Capítulo 6

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Ao aproximarem-se do planeta Marte, o sistema de ondas de bloqueio confundiu os radares de varredura remota de Genesis. Isso tornou-os invisíveis o suficiente para darem a volta e manterem inércia paralela ao movimento de rotação na face oposta da colônia. Usando as duas naves auxiliares disponíveis no cargueiro Montenegro, transportaram a maior parte das provisões em direção aos túneis, assim como algumas regalias exclusivas da família Landor.

Rubi desceu até a superfície do planeta vermelho, em auxílio ao descarregamento dos recursos. Vestindo traje espacial, ela levou um tambor de ração entomófila liofilizada através de uma abertura semelhante a uma pequena caverna. A abertura se extendia por um longo túnel, onde pequenos vagões de transporte estavam acoplados a trilhos magnéticos, provavelmente, vestígios do antigo período de mineração.

Vários tambores e galões de água foram empilhados nos vagões magnéticos. Rubi não gostava da forma como Torres a olhava, um misto de malícia e despreso, e decidiu se afastar dele, movendo-se mais junto dos outros.

De longe, ela notou a discrepância nas dimensões de alguns membros rebeldes. Eles eram maiores que os terráqueos.

- O que tanto a intriga? - perguntou Cassius, terminando de carregar o vagão.

Rubi sentia certa empatia por ele, apesar de não confiar. No final das contas, a curiosidade foi maior do que a precaução:

- Por que o brutamontes e seus amigos são maiores do que os terráqueos?

Cassius achou graça do modo como a navegadora, de cabelos e olhos escuros como o espaço, se referiu aos seus subordinados.

- Porque eles nasceram aqui! Nasceram em Marte, num ambiente de baixa gravidade. Isso afeta o metabolismo de crescimento do corpo humano, fazendo com que se alonge, enquanto os ossos tornam-se menos densos.

- O que seria um problema na gravidade da Terra. - concluiu a navegadora.

- Exatamente!

Rubi deu o assunto por encerrado e subiu no vagão. Lockhead foi em seguida e fez sinal para que acionassem o veículo.

O vagão carregado de provisões se deslocou rapidamente flutuando através de alguns quilômetros do tunel escuro, fracamente iluminado por pequenas luzes vermelhas de sinalização. Olhando para trás, viu as lanternas do outro vagão se deslocando nas curvas, subidas e descidas do trajeto. Após alguns poucos minutos, os vagões chegaram numa caverna maior, onde havia uma dezena de homens e mulheres em trajes espaciais aguardando ansiosamente pela mercadoria.

Atrás deles, uma porta se abriu e eles carregaram os galões e tonéis para dentro. Rubi entrou junto deles, ajudando a carregar as provisões. Do outro lado da câmara de despressurização, seguia mais um corredor que levava à outra porta, maior e com os dizeres escrito à mão, em tinta vermelha:

"Bem-vindos ao Exílio".

Quando o portão se abriu, descortinou-se à frente um grande passeio comunal repleto de pessoas e pequenos containers que serviam como quiosques de comercialização. Velhos, adultos e crianças se misturavam às quinquilharias e alimentos pendurados.

Tudo era reciclado. O lixo de alguém poderia ser a matéria prima para outra pessoa. Mesmo as fezes e a urina eram reaproveitados como fertilizantes e para repor parte da água consumida. Não era muito eficiente, porém, permitia a sobrevivência num ambiente de extrema escassez de recursos.

Rubi removeu o capacete e inalou um ar repleto de aromas fortes e de alta umidade. O cheiro de vapores vegetais e insetos cozidos se misturava ao suor e outros odores bacterianos. Os humanos que habitavam o abrigo tinham rostos magros e sujos, com olhares curiosos e repletos de medo. Olhos fundos, anêmicos, famintos por comida e esperança.

Botsume tocou a mão enluvada em seu ombro.

- Espero que agora, você veja a realidade com os próprios olhos...

Rubi olhou para Botsume, num misto de choque, desconfiança e admiração. Nunca imaginara a existência de seres humanos em estado de tamanha privação há poucos quilômetros da colônia marciana e percebeu que a grande massa da humanidade partilhava de sua alienação.

- Me desculpa pelo meu comentário agressivo quando você salvou minha vida! - ela disse, em tom sincero. - Vocês arriscam a pele e os próprios privilégios para salvar essas pessoas da fome e do esquecimento. De certa forma, admiro a sua coragem e rebeldia!

Botsume sorriu e tirou a luva para tocar seu rosto.

- Ainda temos um longo trabalho de volta para a colônia! Temos que por em prática o plano de retorno à Genesis. Eles tem que acreditar que fomos interceptados por um asteroide errante imune aos radares do Montenegro, o que nos fez perder grande parte da mercadoria. Precisamos ser convincentes pra que acreditem não termos nada a ver com isso.

Botsume abriu um imenso sorriso quando avistou outro homem vindo do meio da multidão. Era mais alto, porém, muito parecido com o engenheiro de motores. Os dois se abraçaram em emoção e com entusiasmo, ele o apresentou:

- Rubi, este é meu irmão Malik, o cara que está unindo os exilados para um levante contra a Corporação Landor!


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O refúgio dos exilados foi então revelado! E um levante está prestes a acontecer.

Qual será o papel de Rubi nesta trama perigosa?

Como os tripulantes do cargueiro Montenegro vão retornar à colônia Genesis depois de tamanha revelação?

Acompanhe esta aventura Sci Fi para descobrir estes e outros eventos que estão por vir!

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