GENESIS

Capítulo 21

Murdock a levou até a zona de testes numa ala restrita do Centro de Ciências e Engenharia da colônia Genesis. O ambiente climatizado estava frio e um grande painel exibia cálculos matemáticos e signos em uma linguagem que Rubi desconhecia.

No centro do laboratório, havia uma grande plataforma iluminada, com uma caixa metálica disposta em seu centro. No instante em que chegaram, uma imensa concentração de energia envolveu a caixa e um grande clarão tomou conta de todo o laboratório, cessando logo em seguida. A caixa havia desaparecido.

- Consegui! - gritou eufórico um homem do outro lado do laboratório, com um óculos de proteção e um sorriso estampado no rosto. Rubi o reconheceu e seu coração apertou.

- Botsume! - ela gritou em seguida e correu em sua direção, abraçando-o como se não o visse há anos.

- Rubi, o que faz aqui? O que fizeram com você? - ele disse, assim que viu o hematoma em seu rosto.

- Por que você não foi na Cúpula? Onde você esteve???

Botsume respondeu ao abraço e tentou acalmá-la:

- Estive envolvido com o momento crucial de minha pesquisa de tecnologia reversa alienígena aqui no laboratório! Como viram, eu consegui resolver os algorítmos que faltavam para transportar a caixa para um planeta há milhares de anos luz daqui!

Rubi ficou triste por ele não ter cumprido o combinado, mas também se sentiu surpresa com o que ele acabara de afirmar.

- Como? Que planeta?

- O mapa celeste que recebemos dos alienígenas mostra que existem outros planetas distantes na galáxia capazes de abrigar vida orgânica como a nossa. Entre centenas de possibilidade, encontramos um planeta capaz de abrigar vida humana, que batizamos de Perséfone, por aparecer e desaparecer dos nossos sensores a cada estação, ocultando-se atrás de seu sistema solar binário. O mais incrível é que consegui enviar a caixa para lá por meio de uma plataforma criada para converter as moléculas materiais em ondas e enviá-las por via subespacial, para que se rematerializem no seu ponto de convergência! Finalmente eu consegui transportar um material físico por meio de salto espaço-temporal para milhares de anos luz daqui! Isso não é incrível? Podemos mandar os exilados para um novo mundo, para recomeçarem suas vidas longe da tirania marciana!

Seu entusiasmo era genuíno e Rubi, por um momento, quase esqueceu do que fora fazer ali.

- Mas, quem são os alienígenas? Por que estão mandando essas informações pros humanos?

- Conseguimos criar um sistema de tradução, que ainda não está completo. Mas já tivemos sucesso em desvendar algumas das mensagens codificadas que recebemos, o que nos permitiu desenvolver essas novas tecnologias.

Botsume mostrou uma série de mensagens em seu painel de controle, com signos estranhos e sua provável tradução, baseada em cálculos matemáticos complexos. Parando em uma mensagem específica, o engenheiro de motores prosseguiu sua explicação:

- Pelo que conseguimos compreender, eles se auto-denominam Narmors, uma coletividade que se comunica por redes neuroelétricas complexas, sem a necessidade de uma linguagem formal. Usamos este princípio para desenvolvermos os sistemas de controle neural das naves, com uma acurácia impressionante!

Seus olhos brilhavam a cada descoberta que desvendava. Era como um garoto que andava de bicicleta pela primeira vez, só que com brinquedos mais complicados.

- Por isso... - continuou. - ...a dificuldade em simplificar a comunicação com nós humanos, seres que devem considerar como mais primitivos.

Rubi ficou apreensiva pela perspectiva de uma nova espécie alienígena superior. Aquilo poderia ser perigoso. E se nos considerassem arcaicos de mais para uma relação pacífica? E se nosso atrazo tecnológico significasse maior vulnerabilidade para um controle ou submissão política? Muita desconfiança passou por sua cabeça, até que seus pensamentos foram acordados pela fala entusiástica de Botsume:

- Eles afirmam estar nos enviando novas tecnologias para que possamos nos aproximar do nível de avanço deles, propiciando um futuro encontro entre as duas espécies! Imagina, Rubi! Isso não seria magnífico? Precisamos imediatamente comunicar Malik destas descobertas, para organizarmos o êxodo dos exilados!

A navegadora não queria destruir a empolgação de Botsume, mas acreditava que tanta animação o estava cegando do potencial perigo. Era muito estranho que uma espécie alienígena de tecnologia superiora voluntariamente transferisse todo esse conhecimento sem querer nada em troca. Era ingenuidade acreditar que um caro preço não seria cobrado depois. E pelo que Rubi presenciara, não era interesse de Malik abandonar a colônia, e sim, tomá-la dos Landors.

- Botsume, eu... - ela se emudeceu, procurando uma maneira de contar a verdade sobre sua situação, mas a pausa em sua fala abriu brecha para que ele continuasse seu monólogo, enquanto mostrava imagens holográficas em sua mesa de pesquisa:

- E tem mais! Recebemos instruções para a produção de robôs nanométricos capazes de trabalharem sob programação a nível nanomolecular, para rearranjo genético na correção de falhas e introdução de genes para melhoramento biológico!

- Botsume... - ela tentou de novo. - ...eu tenho que te contar uma coisa!

Ele interrompeu a fala e olhou nos olhos dela. Aquela mulher que sempre parecera tão forte, tão dona de si, agora mostrava-se frágil e vulnerável, como nunca antes.

Ele percebeu, sem jeito, a própria falta de gentileza e tentou contornar a situação.

- Desculpa, Rubi! Você está aqui por um motivo e eu tomei seu tempo com minhas descobertas e o meu trabalho. - ele se aproximou de novo, passando a mão em seu cabelo, olhando sua face com preocupação e ternura. - Me conte, o que aconteceu?

Quando Rubi abriu a boca para falar, a porta do laboratório se abriu e uma tropa de segurança armada até os dentes entrou na zona de testes.

- O que está acontecendo aqui? - Murdock falou, indignado com a invasão do seu laboratório.

Um dos seguranças deu uma coronhada com o megablaster no rosto de Murdock, derrubando-o no chão.

Rubi mirou a pistola laser no atacante e acertou-o no peito, atravessando sua carte e derrubando-o para trás.

Um dos militares que liderava a tropa de assalto acionou uma arma eletroshoccker, atordoando os dois enquanto uma dor paralizante se espalhava pelos seus nervos e articulações. Com sorriso sarcástico, ele falou por dentro de seu capacete negro, em tom ameaçador:

- Vocês estão detidos por alta traição e permanecerão calados até o interrogatório, sob pena de tortura e morte caso haja insubordinação!

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A tropa de soldados marcianos interceptou Rubi antes que ela conseguisse revelar sua condição.

Como ela vai escapar dessa?

O que a Corporação Landor vai fazer com eles?

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