Capítulo 26

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O jantar já havia ocorrido e, Meliodas já estava dormindo, tudo que restava para mim era a noite fria e escura. Penso em como realizaria os desejos de minha mãe. É óbvio que sua morte não está tão distante quanto imaginava que estava, mas mesmo assim, não posso abaixar minha guarda. Graças ao câncer pulmonar de Ângela, eu finalmente sinto que posso viver na margem de minhas escolhas, sem suas metáforas ou dilemas... Mesmo que eu tenha que pagar um preço alto no futuro...

Pensava que poderia viver uma vida calma e tranquila, mas... Isso é realmente o que quero? Uma vida sem preocupações ou sem alguém para me fazer companhia?

Encosto minhas costas na parede da varanda enquanto observo o céu escuro, com apenas pontilhados brancos ao seu redor, simbolizando as estrelas a quilômetros de distância.

Hah~ – cruzo os meus braços, sentindo a brisa do lago bater contra meu corpo – Eu realmente poderei ser alguém feliz? – estendo minha mão direita para frente, observando as cicatrizes em minha palma – Eu posso realmente esquecer de tudo e, de todos. E finalmente abandonar todas aquelas terríveis lembranças de onze anos atrás? – em alguns segundos, meus olhos se fecharam, me fazendo relembrar daquela época terrível, a época em que eu ainda sentia que era feliz...

[𝐅𝐥𝐚𝐬𝐡𝐛𝐚𝐜𝐤]

Um grande campo de rosas se extendia pelo imenso jardim da mansão Liones, um grande jardim composto com vários tipos de plantas e flores. Um jardim coberto por alegria e felicidade, os passarinhos cantavam e dançavam sem parar, os esquilos sempre apareciam de vez em quando para fazer companhia e os coelhos, apenas dava para vê-los se lhe presentea-se com uma cenoura grande e faturosa.

A pequena Elizabeth brincava no campo de rosas, enquanto esperava sua mãe para comemorar seu aniversário de cinco anos. Suas mãos estavam cheias de calos e feridas por conta dos espinhos das rosas, mas a mesma não se importava, queria conseguir fazer uma coroa de flores para sua mãe e se esse era o único jeito de fazer, então ela ficaria mais do que feliz por isso.

Elizabeth sempre foi uma garotinha amável e gentil, sempre sorridente, era difícil de ver lágrimas em seu rostinho, pois, na maior parte de seu tempo, procurava algo para se divertir. Era sempre tão alegre, nunca foi de se rebaixar a tristeza e infelicidade, gostava de ser feliz e de fazer os outros felizes.

– Elizabeth? – uma voz feminina surgiu por trás de Elizabeth, fazendo a mesma virar rapidamente.

– Mamãe! – sorriu radiante ao ver sua mãe ali em sua frente – Você veio!

– Claro, afinal eu prometi que estaria aqui, não é?! – se agachou na altura da pequena, acariciando suas bochechas rosadas.

– Hehe.. Sim! – abraçou sua mãe animada.

– Ah querida, tenha cuidado..! – respondeu ao abraço – você está tão magra, tem certeza que está comendo bem?? – questionou preocupada, tocando no rosto da pequena.

– Hurum! – acendeu com a cabeça, a deixando fofa, fazendo Ângela rir baixo.

– Minha filha é tão fofa, como um verdadeiro anjo! – disse com uma face orgulhosa.

– Mamãe! – exclamou tímida, deixando suas bochechas mais rosadas do que o comum.

– Haha.. – apertou as bochechas finas de Elizabeth – Você é verdadeiramente adorável!

A pequena abaixou a cabeça nervosa, sentindo suas orelhas superaquecer, mas se acalmou ao ver a coroa de flores ao seu lado e que daria para sua mãe.

– Ah- Mamãe, aqui! – levantou a cabeça, olhando para sua mãe amável, entregando a coroa de flores – É para você!

– Huh? – Ângela se sobressaiu, mas logo se acalmou – Por que está me dando um presente, quando eu que deveria está lhe dando um? – acariciou seu cabelo, enquanto sorria majestoso.

– Bem... – Elizabeth hesitou, mas disse de qualquer maneira – I- isso é porque a- amo a mamãe! – exclamou.

Ângela congelou por dois segundos, não esperava receber tão resposta, já que Elizabeth nunca foi de falar seus sentimentos, apenas expressar eles de uma forma não tão óbvia.

– Bem... – sorriu calorosa – Eu também amo a minha filha, a garota mais linda e bela que alguém poderia desejar. – beijou a testa da pequena – Você é meu verdadeiro tesouro.

A pequena sorriu comovida, já que sempre desejou o amor de sua mãe desesperadamente. Ela sempre desejou fazer parte de uma grande e feliz família.

E ela sentia que poderia ter isso com seus pais amorosos e, seus irmãos preciosos que sempre lhe rodiavam.

Mas o que a pequena garotinha não sabia, era que tudo não passava de uma farsa. Sua mãe, alegre e radiante, era apenas uma farsa, escondendo uma mulher fria e arrogante, o seu pai que era sempre amigável e caloroso, na verdade era um homem cruel e sem coração que, não se importava com o bem está de seus filhos. Sua irmã mais velha que era sempre tão estudiosa e gentil, tinha uma mente questionável e se cortava apenas pelo seu próprio prazer, mesmo tendo apenas onze anos, já seu irmão mais novo que sempre foi doce e amoroso, na verdade tinha certo medo e sempre hesitava ao lado de Elizabeth, pois, sabia que ela era apenas um brinquedo nas mãos frias e cruéis de Ângela.

[𝐀𝐭𝐮𝐚𝐥𝐦𝐞𝐧𝐭𝐞]

Hah~ – suspiro cansada – que horas são? Acho já devia está dormindo... Ah~ que cansaço.

Escuto a porta de vidro que tem acesso ao quarto se abrir e ali estava Meliodas, coberto pelo edredom azul de minha cama.

– O que faz acordado essa hora? – questionei séria, enquanto observava o estado que se encontrava.

– Eu que deveria perguntar – *Bocejo* levou sua mão até a nuca coçando – Já são duas e vinte da manhã, deveria está dormindo! – me repreendeu.

– Oh! Isso tudo? – percebo que passei bastante tempo ali – Está certo, deveria está deitada a esse ponto da noite. Vem, vamos.. – peguei em sua mão, entrando novamente no quarto.

[…]
Tranco a porta da varanda e, logo fecho as cortinas, conseguindo enxergar apenas com a luz fraca do abaju sobre o criado-mudo.

Hah~ – suspiro ao me cobrir com o lençol verde mosco pesado.

– Ei... – Meliodas me abraçou – não fique tão presa em seus pensamentos, prefiro quando está feliz ou se preocupando comigo.. – exclamou com uma voz sonolenta.

– Gosta de quando estou preocupada com você? – acariciei seu cabelo.

– Sim, isso mostra que você gosta de mim.. – fez uma pausa, se aproximando mais de meu corpo enquanto ficava cada vez mais sonolento – Eu gosto disso... – sussurrou antes de cair em seu profundo sono.

Eu sou a sua salvação e você é a minha!Onde histórias criam vida. Descubra agora