GENESIS

Capítulo 16

Rubi acordou com um bip. Virou-se para o lado e percebeu estar sozinha na cama. Uma luz verde piscou no seu tablet slim que estava em cima da cômoda, e esticou o braço com preguiça para pegá-lo. Era uma mensagem de Botsume:

"Me encontre na Cúpula dos Dois Mundos, hoje, no anfiteatro central. Me aguarde na última fileira, longe do Fórum. Já estou com saudades!"

Ao lado do aparelho, havia um par de brincos, como duas pérolas cintilantes a brilhar sobre o pequeno móvel ao lado da cama. Eram pequenos, porém bonitos.

Foi o suficiente para Rubi dar um sorriso, apesar do desânimo inicial por ter acordado sozinha em seu leito. Estava curtindo seu affair com o engenheiro de motores, mas temia pelo futuro imprevisível que se descortinava diante de si. Era como um conto de fadas que poderia se converter em um terrível filme de horror a qualquer momento.

Tomou banho no box de higienização e vestiu um macacão justo de mangas e pernas compridas, de fino tecido azul anil, com um único colar de metal discreto e o cabelo curto com efeito ondulado. Vestiu o par de brincos e passou um batom cor de vinho diante do espelho, encarando seu próprio olhar consciente de que havia outros olhos através da imagem. Sentia estar sendo vigiada a todo instante, num jogo claustrofóbico dentro das paredes espelhadas da colônia Genesis.

Naquela manhã, Rubi não foi para o simulador de voo. Ela saiu em direção ao passeio público de aroma frutado e caminhou na mesma direção em que a multidão se aglomerava. Uma grande fila se formou na entrada do grande anfiteatro.

Um por um, todos os presentes eram minuciosamente revistados por meio de um scanner digital. Qualquer objeto suspeito era confiscado e o portador era levado para interrogatório no setor de inteligência e segurança da colônia. Rubi decidiu não levar nada além do cartão da porta, seu comunicador pessoal de pulso e alguns créditos para comer. Não queria correr o risco de ser barrada.

Twin aparececeu, com sua vestimenta nada discreta e seus metais chacoalhantes. O cabelo lambido simetricamente cortado dava ares de um boneco ventríloco. A navegadora se esforçou para conter um riso espontâneo.

O senhor do entretenimento passou a mão na cintura de Rubi, falando em tom de surpresa:

- Não creio que você veio para a fila com a plebe, mon amour! Os escolhidos dos Landors tem passe livre na área VIP do anfiteatro!

Rubi ficou sem saber o que dizer, uma vez que planejava se encontrar com Botsume na última fileira.

- É que... eu não quero ficar tão na frente.

- Deixa de frescura, petit Rubi. - Twin deu uma piscadela num sorriso interesseiro. - Vamos ter canapés e champagne a vontade!

- Você sabe, tenho fobia a multidões...

O senhor do entretenimento fez uma careta descontente e induziu ela a seguir seu caminho por um corredor lateral até uma porta automática.

Rubi não sabia como se desvencilhar da sua persuasão e dicidiu acompanhá-lo, ao menos, por hora. Era melhor seguir o capacho de Landor e garantir sua presença agora para poder escapar depois. Ela precisava pensar num jeito de se livrar de Twin para se encontrar com Botsume mais adiante.

Chegando em frente à entrada, um pequeno drone esférico de identificação apareceu, com uma luz vermelha em seu centro. Uma voz metálica soou do diminuto aerobot:

- Mostrem suas credenciais!

- Aqui é só a elite, monsieur! - repondeu Twin, mostrando seu cartão translúcido.

A máquina escaneou o cartão, emitindo um laser de varredura. A luz vermelha no centro da esfera mudou sua cor para o verde, acionando a abertura da porta automática logo em seguida. Ao final da averiguação, uma voz metálica concluiu: