Um cordão de guardas da tropa de elite marciana se formou entre o palco da cúpula e a plateia do anfiteatro. Seus capacetes de visores negros e seus blasters luminescentes traziam um ar de truculência e intimidação, que afastavam grande parte da multidão. Porém, muitos colonos ainda gritavam frases de efeito sobre a independência de Marte, enquanto os terrestres se aglomeravam nas laterais, temendo um ataque terrorista ou a perda de controle da massa de humanos exaltados.
Rubi atravessou aquele mar de gente, até a última fileira de acentos. Botsume definitivamente não estava lá e isso aumentou sua tensão e dúvida sobre o verdadeiro sentido de estar ali.
Um olhar mais atento do panorama ao seu redor fez Rubi se dar conta de que um homem encapuzado estava atrás de uma senhora de cabelos dourados. Ela não via seu rosto com clareza, e aquilo a deixou ainda mais preocupada. Outro rebelde apareceu ao lado de um homem cheio de pircings nas orelhas, encarando-a de frente, enquanto uma mulher encapuzada surgiu ao seu lado. Eles estavam misturados na multidão, camuflados pelas vestes extravagantes e volumosas dos colonos e convidados. Rubi compreendeu que a melhor forma de se ocultar uma formiga é dentro de um formigueiro.
Foi quando uma mão grande e forte segurou o ombro de Rubi por trás, quase a matando de susto. Ao virar o rosto, viu ser uma mulher alta e robusta, com o rosto oculto pelo capuz. Ela puxou o tecido para trás, revelando um par se olhos bicolores a fitarem repreensivos.
- O que a madame tá fazendo aqui?
Rubi ficou surpresa ao ver Rocket, com o rosto pintado por uma espécie de graxa, como os antigos guerreiros terrestres.
- Vocês não podem atacar agora! Cadê Botsume?
Os outros encapuzados se aproximaram com olhar em desaprovação. Um deles falou:
- Quem é essa?
- É a namoradinha do irmão do Malik! - respondeu Rocket.
- e o que ela faz aqui? Deveria estar no mesanino!
Rubi ficou confusa. Como eles sabiam que ela estava no mesanino?
- Tirem ela daqui, e prossigam com as ordens do Malik! - concluiu Rocket, pondo o capuz de volta e saindo pelo meio da multidão.
Um encapuzado corpulento a pegou com força pelo braço e, pela risada sarcástica, persebeu ser Torres, o invasor da Montenegro que assassinou o comandante Argos Polensky e sua tripulação.
- Me solta, seu brutamontes!
Sem ligar para a ofensa e a tentativa de se libertar, ele arrastou Rubi pelo braço, em direção à uma discreta saída de emergência ao fundo do anfiteatro. Rubi ainda ouviu barulho de tiros e gritos desesperados ecoarem pelo salão, seguido de uma correria para todos os lados, feito formigas em um formigueiro que acabara de ser pisado.
- Pra onde você tá me levando? O que vocês fizeram? - tentou Rubi, inutilmente.
Torres deu um soco em seu rosto, fazendo a navegadora cair desnorteada no chão. Seu braço era muito pesado e a força do impacto sacodiu seu cérebro feito uma gelatina. Ela não conseguia se situar no tempo e espaço, vendo imagens desconexas e confusas.
Torres a arrastou para longe dali, num corredor escuro e abafado, através de uma saída de serviços.
No corre-corre do anfiteatro, Twin assistia a tudo bastante assustado. Houve troca de tiros laser entre os exilados e os seguranças armados com blasters.
Rocket se embrenhou entre os expectadores e flutuou rapidamente por meio de uma pequena plataforma metálica antigravitacional em forma de skate, permitindo-lhe uma ampla visão do anfiteatro. Guardas começaram a atirar, enquanto ela se movimentava rapidamente em um rasante acima da multidão. Enquanto surfava em uma curva de 90° sobre o ar, ela mirou na cabeça do governador Landor e atirou uma saraivada de laser.
