Primeiros reflexos

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Passado
Manu Gavassi

(Outubro/2020)

Poucas vezes a gente sente que está no nosso lugar de paz, e eu tenho a sorte de me sentir assim nesse exato momento, rodeada dos meus familiares e com minha namorada. Meus pais e Catarina já eram apaixonados pela Rafa, mas ver como meus avós estão a tratando desde que chegamos aqui não tem preço, aquece meu coração, me faz sentir transbordando. Olhando para essa cena bem na minha frente, eu sinto como se o mundo pudesse ser um lugar melhor se as pessoas apenas focassem no amor e no respeito ao próximo. Tenho sorte pelo meu mundo pessoal ser esse lugar melhor pra mim. Às vezes a gente não consegue mudar a sociedade, mas se a gente consegue mudar e tocar de forma positiva aqueles que estão perto de nós, então nossa estadia nesse plano espiritual já valeu a pena.

É a primeira vez que vejo minha vó Gê e meu vô Bia pessoalmente em meses, eles são as únicas pessoas incrivelmente importantes para mim que ainda não conheciam a Rafa. Senti medo, não vou negar. Apesar de saber no meu coração que eles estariam bem com o fato de eu namorar uma mulher, é diferente viver a experiência de contar, de apresentar. Acho que foi a única vez em todos esses meses que entendi um pouco do medo que Rafa sente sobre o que as pessoas pensarão da gente. O curioso é que quando é coisa é com o outro a gente tem dificuldade de entender, tem coisa que a gente só entende quando sente na pele.

Essa saga começou há cerca de 1 semana quando resolvi que iria para Campinas passar uns 2 dias com eles. Tirei uns dias para uma quarentena total e não pensava na possibilidade de Rafa me acompanhar. Sequer cogitei isso. Sua agenda estava cheia de atividades, publis, ela precisava viajar no fim de semana para a chácara, era algo que realmente não pensei em questionar. Não a convidei, mas estávamos falando de Rafaella...e ela tem suas artimanhas.

Flashback

-- Simas tá enchendo meu saco por eu ter resolvido fazer essa quarentena total e estar trancada em casa, ele disse que não era o momento, mas eu tô cansada também, preciso parar um pouco.... - ela soltou uma risadinha e me olhou de canto de olho de um jeito culpado, mas curioso. -- Que foi?! - ela encolheu os ombros e abaixou o celular, olhando pra mim como se pensasse no que dizer com cuidado.

-- Cê se ligou que tomando essa decisão e ficando no meu apartamento meio que me colocou pra ficar totalmente isolada também? - olhei pra ela surpresa e um tanto constrangida.

-- Eu...nossa, meu bem! - e segurei sua mão, deixando um beijo rápido em sua boca. -- Me desculpa, eu não me dei conta...porque não falou nada, Rafa? Você sabe que às vezes não me toco de certas coisas! - ela sorriu mordendo os lábios, demonstrando um certo nervosismo e eu não entendi.

-- Então...pra ser sincera, quando cê falou sobre ver seus avós eu achei que cê fosse me convidar...- meu olhos esbugalharam e eu senti meus batimentos aumentarem. -- Mas esquece isso, Manu! Eu entendi que você precisa desse momento com eles e já tô tentando reorganizar minha agenda pra esses dias.

-- Reorganizar a agenda? - eu estava confusa.

-- Uhum. Como pensei que eu iria junto, acabei limpando minha agenda pra esses dias...você sabe que eu tinha umas coisas pra fazer, mas nossas famílias vão ser sempre mais importantes. O povo aqui de casa já me vê o tempo todo, conhecer seus avós seria algo...uow! - ela suspirou. -- Eu não poderia recusar um convite desses, e nem iria querer deixar essa oportunidade passar já que só Deus sabe quando cê vai encontrar com eles de novo por causa dessa pandemia.

Força do Destino [Ranu]Onde histórias criam vida. Descubra agora