Capítulo 25

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No Sul de Skitrum estavam todos atarefados, metade do exército de Windrom já tinha sido transportado pela Aryn, outra metade ainda ia ser transportado para Barafall e uma pequena parte ia pelo mar.
Com a junção do exército de Barafall e Skitrum a chance de ganhar era enorme, mas para isso tinham que gastar energia e poder, eles não se podiam dar ao luxo de desperdiçar tal coisa.
Quando Aryn apareceu ao lado do Rohan, ela teve que se segurar no anjo antes de cair.
- Estás cansada, eu levo-te para a tenda que foi designada para ti. – Falou Rohan ao pegar na Deusa ao colo.
- Eu estou bem, leva-me para onde estão todos.
- Não, tu estás esgotada, não devias ter gasto o teu poder de tal forma. – Repreendeu o anjo.

O facto de estar a transportar demasiadas pessoas pela escuridão enquanto o sol ainda estava alto, estava a gastar as forças da Aryn e nos últimos dias parecia que tinha ficado doente já que andava a desmaiar e a ter tonturas, mas ela não contou a ninguém, ela iria contar caso piorasse, mas até lá ia aguentar.  
- Eu ainda tenho muito poder para usar...
Aryn encostou a cabeça no ombro do anjo e se deliciou com a fortes mãos dele no seu corpo. Por momentos ela desejou voltar para as profundezas do castelo onde ela podia senti-lo. Mesmo com grades a dividi-los, lá ele era dela e de mais ninguém. Por breves momentos ela desejou que Lady Mirian fosse feia e burra como muitas mulheres da realeza, mas por mais que desejasse voltar ao passado, o sentimento de culpa, por desejar tal coisa, sobressaia e esmagava o seu coração. E outro tipo de amor sobressai ainda mais a esse desejo, o amor de amizade e de irmãos, no final de tudo uma parte da Aryn nunca ia deixar de amar Rohan e de deseja-lo, mas essa parte podia ser deixada num fundo enquanto outra começava a se revelar.
Rohan entrou numa tenda vermelha e lá dentro tinha uma cama de casal e uma mesa com frutas. O anjo pousou a Deusa na cama e tapou o seu corpo que tremia.
- Obrigada, Rafy... - falou baixinho a Deusa antes de adormecer num sono pesado.

Rohan abandonou a tenda e quando estava a chegar perto do Caspian e do Rafy,  Hoddy e Fauser se aproximaram do anjo para falar.
- Como ela está? – perguntou o anão.
- Cansada, ela transportou muita gente ao mesmo tempo.
- E tu? – Fauser olhou para Rohan como se entendesse que algo mais se passava.
- Eu estou bem, nada a que já não esteja habituado.
- Não estou a falar disto. – Fauser fez movimentos com o braço de forma a resumir tudo. – Estou a falar em relação a ela.
- É estranho, não temos falado muito... Quando a deitei na cama dela, ela disse "obrigada Rafy".
- Auch, o ego do anjo assassino foi magoado. – Hoddy brincou.
- Não vou mentir, uma parte de mim meio que ficou magoado, outra parte ficou feliz por ela encontrar alguém, mesmo que seja um dragão incrivelmente belo. – Rohan olhou para o homem ruivo que conversava com o lobo.
Algo no Rafy transmitia confiança para o Rohan, o anjo sabia que podia confiar nele para proteger Aryn. Ele percebeu isso quando observou o treino deles, de longe, antes de avisar que Windrom tinha sido dividido.
Como se sentisse o olhar do Rohan, o dragão olhou de volta e sorriu para o anjo como uma confirmação de que ele ia proteger Aryn a todo o custo.
- Devias conversar com ele, tentar entender as intenções dele com a Aryn. – afirmou Fauser.
- Hoddy, vens comigo conversar com ele?
- Desculpa amigo, mas eu vou preparar algo para quando a Aryn acordar poder comer.
- Certo...
Rohan aproximou-se do Caspian e do Rafy interrompendo a conversa de ambos.
- Posso falar contigo por uns minutos Bornbreeze?
- Claro. – Concordou o dragão antes de se afastar do lobo.
Por alguns segundos, ambos os homens caminharam em silêncio pelo acampamento que tinham montado.
Homens e mulheres andavam de um lado para o outro a preparar tudo, faltavam três dias para o inimigo chegar.
- Amas-a? – soltou Rohan sem olhar para o ruivo.
- Difícil não amar alguém como ela. - respondeu sem precisar saber qual era o motivo da conversa.
- O pai dela não vem? – Perguntou o homem de cabelos azuis e tatuagens.
- Haus há de aparecer, ele não deixaria Ollein solta por muito tempo.
- Tu e a Aryn tem uma ligação, certo? Eu vi no outro dia, que ela falava contigo e parecia que ela te conseguia entender.
- Isso é a ligação entre o cavaleiro e o dragão, eu consigo falar com ela através do pensamento.
- Isso é bastante interessante, parece quando o Naxos conseguia sentir o que a Aryn sentia.
- É parecido... Sabes, a Aryn culpasse por não ter voltado mais cedo e ter aproveitado mais tempo convosco, querendo ou não, vocês são a família dela.
- Ela também é a nossa família. Ela foi o principal motivo de termos continuado todos juntos. Ela é especial. – Rohan olhou no ouro que brilhava no olhar do Rafy.
- Tu ainda a amas. – Não era uma pergunta, mas sim uma afirmação. – Vamos ter que lutar para saber quem é que vai ficar com ela?
Rohan soltou uma risada genuína ao ponto de pousar a mão no peito.
- Não vamos lutar, pelo menos não por ela. Eu estou feliz com a minha esposa. Sim, eu amo Aryn, mas a Mirian é a minha Deusa agora.

