Fiquei quase duas horas no telefone com Marcy tentando escolher a roupa perfeita.
Finalmente decidimos a roupa ideal para o "encontro". Aspas porque não é exatamente isso. Somos só bons amigos que vamos sair para conversar um pouco. É isso que repito a mim mesma em frente ao espelho enquanto tento decidir que cor de batom usar.
Às vezes, você repete tanto uma coisa, que passa a acreditar nela.
Meu coração está acelerado desde que entrei no banho e simplesmente não consigo fazê-lo parar. Se continuar assim, quando Harry chegar, ele vai pular para fora do meu peito.
Tento me acalmar passando água gelada no meu pescoço. Funciona um pouco.
Finalmente opto por um batom mais cor de boca, para não ficar muito "cheguei". Assim que termino de passar o batom, a campainha toca.
Droga de água gelada que seca rápido.
Respiro fundo e pego minha bolsa na mesinha de maquiagem. Desço as escadas devagar por causa do salto, mas minha vontade mesmo é de sair correndo e escancarar a porta. Quando chego nela, detenho a mão na maçaneta por uns instantes, depois a giro de uma vez só.
- Uau! - Exclama Harry assim que abro a porta.
- Como estou? - Pergunto.
- Maravilhosa.
A roupa que eu escolhi é perfeita para a ocasião. Um vestido preto brilhoso que marca minha silhueta, saltos de mesma cor com solado vermelho e carteira combinando com o vestido. Penteei o cabelo todo para o lado direito, fazendo leves ondas nele. Minha maquiagem leve combina perfeitamente com o batom cor de boca.
- Você também não está nada mal. - Digo passando a mão em sua jaqueta de couro.
Por baixo ele veste uma camisa branca e jeans preto, perfeitos com as botas pretas lustradas.
- Podemos ir? - Pergunta ele.
- Claro. - Ele me oferece o braço e eu aceito.
- Você vai sentir frio com esse vestido, não vai?
- Eu não me importo. Pra quem mora no Brasil, sentir frio é privilégio.
Ele ri, fechando a porta do carro.
O caminho até a boate, não demora mais do que trinta minutos.
- Preciso te avisar de uma coisa. - Ele diz.
- Pode falar.
- Podem ter vários fotógrafos aí em fora. E você sabe, quando nos virem juntos...
- Já posso imaginar o que vão falar. Mas o que você acha disso?
- Eu não me incomodaria nem um pouco em estampar as revistas amanhã com a menina mais linda de Londres. - Coro. - Bem, que está em Londres. Mas e quanto a você? Se for desconfortável para você essa situação, nós podemos ir a um lugar mais reservado.
- Não, está tudo bem. Foi você quem escolheu o lugar, não vou estragar seus planos.
- Então - Ele desce do carro e me pega pela mão. - vamos nessa.
Uma chuva de flashs nos inunda na entrada da boate. Cubro os olhos com a palma da mão para evitar o brilho.
Entramos na boate e Harry me leva para mesa mais ao fundo, longe do tumulto da pista de dança.
- Aqui está perfeito. - Ele chama o garçom mais próximo. - O que você quer beber?
- Qualquer coisa sem álcool.
Ele pede um drink com um nome esquisito e o garçom vai às pressas providenciar o pedido.
- Então, você não bebe por que é menor de idade ou é menor de idade porque não bebe?
- Oi?
Rimos juntos.
- Em primeiro lugar, eu não sou menor de idade, tenho 18 anos e faço 19 em Fevereiro. Em segundo, não é que eu não bebo, eu só evito.
- Ah sim. Faz aniversário em que dia de Fevereiro?
- 1° de Fevereiro.
Ele arregala os olhos.
- Não é possível. Nós fazemos aniversário no mesmo dia?
- Sim.
O garçom chega com nossas bebidas e eu bebo um gole. Delicioso.
- Você vai ficar até quando em Londres? - Pergunta Harry por trás da taça.
- Até o final de janeiro. Vou passar o natal e o Ano Novo por aqui.
- Pelo visto, vamos ter bastante tempo para conversar.
- Todo o tempo do mundo. - Pouso minha taça na mesa. - Agora, fale-me sobre você. Seus sonhos, seus medos, suas qualidades, seus defeitos.
Harry respira fundo e eu sei que a conversa vai ser longa.
Ele me conta tudo: o lugar onde nasceu, sua infância, sua passagem pelo The X Factor, onde conheceu seus companheiros de banda, seu início de carreira, entre outras coisas mais. Muitas dessas coisas eu já sabia, mas é bom ouvir ele mesmo falando.
- Como é estar em uma banda? - Pergunto.
- É doloroso e divertido ao mesmo tempo. Tem brigas, é claro, mas nada que não se resolva em um estalar de dedos. - Ele toma um gole da bebida. - E você Katherine? Como é sua vida?
Conto a ele detalhes sobre minha infância no Rio, os lugares que mais gosto lá, os amigos que tenho e sei que ele está ouvindo tudo pela primeira vez.
- Interessante. - Ele diz. - E o que você pretende cursar na faculdade?
- Eu não sei bem ainda. Um dos motivos dos meus pais terem me dado essa viagem é tentar fazer com que eu descubra a minha verdadeira vocação.
- Mas isso é muito fácil de descobrir. - Diz ele se inclinando sobre a mesa. - O que te faz feliz?
- Escrever. Sem dúvida nenhuma. Eu me sinto completa quando eu escrevo.
- Se é isso que te faz feliz, por que ainda está procurando outra coisa?
- Porque não é garantido que eu vá ter sucesso nessa profissão. A vida de escritora é difícil. Você pode atingir o sucesso hoje ou nunca. Mas eu ficaria feliz se pelo menos uma pessoa lesse o que eu escrevo.
- Você nunca mostrou a ninguém?
- Não sei se estou preparada para isso.
Ele estica a mão sobre a mesa, cobrindo a minha. Olho para nossas mãos surpresa.
- Eu ficaria honrado em ler qualquer coisa sua.
Inclino sobre a mesa em sua direção.
- Eu teria que traduzir primeiro.
Ele ri.
- É verdade.
Ele vira minha mão e faz pequenos círculos com o polegar em minha palma.
-Suas mãos são tão lindas. São verdadeiras mãos de princesa.
Levo a taça à boca com a mão livre.
- Obrigada. Suas mãos são, bem, de ogro. Desculpe.
- Tudo bem, é verdade. Elas são grandes demais né? Talvez esse seja o meu grande defeito. Mãos grandes.
- Nem sempre isso é defeito. Muitas vezes é bom.
Estou brincando com fogo, eu sei. Mas eu não tenho medo de me queimar.
- Podem até ser grandes, mas o que elas tem de tamanho têm de maciez também. - Digo.
Ele sorri.
- Venha comigo. - Diz ele ficando de pé. - Quero te levar a um lugar especial.
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Spaces Between Us
RomanceObrigada por sua mãe, Katherine Miller se vê a caminho de Londres para a casa de sua tia para passar as últimas férias antes da faculdade com ela. O que ela não imaginava, é que encontraria pelo caminho um dos garotos de sua banda favorita. No que i...