Capítulo 12

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Rohan abriu a caixa aos pés da cama da Aryn.
- O que é isto? - perguntou Rohan, quando só viu sombras a rodar na caixa.
- Foi a forma que eu encontrei de esconder o cheiro da armadura de todos vocês.
Aryn sentou-se na própria cama e as sombras desapareceram da caixa revelando uma armadura preta com alguns arranhões causados pelos anos de uso.
A Armadura dos Pesadelos, era assim chamada pelos reinos e pessoas.
Rohan era um general e como tal ele era um elemento importante nas batalhas, um grande guerreiro de facto, uma arma de matar. Se algum inimigo escapasse das mãos do anjo não demoraria muito a ser encontrado e a ter os órgãos espalhados pelo chão.
O anjo era visto como um assassino, um homem que ninguém deveria querer como amigo. As mães contavam as histórias do guerreiro para assustar os filhos e, de noite, as pequenas crianças sonhavam com um anjo a cair dos céus, com enormes asas brancas cobertas de sangue, a armadura preta brilhava com as lágrimas dos inimigos e a espada, que tinha causado mais mortes que algum outro guerreiro, alguma vez, conseguiria.
Mesmo depois de preso, Rohan, não foi esquecido, as histórias do anjo assassino ainda eram contadas e cantadas em festas e tabernas.
- Ainda cheira a morte. - Comentou Rohan quando pegou a zona peitoral da armadura.
- Cheira a Rei do Gelo quase morto. - disse Aryn limpando a sujeira das unhas.
- Quase! - Rohan falou com uma leve desilusão na voz.
- Conta-me a história dessa noite. - Pediu Aryn cruzando as pernas.
- Pensava que sabias o que aconteceu.
- E sei, mas eu quero ouvir de ti e não das sombras.
- Para começar, eu nunca gostei do Rei...
Era certamente a noite mais fria que Rohan alguma vez vivenciou. As asas estavam mais sensíveis que o normal, o anjo, como sempre, trajava a armadura preta.
Era normal estar frio em Windrom, afinal era um reino do Norte e governado por um portador do gelo.
O anjo caminhava pelos corredores do castelo em direção aos aposentos do rei, com uma espada na mão.
Provavelmente, Rohan acabaria morto quando descobrissem o plano dele, ou talvez, lhe arrancassem as asas. Ficar sem asas é a maior dor que um anjo pode sentir, era raro encontrar um anjo caído, todos os anjos preservavam as suas asas, mas era um sacrifício que Rohan estava disposto a cometer para acabar com o abuso de poder do Rei do Gelo. Dias atrás, o rei mandou mandar um elfo só porque este espirrou perto dele.
Os corredores do castelo estavam vazios devido ao facto de que quase ninguém aguentava o frio daquela noite.
Rohan invade os aposentos do rei fazendo o homem assustar-se.
- O que vem a ser isto? - Interrogou o rei.
- Isto é, o que eu espero, ser o fim do seu reinado negro. - respondeu o anjo.

***

- E foi assim, que eu fui parar à cela ao teu lado, e o rei ganhou uma cicatriz na cara.
- Ainda não acredito que ele conseguiu congelar as tuas asas. - Aryn tocou nas delicadas penas e sentiu a textura macia na ponta dos seus dedos.
- Pelo menos ele está morto agora.
- Verdade... - antes que Aryn pudesse falar mais alguma coisa ela vomitou sangue.
- Merda... - O anjo segurou o cabelo da mulher e esperou que Naxos aparecesse por sentir a dor. - Ah, isto é mais nojento que um campo de batalha no fim de uma luta.
Aryn continuava a vomitar sangue e o seu corpo começou a tremer até que Naxos entrou no quarto com Azessian e Caspian.
- Isto tem que acabar. - Falou Naxos contorcendo-se de dor.
- Demónio, explica já o que está a acontecer! - Exigiu Rohan.
- É o normal, ela está a morrer... - Azessian fez uma pausa para respirar. - Se ela não acabar com isto...
- O quê? Conta...
- Ela deve ter menos de um mês de vida se a irmã dela não a matar.
- Não, não... NÃO. - Rohan continuou a segurar o cabelo da Aryn. - Eu não posso a deixar morrer.
Aryn parou de vomitar e olhou para o lobo a sua frente.
- Ela não vai morrer, ela só vai sofrer um pouco.
- O que queres dizer? - perguntou Caspian.
- Daqui a uns anos vais entender. - disse Aryn com dor no olhar. - Onde está a rainha?
- No castelo, hoje é o dia de honrar a rainha Mor.
- Preparem-se, o dia da minha morte chegou. - Aryn levantou-se da cama e limpou o sangue na camisa velha.
Um grupo de rebeldes foi rapidamente reunido nas traseiras da taberna e ordens foram dadas pelo Rohan e o soldado Ithan enquanto Aryn se apoiava nos ombros do Naxos e do Caspian e sangue escorria bela boca.
Caspian largou a Aryn quando foi chamado.
- Desculpa Naxos. - Aryn sussurrou.
- Por?
- Por tudo. - Aryn abaixou o olhar. - Por ser um peso na tua vida.
- Sendo assim, desculpa.
- Por? - a rapariga repetiu.
- Por não os ter matado mais cedo e nem ter te salvado naquele dia.
- Salvaste me todos os dias desde que foi parar lá abaixo e agradeço.
- Não te esqueças de mim quando partires.
- Como posso esquecer do homem que cuidou de mim? Do pai que me contou história naquela cela e que me dizia que tudo ia ficar bem.
- Estou feliz por ter te como filha, Aryn.
Aryn sorriu para o homem e sentiu felicidade dentro dela.

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