Coração

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Manu Gavassi
Presente

Alguém me disse uma vez que a forma mais eficiente de se recuperar é fingir que está se recuperando. Desde então é sempre isso que eu faço quando sinto que preciso me refazer, e é sempre depois de começar a fingir que estou melhor que realmente sinto essa melhora.

Provavelmente é um gatilho psicológico, mas sempre funcionou comigo e, não foi diferente agora. Além de todo o carinho, cuidado e atenção que recebi das pessoas que me amam, esse tempo presa aqui me recuperou também de outras formas. Foi importante ter esses dias pra me perder em mim mesma, embora eu estivesse correndo um pequeno risco de vida.

-- Eu tô tão feliz! - sua voz preencheu o ambiente e eu sorri saindo dos meus devaneios.

-- Sempre achei que o auge da sua vida seria estar comigo sem que eu pudesse falar tanto...- brinquei e ela riu.

-- E tem razão, mas nem esse respirador foi capaz de segurar sua língua. - eu ri e ela me olhou de um jeito terno, tão forte que tocou meu coração. -- É sério, nena...só Deus sabe o quão tô feliz de olhar pro seu rosto sem aquele respirador. A Rafa vai pirar quando chegar aqui e ver você sem ele.

Meu sorriso aumentou. -- Pelo menos eu tive tempo de ir até o banheiro, lavar o rosto decentemente e fazer uma higiene bucal adequada...- ela riu alto.

-- Certeza que ela comeria sua boca mesmo naquelas condições precárias.

-- Justamente por isso que agradeço por ela não estar aqui...- e minha irmã sorriu de um jeito que me lembrou algo especial. -- Quero te mostrar uma coisa, que é tipo um segredo. Vem cá!

Catarina se aproximou da cama curiosa, olhando como se procurasse algo no quarto e eu simplesmente dei o celular na sua mão. Seus olhos focaram na tela por longos segundos e reparei como seus dedos deslizavam pro lado, vendo tudo atentamente, mas ávida. Não demorou muito tempo pra ela focar em mim em um misto de emoção e fofura. Seus olhos estavam cheios de lágrimas e os meus ficaram assim instantaneamente ao olhar pros dela.

-- É o que tô pensando? - assenti. -- É na casa nova?

-- Uhum...- ela suspirou de um jeito diferente e por segundos eu tive a impressão de que Cat queria viver um amor assim também.

-- Rafa já sabe? Como tá fazendo isso daqui do hospital?

Revirei os olhos. Não era óbvio? -- Ela não sabe sobre nada ainda, não pretendo fazer isso de uma cama de hospital. - ela assentiu pensativa. -- Essas fotos são do meu novo projeto. Rafa disse que eu precisava canalizar minha energia criativa em algo sem ser trabalho, então tô focando nessa ideia...

-- Tá lindo e tá só no começo...você ta presa aqui há dias...quem tá te ajudando?

-- Flavina...

-- Achei que ela não soubesse sobre vocês estarem tentando ter um filho! - suspirei profundamente.

-- Eu precisei contar. - seus olhos esbugalharam e eu dei de ombros. -- A senhora minha sogra estava surtando preocupada porque Rafa não a respondia direito e nem era clara sobre o que eu tinha. - encolhi os ombros. -- Quando o Tato apareceu dando entrevista, dizendo que era gastroenterite...- minha irmã riu e eu revirei os olhos. --...Enfim...ela sacou que tinha algo errado. Eu jamais que iria contar pra ela, mas precisei contar pra Flavina pra dar um jeito nas coisas antes da sogrinha baixar aqui e descobrir tudo como o Tato acabou descobrindo.

-- Rafa sabe disso?

-- Sabe que conversei com as meninas pra tranquilizá-las e que falei com a sogrinha também...mas não sabe que falei com a Flavina sobre a gente estar tentando ter um filho.

Força do Destino [Ranu]Onde histórias criam vida. Descubra agora