Capítulo 24

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- Vá lá, ruivinho, não pode ser assim tão difícil partilhar desejos. – Aryn começava a ficar enervada com o facto de não conseguir criar a ligação com o Rafy.
"A culpa não é só minha, tenho a certeza de que tu não estás a partilhar o teu segredo mais íntimo." – falou o ruivo em forma de dragão.
Como o Rafy era um dragão enorme, eles tiveram que ir treinar para longe do reino.
Aryn encostou a testa no focinho quente do dragão dourado e começou a chorar.
- Acho que entendo o porquê de teres recusado ser Deus. Pelo menos tu tiveste a chance de recusar. – Falou baixinho a mulher de cabelos negros estrelados.
"Eu não recusei, porque ser Deus é uma merda, eu recusei porque eu coloquei alguém primeiro que eu, e jurei proteger essa pessoa"
- Tenho que conhecer essa pessoa tão importante. – Aryn deu uma leve risada e levantou a cabeça. – Um dos meus desejos mais íntimos é poder ter paz. – Confessou a Deusa enquanto uma lágrima descia pelo seu belo rosto.
Rafy abriu a boca e o calor da sua boca secou o rosto molhado da Deusa da escuridão e morte.
- Agradeço a intenção, mas da próxima vez lava os dentes antes de fazeres isso, nojento.
"Em minha defesa, o veado que eu comi estava delicioso"
- Não há defesa nenhuma, o teu hálito de dragão é de morte.
"O senhor penas delicadas vem aí..."
Aryn virou-se na direção que o Rafy olhava e reparou no Rohan que caminhava na direção deles.
- Não estás longe da rainha? – perguntou Aryn com ironia.
- Azessian está a cuidar dela... O povo de Windrom foi dividido.
- O que isso significa?
- Significa que neste momento metade de Windrom caminha para norte de Tessegard onde supostamente estão os Deuses. – respondeu Rohan.
O dragão atrás da Deusa diminuiu de tamanho até ficar do tamanho de um humano. Rafy meteu-se atrás da Aryn de forma a ninguém reparar no seu corpo nu.
- Tessegard fica no meio do Continente, para chegar lá eles ainda têm muitos dias de viagem. – Falou Rafy.
- A forma mais rápida seria ir pelo mar, mas mesmo assim ainda tinham que passar por Atlantqueen já que ambos fazem fronteira. – Continuou Rohan.
- Temos mais ou menos duas semanas para nos preparar e para chegar em Skitrum. – Murmurou Aryn pensando num plano para chegar rápido ao reino do Deus Damenius.
- Reunião na sala de guerra dentro de meia hora, vou avisar os outros. – Falou Rohan antes de levantar voo.
- Tenho que admitir, se eu não te conhecesse, eu dava para ele. – Confessou Rafy ainda nu.
- Ele é hétero, não joga para os dois lados como tu.
- Pena... Alguém que jogue para os dois lados?
- Temos uma guerra para ganhar e tu estás a pensar em sexo?
- Guerra deixa-me nervoso, eu preciso de aliviar para não fazer asneiras. – respondeu Rafy.

