Spaces Between Us

Debaixo do visco

É véspera de Natal.
O peru já está assando no forno. Tia Margareth e eu arrumamos a casa. Ian e Harry veem mais tarde para ceiar conosco e trocarmos presentes.
Há alguns dias atrás, contei a meus pais sobre Harry. Mamãe reagiu bem, mas papai ficou com vontade de matar o coitado por sair com sua filhinha. Expliquei a eles que não tinha acontecido nada de mais entre nós e disse que nos conhecemos no avião. No final, os dois ficaram felizes por mim, mas relutantes por Harry ser famoso.
Tudo está perfeito, na mais perfeita ordem, até que a campainha toca. Deve ser Harry trazendo o champagne.
Abro a porta e meu queixo cai com o que vejo. Meus pais de mala e cuia na porta.
- Mãe? Pai? - Pergunto incrédula. Tia Margareth põe a cabeça para fora da cozinha.
- Eliz? - Pergunta ela. Eliz é apenas uma abreviação para Elizabeth, o verdadeiro nome da minha mãe.
- Katherine! - Exclama mamãe me esmagando em um abraço. Papai faz o mesmo, abraçando nós duas.
- Sentimos tanto a sua falta, Katherine. - Diz papai.
- Eu também senti a de vocês, mas... - Desvencilho-me do abraço. - O que estão fazendo aqui?
- Decidimos fazer uma surpresa! Você não achou mesmo que passaríamos o Natal e o Ano Novo longe de você, achou? - Diz mamãe.
- Achei. Espera, você disse Ano Novo?
- Disse. Vamos passar o Natal e o Ano Novo com você, Katherine.
Tia Margareth está imóvel segurando a barra de seu avental de cozinha. Obviamente, ela não sabia que o cunhado e a irmãzinha querida dela viriam fazer uma visitinha surpresa e ainda se hospedariam na sua casa até o Ano Novo. Ou pior, até o fim da minha viagem.
- Mãe, quer ajuda com a mala? - Ofereço.
- Pode levar para mim, querida? Eu ainda não conheço a casa e eu quero matar a saudade da minha irmãzinha preferida.
Tia Margareth sorri amarelo para ela e eu assinto com a cabeça.
Deixo a mala de mamãe no canto do quarto de hóspedes e ligo imediatamente para Harry.
- Alô? - Diz ele com sua voz rouca que eu amo.
- Aconteceu uma coisa terrível.
- O quê?
- Meus pais estão aqui.
- Aqui, você se refere a Londres?
- Sim, na casa de tia Margareth.
Ouço o som de Harry batendo a mão em sua própria testa.
- Merda, Katherine. O que eles vieram fazer aqui?
- Segundo eles, vieram passar o Natal e Ano Novo comigo. Segundo a mim, vieram te conhecer pessoalmente.
- Você contou a eles sobre nós?
- Ahan. Na semana passada ou retrasada, não lembro bem.
- Você ainda quer que eu vá hoje? - Pergunta Harry relutante.
- Claro que quero. Se é isso que eles querem, é isso que eles vão ter.
- Katherine. - Diz Harry baixinho.
- Sim?
- Eu estou com medo.
- Medo de quê?
- Deles não gostarem de mim.
- Não seja bobo. Eles vão amar você. Assim como eu amo.
Não tenho certeza, mas sinto um sorriso através do telefone.
- Com que roupa eu devo ir?- Pergunta ele.
- Calça jeans preta, blusa blanca, blazer preto e sapatos pretos.
- É um velório ou um jantar?
- Um pouco dos dois.
Ele ri nervoso.
- O seu velório e o meu jantar. - Digo.
Depois dessa, Harry explode em gargalhadas.
- Katherine, você é a melhor pessoa do mundo.
- Você que é meu amor.
Ouço passos no corredor.
- Tenho que desligar. Nos vemos mais tarde. Não se atrase. Amo você.
- Também amo você. - É a última coisa que ouço antes de desligar o telefone.
Mamãe abre a porta em seguida. Ela se senta a meu lado na cama.
- Então. - Começa ela com as mãos no colo. - Quando vamos conhecer seu novo namorado?
Bato com a mão em minha própria coxa.
- Eu sabia. Sabia que vocês vieram só para conhecer o Harry.
- Não só por isso, viemos passar a virada do ano com nossa filhinha querida. - Ela aperta minha coxa.
- Nem vem com essa, mãe. Admite que vocês vieram só para ver o Harry.
Ela revira os olhos.
- OK, Katherine. Eu e seu pai viemos só para conhecer o seu namorado. Satisfeita? Você é muito irritante, sabia disso?
Rio vitoriosa.
- EU SABIA. E sim, estou muito satisfeita e sou irritante sempre quando posso ou quero.
Mamãe ri de mim.
- Quem foi que você puxou, hein?
- Você mesma, queridinha. - Provoco.
Ela me dá um empurrão de brincadeira.
- Vem cá. - Diz ela.

Ela me abraça carinhosamente.

- Eu só não quero te ver machucada, filha. Quero proteger seu coração com todas as minhas forças. - Diz ela afagando meus cabelos.