem deviam suas miseráveis almas.

Conforme os colonos se aglomeravam para reverenciar sua excelência, o diminuto arauto anunciou com sua voz ampla e firme:

- O excelentíssimo e reverenciado governador da colônia Genesis, ilustríssimo Senhor do planeta Marte e detentor majoritário da Corporação Landor, nosso magnânimo Sand Landor, vem a este passeio público receber vossa reverência e anunciar que nosso planeta vermelho sediará a tão esperada Cúpula dos Dois Mundos!

Todos presentes ovacionaram o Governador e bateram palmas. Rubi se indagava o porquê de Sand Landor não fazer seu anúncio através das telas ou plataformas holográficas que se dispunham em locais de destaque no passeio público. Provavelmente, sua megalomania se alimentava da bajulação e da energia da massa.

Após longos segundos de aplausos e gritos nada espontâneos, a multidão parou imediatamente ao seu levantar das mãos. Landor falou para os seus súditos:

- Este importante evento histórico será o encontro dos principais líderes políticos e econômicos dos dois mundos: a Terra, o planeta que um dia fora azul, origem ancestral de nossa colônia; e Marte, nosso magnífico orbe vermelho, detentor da mais avançada tecnologia e hospitalidade humanas! - A multidão vibrou quando o Governador anunciou o quarto planeta rochoso do sistema solar.

Ele sinalizou com a mão para que a aglomeração fizesse silêncio, e continuou:

- Na busca de nossos interesses privados de conquista da autonomia política e econômica, este encontro será um passo adiante na emancipação marciana para uma verdadeira nação independente!

O povo gritava e chacoalhava suas pulseiras e colares em aprovação unânime. "Independência!", era o que gritavam. Mal percebiam em suas vidas anestesiadas que quanto mais independentes da Terra, mais dependentes seriam da Corporação Landor. Uma dominação territorial e humana camuflada pelo heroísmo da emancipação diplomática.

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