20- Nada contra a maconha

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Julie Baker

Me concentro na televisão do quarto da minha mãe - onde passa um programa de casos criminais. Tenho uma certa obsessão por pessoas que já morreram de formas misteriosas, e minha mãe não é diferente.

Obviamente não aconteceria comigo, porque se tentassem me matar de uma forma misteriosa, eu ia arranhar tanto a cara da pessoa que quando a polícia fosse ver a cena do crime eles iam perguntar quem era a vítima alí.

Em outros casos, provavelmente eu seria a assassina e o Bolsonaro ia ser a vítima.

Estou com meu pijama de gatinho com óculos de sol, deitada na cama da minha mãe - ao lado dela. Ao nosso lado, tem um pote de Nutella e um prato com morango.

Gosto desses momentos; onde eu como besteira pra caralho com minha mãe e a gente fofoca sobre a vida dos outros enquanto a nossa tá uma merda e não serve de exemplo pra porra nenhuma.

Duas Maria fifi. É divertido.

- Tá vendo aí óh - ela aponta pra televisão. Seu dedo está melado de Nutella - A menina saiu com um cara que conheceu na Internet e nunca mais foi encontrada.

Sua voz saiu em tom de aviso, com se eu fosse a pessoa aqui em casa que saí com gente que conheci na Internet.

Eu não sou assim. Eu apenas transo com desconhecidos em sorveterias. É diferente.

- Talves o cara era um velho rico e ela tenha fugido com ele pra Miami. - falo, enfiando a dedo no pote de Nutella, minha mãe dá um tapa na minha mão me repreendendo - Aí!

- Ou ele matou ela e jogou o corpo dela numa vala - ela diz, óbvia.

Coitada da pessoa que é besta ao ponto de achar que uma pessoa totalmente estranha, tenha outro interesse nela além de querer matar ela e vender os órgãos dela no mercado negro.

Essa foi uma indireta bem clara pra minha mãe, mas eu eu disser isso, provavelmente vou levar uma paulada na cara.

Engraçado que se fosse eu saindo com estranhos, minha mãe ia enfiar uma torta de madeira no meu cu.

- Cadê o Gabriel? - mudo de assunto.

- Foi em um encontro - ela diz.

- Peraí, alguém se interessou por aquele pedaço do cocô !?

Gabriel pedaço de bosta - Não consigo imaginar ele em um encontro. Aquele parente do Bolsonaro não deve ter nem assunto pra falar com as pessoas.

Minha mãe ri e empurra meu braço.

- Não fala assim do seu irmão - ela faz cara feia - Ele não tem culpa de ter puxado pro cuzão do pai.

Caímos na gargalhada.

Eu e Gabriel só somos irmãos por parte de mãe. O pai dele mora a duas horas daqui, e pelo menos umas três vezes por mês Gabriel vai vê-lo. O pai dele é um cara legal, e jura que o Gabriel é gay, eu morro de rir toda vez, porque Gabriel morre de ódio quando o Poul diz isso.

Já meu pai é Brasileiro, e muito ocupado, mas sempre tenta enviar alguma coisa no meu aniversário. Dá última vez, recebi uma casa de bonecas.
Obs: era meu aniversário de 15 anos.

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