Na hora marcada, os tripulantes do cargueiro Montenegro seguiram para a ala restrita da Corporação Landor. Um lugar, evidentemente, projetado com muito luxo e pompa.
Pilares de aço leve se entrelaçavam aos metálicos vitrais triangulares, desenhando um caleidoscópio na abóbada que se projetava no teto. Um jardim exótico e exuberante trazia um aroma de capim e flor. Um passeio central levava até uma construção predial geometricamente inovadora, longe de tudo o que Rubi já havia visto. As paredes espelhadas confirmavam o incentivo à vaidade, ou seria apenas um truque da arquitetura para dar maior sensação de amplitude ao ambiente claustrofóbico.
Botsume apareceu vestindo um traje de gala preto, o suficientemente justo para delinear discretamente o contorno dos seus braços fortes. Os cabelos negros e compridos estavam presos para trás, enquanto as extremidades se extendiam até os ombros. Ele havia delineado o bigode e a barba ralos, em ângulos retos. Exalava o aroma de colônia amadeirada, aguçando os sentidos de sua companheira de missão.
Ele ficou fascinado ao se deparar com a beleza estonteante de Rubi. Seus olhos pareciam hipnotizados pelo verde esmeralda sintilante que contornava o corpo torneado diante de si. Seu cabelo curto deixava à mostra o pescoço delicado, que seguia em harmonia descendo às costas nuas até a cintura. Tinha os braços e pernas fortes, sem perderem a maciez. O volume dos seios eram discretos, harmônicos, perfeitos. Sentiu o desejo percorrer seu sangue, acelerando os batimentos como um garoto na puberdade.
Ela realmente escondia uma escultura por baixo daquele macacão sem graça que usava no Montenegro. Imaginou quantas vezes eles se encontraram na ponte de comando, Botsume tentando chamar a sua atenção com comentários cômicos enquanto Rubi o desprezava pela sua ironia.
No fundo, ele a admirava pela sua personalidade forte. Naquele exato momento, ele queria se embriagar naquele oceano verde que se esparramava sobre a pele cor de canela.
- Você está magnífica!
Rubi corou. Estava acostumada aos uniformes unisexuados usados no cargueiro. Se enfeitar com um belo vestido feminino a deixou estranhamente contente, porém, em um campo de vivência ainda desconhecido.
- Você também está muito elegante!
- Eu sou bonito, confessa!
Rubi sorriu, quando um drone munido de uma câmera de identificação focou os convidados pedindo suas credenciais. Botsume puxou um cartão translúcido e mostrou para o pequeno dispositivo. Um rápido bip soou e os portões da ala restrita da Corporação Landor se abriram diante dos novos convidados.
Duas centenas de pessoas se expalhavam por um imenso salão, decorado luxuosamente com pilares de mármore ao estilo romano e um ladrilho de ônix e jade em mosaico. Havia farta oferta de comida e o desperdício parecia bastante evidente.
Três mesas imensas ostentavam carnes de diferentes tipos e molhos, e se estendiam logo na entrada. Nos fundos, uma banda de jazz quântico animava algumas pessoas em trajes brilhosos que se balançavam com seus metais na pista de dança, acompanhando o ritmo repetitivo e hipnotizante.
Os tripulantes do cargueiro Montenegro ficaram impressionados com o banquete. Nunca haviam degustado carne vermelha, assim como massas de trigo, queijos e embutidos frescos. Tudo regado a muito vinho e drinks destilados.
- Oh, vocês finalmente chegaram! - anunciou Sand Landor, com uma espécie de aro douraro feito uma coroa no topo da cabeça. Ele vestia uma túnica verde e vermelha esvoaçante. - Você está monumental! - falou, direcionando-se à Rubi com olhos maliciosos. Seus bajuladores estavam ao redor e imitavam-no em seus gestos.
- Obrigada, Governador. - respondeu Rubi, sem fingir o desconforto.
- Venham desfrutar de minha humilde mesa! Não é sempre que temos um raro vinho da safra de 2168!

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GENESIS
Science-FictionNo século XXIII, os humanos já haviam colonizado a Lua e o planeta Marte. Porém, as consequências da IV Grande Guerra haviam mudado a Ordem Interplanetária, transferindo o poder dos governos falidos para as grandes corporações privadas. Em contraste...