O Garoto da Minha Rua

Capítulo 16

ERICK

Todos estão me olhando e eu não sei o motivo, ontem quando cheguei no motel notei que o celular tinha acabado a bateria e não tive tempo.

O cara realmente quis mais que a noite anterior e quase acabei chegando atrasado na escola hoje. O tempo todo que fiquei aqui eu vi gente me olhando, mais do que o costume.

_ Eu disse que tinha algo aí, ele pode não ter falado, mas temos fotos. Poxa Erick, eu achei que você tinha nível, ok ser michê, mas traçar de dia o Daniel e de noite fazer programa, não dá né?

Me viro no corredor e vejo o garoto que me abordou outro dia na escola juntamente com dois meninos.

_ Oi? Você falou comigo? - digo.

_ Lógico, falei com o único michê da escola e claro gay. Eu achei que o único viadinho aqui era o Daniel, mas pelo visto não.

Empurro o garoto na parede e seus amigos se espantam. Nunca gostei de brigar aqui na escola, pois aprendi a me defender desde pequeno para escapar rápido das encrencas que eu arrumava com os maiores por conta de comida.

_ Qual foi, você está querendo apanhar é? Eu disse para você se afastar de mim e nunca mais encher o saco do Daniel e você vem com essa hoje, de onde você tirou isso?

_ Ei, todo mundo está sabendo - diz ele puxando o celular do bolso e me mostrando. Consigo entender o motivo de tudo, alguém me fotografou em dois momentos. Vejo que eles focaram mais em mim e pelo menos agradeço por isso, pois eu já estou acostumado o Daniel não deve sofrer por minha culpa.

_ E você acreditou? Sério? Achei que um machão como você não lia essa página de fofocas.

_ Eu sou macho mesmo, diferente de você que é um michê que ainda traça um viadinho. Quer ser michê que seja, mas traçar homem? Sério? Com tantas coroas por aí. Imagina o cara do Daniel descobrindo tudo isso. Ele deve ter pensado que era o único né? Coitado. Eu sempre soube da sua fama com as veteranas, mas beleza, elas eram gostosas e você curtia, mas agora com homem? Pow cara tenha vergonha.

Eu vou matar aquele garoto!

_ Erick larga o César agora - diz Fernando chegando.

_ Mas Fernando ele...

_ Largue ele agora e venha comigo.

Solto César e sigo com Fernando, ótimo era só o que faltava, eu me encrencar por conta da página Maria Fifi e por conta do idiota do César que é um preconceituoso demais.

Sigo Fernando em silêncio e noto que ele está me levando para a saída atrás do portão. Uma que apenas os professores usam.

_ Pronto, Maria ele está entregue. Nada ocorreu de grave.

_ Aí Fernando fico lhe devendo uma, meu filho disse que ele iria precisar de ajuda, mas eu não faço ideia porque. Mas uma mãe faz o que o filho pede ainda mais que ele olhou com uma cara de desespero. O que tá acontecendo?

Dona Maria está parada me olhando e Fernando fica em silêncio.

_ Você conta ou eu conto? Uma coisa que eu sei é que a Maria aqui sempre acaba descobrindo e também sempre tem as melhores ideias.

Respiro fundo e conto tudo, desde o primeiro post ao último, peço o celular de Fernando para mostrar a imagem.

_ Que horror! Será mesmo que o diretor não pode fazer nada? Essa página precisa ser retirada do ar.

_ Eu sei e ele já está tentando isso há meses. Desde que a página começou, ele já avisou que o aluno que a começou será expulso assim que ele descobrir quem é.

_ Mas e até lá? Olha o que essa página posta. Os alunos dessa escola não devem sofrer isso. Fora que tem muitas calúnias não tem?

Não encaro Maria, pois muitas coisas sobre mim são verdades. Eu de fato faço programas, mas não era algo que eu iria confirmar para ela.

_ Enfim, não importa. Verdades ou não, cada um tem uma vida e ninguém deve julgar ou exibi-las assim não. Só as pessoas podem falar ou não. Erick você vai lá pra casa, depois vou com você a sua casa, não sei se seu pai viu isso.

_ Ele não deve ter visto, ele está viajando e só chega sexta. - digo sem olhar para ela.

_ E você está sozinho?

_ Sou acostumado. Não tem problema.

_ Tem sim, você vai ficar lá em casa até ele voltar. Não aceito não como resposta. Você ainda é um menino.

_ Mas a senhora viu o que falaram de mim, vai me querer na sua casa? - digo e viro o olhar pra o lado. Fernando me olha sem jeito, pois ele sabe a verdade. Fernando sempre sabe a verdade sobre os alunos desta escola, também ele está aqui desde sempre.

_ E eu ligo pra fofoca? E mesmo se for verdade se você faz isso é porque precisa e nunca teve ajuda de ninguém. Eu conheço sua família Erick. Eu vivo no bairro há muitos anos então quem sou eu para lhe julgar. A única coisa que peço é que enquanto tiver lá você me peça ajuda e não faça nada escondido. Se precisar sair, só me avise.

Concordo e pela primeira vez em anos as lágrimas caem do meu rosto. Tem pessoas muito boas nesse mundo ainda...