***

- Ela está bem? – perguntou Sanrya.
- Eu nunca tive que cuidar de Deuses, mas acho que ela só precisa de descansar um pouco. – respondeu Lady Mirian enquanto passava um pano molhado na testa da Deusa. – Ela está quente.
- Febre?
- Talvez, não sei ao certo... Talvez seja melhor chamar o Azessian ou o marido dela.
- Quem? O Rafy? – Sanrya olhou para Mirian.
- Sim... eles não estão juntos? – A mulher de cabelos loiros parecia confusa.
- Que eu saiba não. Azessian sempre disse que eles eram só amigos.
- Estranho... Podes ir chamar um dos dois, por favor?
- Claro. – Concordou Sanrya.
Sanrya saiu da tenda da Deusa deixando Mirian e Aryn sozinhas.
Mirian desviou os cabelos negros molhados, do rosto da Deusa e observou o seu rosto. A pele estava corada, como se ela fosse tímida e alguém a tivesse elogiado. Os lábios estavam mais vermelhos que o normal, como se ela tivesse beijado alguém durante o dia todo.
A dona dos belos olhos verde pinho, segurou o pequeno corpo da Deusa para a deixar confortável na cama, e ao passar as mãos nas costas sentiu dois relevos altos.
- Algum problema? – Perguntou Azessian ao entrar na tenda.
- Primeiro ela está quente, isso é normal por ter transportado tantas pessoas?
- Não... - Azessian aproximou-se da Deusa e pousou a mão na testa dela. – Sem dúvida, não é normal.
- Segundo, tem algo nas costas dela...
Azessian virou Aryn de costas para cima de forma a não acordar a Deusa e abriu as roupas dela.
Mirian assustou-se assim como Azessian.
- Manda chamar o Rafy. JÁ! – ordenou Azessian com os olhos vermelhos como o sangue dos inimigos que ele iria matar em breve.
Mirian correu entre as tendas e entre as pessoas até esbarrar em alguém.
- Essa pressa toda é para estar comigo? – o anjo sorriu maliciosamente para a esposa.
- Eu queria que fosse, mas neste momento eu preciso encontrar o Rafy Bornbreeze.
- Para quê?
- A Aryn... algo se passa com ela e o Azessian mandou-me chamá-lo.
- Eu vou o chamá-lo, espera aqui por nós.
Quando Rohan virou as costas para a Mirian, ela notou a semelhança entre os relevos das costas da Aryn e das costas do anjo, a única diferença é que Rohan tinha asas.

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