Naquela noite, Rubi e Botsume deixaram o salão despercebidos. Sand Landor se esbaldava com cochas de galinha assadas enquanto a esposa de seu bajulador massageava-lhe as costas. O ambiente Vip da colônia Genesis era bizarro de mais para aqueles que buscavam apenas a dignidade de viver com contentamento. Um verdadeiro espetáculo de desperdício, vulgaridade e injustiça com todos aqueles que viviam confinados no exílio.
Assim que escaparam do salão de horrores, sentiram-se aliviados, como se mãos pesadas tivessem saído dos seus pescoços. Esperaram pelo elevador numa ânsia apressada, um olhar de encontro ao outro, numa comunicação silenciosa onde imperava o mesmo desejo.
Quando as portas do transporte se abriram, eles trocaram olhares com paixão avassaladora. Não resistiram ao desejo que aflorava pelos poros da pele, num calor que incendiava mesmo o frio glacial do arcondicionado.
Entraram juntos e, quando a passagem se fechou atrás deles, seus corpos se encontraram como um ímã, numa atração irresistível.
Vida e morte, nada mais importava naquele momento. Ele só queria sentir o corpo quente e moreno dela, com seu perfume doce a penetrar-lhe as narinas como uma droga alucinante. Ela se entregou sem pudores aos braços firmes de Botsume, que a amou loucamente, ali mesmo, como se fosse o último instante de sua conturbada existência.
Momentos após o clímax, o elevador parou.
As portas se abriram revelando o passeio central, com seu perfume frutado e palmeiras exuberantes. Por um momento, Rubi chegou a esquecer do roubo do cargueiro e da iminente rebelião dos exilados. Mas sua consciência retornou quando Botsume cochichou em seu ouvido antes de se separarem em direção aos seus alojamentos:
- Fica comigo, Rubi! Não vou conseguir concluir minha missão sem você!
Um arrepio subiu pela espinha da mulher de esmeralda, que respondeu um pouco hesitante:
- Eu... eu vou com você!
Botsume sorriu, fortalecendo sua esperança. Sabia que se envolver emocionalmente poderia ser um grande risco, poderia por tudo a perder. Mas era tarde de mais. Ele já havia sucumbido aos mais loucos sentimentos da paixão.
- Fique atenta a cada movimento na colônia. Se distraia um pouco, visite os viveiros, você vai gostar. Eu te procuro assim que tiver tempo livre no Laboratório.
- E quando vai ser isso? - perguntou Rubi, um pouco assustada com a perspectiva de ficar sozinha em Genesis.
- Não se preocupe! São turnos intercalados. Eu começo de amanhã. Nos encontraremos à noite, no seu alojamento!
Rubi sorriu, apesar de estar sentindo um desconforto com a situação. Ela queria viver uma aventura, amar sem sensura, mas a que preço? Sua escolha parecia ter um destino ainda incerto.
- Rubi... - concluiu Botsume, pegando em seu braço com a mão firme. - ...lembre-se: não chame a atenção! Sei que há câmeras e drones por toda a colônia, mas aja acima de qualquer suspeita. Me prometa que vai se cuidar!
- Sim... eu sei me cuidar!
Ele a beijou com vontade e se despediu com seu olhar, um misto de preocupação e sentimento de dever. Virou-se para o passeio comunal e seguiu para o seu alojamento, junto dos oficiais do alto escalão.
Rubi tirou os sapatos de salto, que estavam aniquilando os seus pés. Ela seguiu para seu quarto, depois de atravessar a sala comunal repleta de espelhos.
As múltiplas imagens refletiam o brilho do seu vestido, algo que jamais tivera a oportunidade de usar antes. Estaria gostando da pompa e do luxo? Talvez, mas o desconforto de saber a verdade a despertava daquela ilusão momentânea.
O gosto dele ainda estava em sua boca e ela se jogou na cama, exausta. Entregue à uma noite sem sonhos, ela dormiu sem ao menos tirar o vestido.
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Em meio ao conflito e à iminente rebelião, surge uma esperança romântica entre os protagonistas.
Será um momento de trégua, antes do confronto, ou um ato insano e perigoso que poderá por tudo a perder?
Quais consequências poderão decorrer desta improvável e louca paixão?
Acompanhe os próximos capítulos e descubra o que acontecerá com os tripulantes do cargueiro Montenegro em sua estadia na colônia Genesis!
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GENESIS
Science FictionNo século XXIII, os humanos já haviam colonizado a Lua e o planeta Marte. Porém, as consequências da IV Grande Guerra haviam mudado a Ordem Interplanetária, transferindo o poder dos governos falidos para as grandes corporações privadas. Em contraste...