Força do Destino [Ranu]

Reprodução

Rafa Kalimann
Presente

Ansiedade é pouco para o que eu estava sentindo. Sabe quando acreditamos piamente que estamos diante da única oportunidade na nossa vida de concretizar um sonho? Era exatamente assim que eu me sentia diante desta médica.

Apesar da ideia e do desejo serem meus, sentir a mão suada de Manu na minha não estava me ajudando muito. Perceber que ela também está tão nervosa fazia com que meu próprio nervosismo triplicasse. Que Deus me perdoe por isso, mas por mais que Manu não externalizasse isso de forma direta, ao longo dos últimos dias, eu sentia que ela começou a querer isso tanto quanto eu. Embora genuinamente ela tenha saltado de cabeça para estar ao meu lado nesse desejo de ser mãe, eu me sentia um pouco pressionada. Nitidamente, ela tinha expectativas agora.

--...Eu não sei se vocês sabem, mas o Brasil é atualmente o país da América Latina que mais realiza tratamentos de fertilização in vitro, inseminação artificial ou mesmo transferências de embriões... - a doutora Izabel disse e meus olhos abriram em surpresa. Eu não fazia ideia disso.

-- Eu já esperava por isso...- Manu interrompeu-a. -- Temos uma população maior do que todos os outros países latinos e os investimentos na área devem ser bem maiores aqui também. Além disso, bem, temos um número altíssimo de homossexuais. - a médica assentiu parecendo realmente feliz por Manu estar acompanhando o seu raciocínio.

-- Exatamente, e o motivo de eu fazer questão de falar isso não é pra apresentar uma estatística ou mostrar pra vocês que esses procedimentos são corriqueiros no nosso país, mas pra reforçar que, todos eles, são extremamente seguros quando realizados com profissionais sérios e responsáveis... - Manu assentiu, eu podia sentir que ela ficou um pouco mais aliviada com essa informação. Durante os últimos dias, ela se mostrou apreensiva sobre a minha saúde e segurança por conta dos processos envolvidos na reprodução assistida. --...Pode até não fazer parte da realidade de vocês duas, mas muitos ainda têm receio de realizar procedimentos desse tipo, seja por temer os processos ou por nutrir algum tipo de preconceito pela crença de que não é um método biológico... - isso era verdade. A quantidade de coisas absurdas que já escutei sobre isso é fenomenal. --...Acontece que nenhuma dessas situações é real. Os processos de cada um dos métodos são seguros, rápidos e nada invasivos. Além disso, eles consistem em ajudar a reprodução, ninguém está criando um bebê em laboratório. Os métodos são todos biológicos. - nós duas assentimos e a médica pareceu aliviada por ambas não termos dúvidas sobre esses aspectos. -- Outra questão importante que devemos falar é sobre o fato de vocês serem um casal lésbico...- minha mão apertou de leve a de Manu. Isso seria um problema? Não posso acreditar. --...Desde 2015, quando o Conselho Federal de Medicina passou a autorizar que esses procedimentos de reprodução assistida pudessem ser realizados para casais de mulheres, a procura vem aumentando exponencialmente entre os casais lésbicos... - sua voz era calma e profissional. Não parecia que ela soltaria uma bomba ou seria preconceituosa, mas nunca se sabe. --...Então, quero que vocês duas se sintam à vontade, não cabe qualquer constrangimento em nossas conversas... - suspirei aliviada e Manu acariciou minha mão, como se quisesse me dizer que ficou aliviada também. --...Se quisermos que todo o processo de reprodução ocorra de forma bem sucedida, precisamos jogar limpo, sermos sinceras umas com as outras... - assentimos em acordo com aquela condição. --...Vocês não são o primeiro casal gay que assisto e não serão o último...- com certeza eu me sentia mais confortável em saber que não existia qualquer tabu sobre nossa sexualidade. Essa era uma decisão importante e íntima demais para que tenhamos que agir como se andássemos sobre ovos ou nos preocupássemos em sofrer qualquer preconceito. --...Vocês devem ter perguntas pra mim, certo?! - minha namorada rapidamente assentiu e eu segurei o riso porque ela passou a semana inteira lendo sobre o assunto. Ela não me contou, mas eu a observo o tempo todo.