Capítulo 37

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ERICK

Chego na casa do Fernando e não sei o que dizer. Ele me ajudou, me trouxe até aqui e eu não consigo nem o encarar. Fernando mora em um apartamento bem arrumado. E isso logo me chama a atenção. Não parecia que Fernando era um cara assim.

_ Pode ficar a vontade, tem um quarto extra no corredor à esquerda e ele é todo seu. Pode ficar o tempo que precisar, viu.

_ Fernando eu não sei como vou te retribuir tudo isso. Eu..

_ Nem começa, vai. Erick, quando eu tinha a sua idade eu tinha um amigo que passou por muitas coisas parecidas com as quais você está vivendo e naquela época tudo era diferente. As pessoas falavam muito sobre sexualidade de uma forma pejorativa. A Maria não era como eles e a gente vivia juntos, era ela, eu e o Matheus. Durante anos a gente vivia fazendo tudo junto, mas foi chegando no ensino médio e o Matheus começou a ficar mais diferente. Ele sempre foi alvo de piadas, mas quando estávamos no fim do ensino médio, tudo piorou. E nisso, os menino do nosso ano espalharam um boato que o Matheus era gay. Naquela época isso era algo pesado demais. Tanto que o boato chegou até os pais dele. E bem, o pai dele lhe deu uma surra imensa e o expulsou de casa. Matheus ficou sem rumo, ele bateu na casa da Maria, mas os pais dela a proibiram de abrir a porta e quando ele veio até a minha casa, eu implorei para que meu pai o deixasse entrar, mas ele também não deixou, meu pai alegou que aquele menino poderia acabar com minha reputação. Que a família tinha um nome e por conta disso, eu não deveria me meter. Eu subi correndo até o meu quarto e o vi. Ele me olhou chorando e eu disse um desculpa para ele. Bem, aquela foi a última vez que o vi vivo. Naquela noite, depois de ouvir insultos durante a noite, depois de ser expulso de casa, ele tirou a própria vida se jogando na ponte que fica ao lado do Bahamas. A cidade parou na manhã seguinte e a Maria e eu sofrendo sozinhos, pois para muitos apenas morreu mais um estranho. Então Erick, eu jurei para mim mesmo que nunca mais iria deixar um garoto passar o que o Matheus passou. Então olha, você não tem o que me agradecer, eu vou fazer o que posso para te ajudar, mas quero que me conte tudo. Eu sei que tem alguma coisa acontecendo.

De fato, tem muita coisa que não contei para ele, mas como contar? Como contar que Alex me chantageou? Como contar tudo que rolou? Não tem como. Se eu contar talvez o Daniel acabe sofrendo. O Alex é maluco pelo pouco que eu o conheci.

_ Eu não posso, Fernando. Infelizmente, eu não posso contar tudo. Mas fica de olho no Daniel por mim, tudo bem? Cuida dele, viu. Cuida dele e da dona Maria. Eu vou tentar resolver as coisas, eu vou...

Eu paro de falar porque meu celular apita é uma mensagem do Alex querendo saber onde estou, será que ele já sabe? Será que ele sabe que meu pai me expulsou?

_ Erick, eu preciso voltar para a escola, mas a gente vai conversar ouviu? Hoje no fim do dia eu volto e a gente conversa com calma.

Fernando sai e eu sento no sofá na sala dele e respondo Alex. Ele quer me ver e eu não quero.

Eu não vou, preciso resolver umas coisas.

Você vem sim. E vai me encontrar no meu carro. A gente vai dar uma volta e vem preparado. Se não vier, imagina outra foto sua na internet, mas agora uma mais explícita. Meu irmão vai adorar postar. Você sabe.

Eu sei que ele tem razão, mesmo não querendo concordar.

Combino com ele e saio direto, eu só quero que esse martírio acabe logo.

O Garoto da Minha RuaOnde histórias criam vida. Descubra agora