***

Estavam todos na sala de guerra a olhar uns para os outros. Brisana estava sentada no topo da mesa enquanto Rohan estava sentado no outro topo da mesa. Homens importantes do exército também estavam presentes, Aryn estava sentada entre os dois com Rafy e Azessian de pé atras de si.
- O plano é o seguinte... vamos para sul de Tessegard, encontramo-los no centro e atacamos de surpresa. – Falou o velho Duque Harbal.
- Esse plano é estupido e preguiçoso. – Falou Azessian.
- Se me lembro bem, tu não pertences a este reino, nem mesmo a este mundo, demónio. – Os homens riram do Azessian.
- Se acham que chamar-me de demónio vai me fazer sentir inferior, estão muito enganados, humanos...
- Azessian pertence a este mundo sim, ele viveu mais tempo aqui do que qualquer um de vocês vão viver e ele tem razão, o teu plano é estupido. – Aryn levantou a voz.
- O que sugeres Aryn? – questionou Rohan pousando o queixo no punho.
- Vamos dar ouvidos a uma falsa Deusa? – Lorde Cornell levantou-se da sua cadeira.
- Falsa Deusa? É assim que sou chamada? Deixa-me que lhe diga que quando, vossa alteza estiver a morrer deitado na sua cama e molhado do seu mijo, vou ser eu quem vai decidir o seu destino e aí sim, vai conhecer a verdadeira Deusa da morte.
Os olhos da Aryn ficaram verdes em sinal de raiva, Rohan pousou a mão na espada que tinha a cintura e Rafy pousou a mão no ombro da Deusa de forma a acalmar o poder dentro dela.
- Aryn, o teu plano, por favor. – A voz do Rohan acarinhou a mente da Aryn de forma a ela voltar ao normal.
- O meu plano é levar o máximo de pessoas possíveis com o meu poder para Skitrum, os restantes podem ir de barco, que é mais rápido, ou a pé.
- Quando chegarmos a Skitrum vamos para perto da fronteira. – Rafy apontou para o mapa que tinha na mesa. – Entre ambos os reinos há uma enorme área onde podemos instalar as pessoas e contruir o acampamento, se as contas estiverem certas, conseguimos chegar, pelo menos, cinco dias mais cedo do que o outro exército.
- Quando o exército deles chegar, deixamos -os atacar e nós perdemos. – Completa Azessian.
- Perder?  É esse o vosso incrível plano?  Brisana, eles nem deviam estar aqui! – Duque Harbal eleva a voz.
- Primeiro, é Rainha Brisana, não somos amigos para poder me tratar com tanta intimidade, e segundo, Lorde Rafy e Lorde Azessian tem muita mais experiência em batalhas de que vós. – A voz da rainha estava carregada de poder e determinação deixando Aryn orgulhosa da sobrinha. – Se Rohan e o meu pai acharem que o plano é o melhor, então podemos começar a preparar as coisas para os eventos que se aproximam.
- É como se diz, tu não ganhas uma guerra sem perder uma batalha. – Caspian falou. – Vamos seguir o plano da Aryn, quem estiver contra pode sair desta sala, deste reino e morrer num campo de batalha contra nós.

***

- Tens a certeza de que consegues transportar um grande número de pessoas? – perguntou Rohan.
- Eu...
Alguém abre a porta da sala de guerra.
- Desculpa, eu vi que a reunião tinha acabado e disseram-me que o Rohan ainda estava aqui. – Lady Mirian estava a segurar a porta pronta para voltar a fechar.
- Lady Mirian, por favor fique, eu gostaria de falar consigo. – Pediu Aryn.
Desde a rainha até o próprio Rafy ficaram confusos com o pedido da Deusa.
- Respondendo à tua pergunta Rohan, eu posso e vou transportar todos os necessários incluindo a tua esposa.
- Porquê a Mirian?
- Eu ouvi na ala de enfermaria que Lady Mirian era a melhor e, com a ajuda dela e com o conhecimento do Fauser, acho que eles poderão fazer um grande trabalho com os feridos que vai haver.
- Eu aceito. – Lady Mirian falou.
- Não... - Rohan olhou sério para a sua esposa.
- Sim, eu quero ajudar, Jon pode muito bem ficar com alguma criada. – Mirian falou com garra. – Eu quero estar lá e lutar pelo meu povo.
- Nunca negues o pedido de uma mulher, anjinho. – Rafy sorriu maliciosamente.
- Fauser?
- Seria uma honra seguir as tuas ordens. – Fauser abaixou a cabeça em sinal de respeito.
- Lembras-te daquilo que te disse na última vez que tivemos nesta sala, Rohan?
- Não confies em Deuses...
- Isso também, mas eu disse algo mais. – Aryn olhou nos olhos roxos daquele que em tempos foi dela.
- Confia naqueles que se sentam à mesa. – Murmurou Rohan olhando para as pessoas à volta da mesa.
Rainha Brisana no topo, Sanrya sentada ao lado da filha, Caspian do outro lado da rainha, Fauser à direita da antiga rainha, Hoddy sentado ao lado do seu velho amigo. Aryn estava entre Rafy e Azessian, este último estava ao lado do lobo. Por último estava Mirian, sentada ao lado do marido.
- Vai correr tudo bem. - murmurou a Sanrya conforme acariciava a mão da filha.

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