Fazendo História

68- Você é meu

Julie Baker

- O que vão querer? - A moça para em frente à nossa mesa.

Abaixo o cardápio em meu rosto e olho pra ela.

- Eu quero um hambúrguer sem cebola. - digo - Sem. cebola. - reforço, com um olhar mortal pra ela.

Da última vez que eu vim nesse lugar eu pedi a porra do meu lanche sem cebola e a surda dessa garota trouxe com cebola.

Fiquei com vontade de enfiar a cebola pelo ouvido dela.

A menina me olha assustada e engole em seco, se virando pra Liam - que sorri amigavelmente pra ela.

- E você?

- Ah, não, eu não quero nada, obrigado. - ele dispensa - Já estou cheio... - ele vira a cabeça pra mim de relance e eu pego a água em minha frente e bebo da mesma rápido, nervosa.

Ah, ele fez de propósito pra me constranger...

Cretino.

Ele riu muito quando eu comecei a andar com as pernas tremendo pelo corredor. Mas aí eu xinguei ele e ele me pegou no colo e a gente saiu pelos fundos da escola com ele correndo comigo nos braços e eu rindo igual uma hiena.

Não sei que desgraça de língua potente era aquela.

Não que eu não tenha gostado, sabe...

A moça sai de nossa mesa e eu coloco os cotovelos sobre a mesa e encosto meu queixo nos mãos.

Olho pra Liam.

- Como você descobriu sobre o Caique? - pergunto, curiosa.

Essa é a vez dele de pegar o copo de água e levar as lábios, despreocupado. Ele coloca o copo sobre a mesa e cruza os braços.

- Eu dei meu jeito...

- Que merda de resposta. - faço cara feia.

- Julie, eu não precisei fazer muito esforço pra descobrir todos os boatos que aquele imbecil saiu espalhando sobre você. - ele vira a cabeça pra olhar em meus olhos. O vento da noite bagunça seu cabelo e ele não parece notar - Eu sabia que era tudo mentira, e então eu só precisei ameaçar um dos amigos dele e descobrir exatamente o que ele tinha falado pra você na sala de aula. - ele diz, parecendo se segurar pra conter sua raiva.

Assinto e passo a mão no cabelo.

- Então você bateu nele. - digo baixo.

- Então eu bati nele até eu sentir necessidade de parar. - ele repete, olhando por cima do meu ombro - E cada soco que eu dei nele foi a quantidade de lágrimas que eu senti você derramar na minha camisa. - vejo um lampejo de raiva passando por seus olhos mas logo ele se compõem.

Engulo em seco, lembrando do dia de anteontem.

- Eu fiz ele tremer igual eu senti você tremer nos meus braços. Eu fiz ele chorar igual ele fez você chorar. - Liam murmura, neutro.

- Porra... - suspiro.

Liam fala isso sem nem um pingo de arrependimento em seu tom de voz. Ele
fez Caique sentir tudo que eu senti - de uma forma mais dolorosa - apenas por puro ódio.