Momentos antes, seu segurança pessoal empurrou-o para o chão, fazendo com que os tiros acertassem no crânio do presidente terrestre, que estava em pé, logo atrás. O facho de laser concentrado fez explodir os miolos do convidado de maior prestígio e importância de toda a cúpula, deixando até mesmo Rocket atônita com o próprio desfecho.
Sangue e estilhaços de ossos se espalharam pela mesa e assoalho, respingando nos rostos e vestimentas dos convidados terrestres, que olharam horrorizados para o cadáver sem cabeça estirado no chão. O mais alto cargo político da Terra fora assassinado diante de centenas de pessoas, gerando um incidente diplomático sem precedentes.
Atordoada pelo equívoco que acidentalmente cometera, Rocket demorou alguns segundos para uma manobra evasiva, tempo o suficiente para que um pelotão inteiro de segurança alvejasse seu corpo simultaneamente.
A rajada laser espicaçou-a em vários pedaços. A mutilação de sua carne provocou uma chuva escarlate sobre as cabeças dos expectadores que corriam em desespero logo abaixo. A Cúpula dos Dois mundos se convertera num show macabro de sangue e traição.
Rubi recobrou a consciência, e sentiu seu corpo chacoalhar enquanto alguém tentava abrir seu macacão à força, resmungando xingamentos. Estava escuro e muito abafado, diferente do aroma frutado e fresco das dependências comunais da colônia.
Era Torres. Ele estava sobre seu corpo, com dificuldades de abrir suas vestes na clara intenção de estuprá-la, logo em seguida.
Num aro reflexo de auto-preservação, Rubi pôs as duas mãos na cabeça de seu agressor, segurando os dedos com força por trás de suas orelhas e afundando os polegares finos em direção aos olhos de seu abusador. A ponta de uma das unhas perfurou através do gelatinoso globo ocular, fazendo-o urrar feito um urso, cuspindo palavrões enquanto jogou seu corpo enorme para o lado.
Aquele monstro exalava um odor horrível de suor e metano, proveniente de seu hálito pútrido. O cheiro nauseante a deixou enjoada, fazendo-a sentir ânsia de vômito. Rubi se afastou do corpulento homem que gritava no chão, tentando estancar o sangue que escorria do próprio olho. Ela levantou às pressas, correndo de volta pelo caminho escuro até a porta que levava ao anfiteatro, deixando o abusador ali, se contorcendo em sua dor.
Ao abrir a porta, de volta ao anfiteatro, Rubi se deparou com uma centena de seguranças escoltando os convidados terrestres para seus alojamentos e mais uma dezena de paramédicos atendendo pessoas feridas e mortas pelo chão. Algumas estavam sem o braço, outras com ferimentos leves, como queimaduras provocadas por tiros laser de raspão. O presidente da Terra estava em uma maca sem a sua cabeça.
Rubi ficou em choque, e uma golfada de comida subiu pelo seu esôfago, regurgitando o pouco que havia comido para fora do estômago. Um paramédico que passou por ela veio em seu amparo:
- Venha comigo! Você parece machucada, precisa de cuidados!
Sem resistir, aceitou o amparo médico e rumou com o doutor e os demais feridos até a enfermaria da colônia, enquanto uma voz ecoava uma mensagem em todos os canais midiáticos de comunicação da colônia Genesis:
- Retornem aos seus alojamentos, para sua segurança e conforto! Todas as saídas do complexo marciano serão bloqueadas e nossos inimigos serão duramente punidos! Todo e qualquer cidadão que tiver envolvimento com a Rebelião será preso e executado sem piedade por motivo de alta traição!
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A Rebelião tomou o seu rumo e um grave incidente diplomático acabou por acender o pavio de uma guerra interplanetária.
Como os Marcianos reagirão diante desta alta traição?
O que Rubi deve fazer para escapar desta rede perigosa em que se envolveu?
Acompanhe os próximos capítulos de Genesis e descubra o que vai acontecer nesta grande aventura Sci Fi!
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GENESIS
Science FictionNo século XXIII, os humanos já haviam colonizado a Lua e o planeta Marte. Porém, as consequências da IV Grande Guerra haviam mudado a Ordem Interplanetária, transferindo o poder dos governos falidos para as grandes corporações privadas. Em contraste...