Capítulo 03

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um voto e a constelação toda é sua ✨ 

(Dezembro de 2019)

Cause you're a sky, cause you're a sky full of stars

Porque você é um céu, porque você é um céu cheio de estrelas

I'm gonna give you my heart

Eu te darei o meu coração

'Cause you're a sky, 'cause you're a sky full of stars

Porque você é um céu, porque você é um céu cheio de estrelas

'Cause you light up the path

Porque você ilumina o caminho

Coldplay - A sky full of stars soava baixo no meu fone de ouvido quando desci do avião, o que não ajudava em nada. Se você já segurou o choro quando sua vontade era colocar tudo que sentia para fora, então talvez você irá entender como me senti ao voltar para Bangkok. Eu havia deixado Bright que era minha estrela, a pessoa para quem havia entregue meu coração há muito tempo e era ele, quem dava sentido e iluminava todo o meu caminho.

Por isso que ao pisar naquele solo, eu sabia que dali em diante, tudo dependeria de como as coisas aconteceriam e o medo de que tudo terminasse da pior forma possível, era muito grande. Era tão pesada também, ao ponto de me fazer sentir que lágrimas poderiam rolar a qualquer momento.

Eu havia voltado por causa do meu pai, que estava no leito de morte, mas não era isso que me deixava triste para sentir vontade de chorar. Era sobre a possibilidade de nunca mais ver Bright, que eu estava apegado. E não, eu não era um péssimo filho por isso. Vocês vão entender que tudo fará sentido quando enfim contar-lhes a minha vida.

Sou filho de pais separados. Isso é comum para qualquer pessoa, para mim também. Não deu certo, separa. Mas a separação dos meus pais trouxe marcas, consequentemente causada pelas escolhas que eles fizeram. Entre os meus 6 até 12 anos, meus pais brigavam o tempo todo. Eram brigas e mais brigas todos os dias. Meu avô morreu e papai assumiu de vez os negócios da família. Nessa época, minha mãe resolveu voltar a trabalhar.

Ela é uma jornalista incrível, mas precisou deixar a profissão de lado quando se casou e teve um filho. A vida agora era para cuidar da família, mas ela nunca estava feliz. Quando passei a frequentar a escola, deixando de ser ensinado por ela, sua vontade de voltar aos telejornais ficou maior e ela contou ao meu pai que tinha conseguido trabalho na primeira emissora que atuou como âncora.

No dia, papai disse que tudo bem, mas não foi como se quisesse dizer isso. Ele não tinha prestado atenção, pois ela o comunicou quando seus olhos estavam em uma pilha de papéis importantes. Dias depois de perceber que minha mãe voltou a trabalhar, as brigas alcançaram patamares assustadores para uma criança. Com a pressão no trabalho e a empresa correndo risco de não aguentar a crise econômica, papai se dedicava com afinco aos negócios. Em casa, a esposa que deveria cuidar de tudo para ele não se preocupar, voltou a trabalhar e o seu ego foi ferido. Agora além de lidar com problemas financeiros, ele chegava em casa e tinha que ouvir as reclamações dos empregados.

O filho era muito terrível, brincava e corria pela casa, chegou a cair algumas vezes e eles levaram a bronca. Também reclamava da cozinheira, do jardineiro e sempre arrumava um problema para jogar na cara da minha mãe que a culpa era dela. Esse baque no casamento deles já transformou toda a minha infância em algo pesado.

Conforme os dias foram passando, os dois começaram a ficar menos tempo em casa. Minha mãe passou a viajar muito a trabalho, indo fazer reportagens em outras cidades, pequenos vilarejos, ou até ilhas distantes e meu pai começou a beber. O álcool parecia nutrir a falta que mamãe fazia a ele, ou pelo menos era assim que eu via depois de vê-lo chorando no quarto dos dois, segurando um vestido dela sobre a cama vazia.

Céu Estrelado ✨ {Part II}Onde histórias criam vida. Descubra agora