Ectópica

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Rafa Kalimann

Voltei à consciência sentindo meus lábios colando. Abri os olhos aos poucos, piscando, acostumando com a luz. A sensação foi esquisita, não lembro de já ter me sentido dolorida assim.

É claro que eu sabia que estava no hospital e lembrar disso doía porque o motivo voltava a martelar na minha cabeça novamente.

Devagar, girei a cabeça para olhar para o quarto. Parecia início da manhã ainda. Eu podia escutar alguns pássaros ao longe, a cortina da janela estava fechada, deixando passar poucos raios de um sol que começava a pairar no céu. Manu estava toda torta sentada em uma poltrona. O seu desconforto era óbvio.

Olhei para uma espécie de mesinha de cabeceira e vi um jarro de água com um copo ao lado. Foi então que reparei nos meus braços e mãos. Eu estava tomando soro e acho que algum medicamento na veia. Claramente tiveram problema ao colocar a agulha porque eu estava roxa em alguns pontos.

Fechei os olhos. Eu tinha sede, mas nenhuma vontade de me movimentar. Queria acordar a Manu, mas ao mesmo tempo sentia medo da reação dela, do tipo de olhar que ela teria pra mim.

-- Que cara é essa, Rafinha? - Rodrigo questionou baixinho logo depois de sentar ao meu lado. Havíamos acabado com a maquiagem e esperávamos nos chamar para iniciar uma outra entrevista.

-- Não dormi bem... - foi o que me limitei a dizer, mas senti seu olhar cravado em mim. Alguns segundos passaram até que ele soltou um suspiro derrotado, chamando a minha atenção.

-- Sabe que apesar da Manu e do Igor não terem dado certo, torço demais pra felicidade dela e isso passou a incluir você quando soube de vocês duas. - assenti, jamais duvidei disso. Ele sempre foi muito gente boa comigo, principalmente no começo de tudo, com todas as críticas terriveis ao meu trabalho.

-- Eu sei, Rô. Mas prometo que estamos bem...- ele riu.

-- Eu espero que sim. Esses dias os holofotes têm estado em cima de vocês por conta de todo o alvoroço que causaram com esse noivado e com esses stories todo santo dia... - sorri.

-- Tem sido lindo o apoio do público, sabia?

Ele assentiu. -- Posso imaginar. Se pra mim e pra Agatha é incrível sentir o apoio da galera, pra vocês deve ser mil vezes mais...

-- E é. Manu tem muito receio de expor as coisas e agora se permitindo mais. Tem sido um momento importante pra gente.

-- Sabe?...Depois que te conheci nas passagens de texto e no set passei a te querer bem demais, Rafa. Você é sempre tão cheia de vida, simpática, brincalhona. Posso sentir que você não bem hoje. Tá completamente retraída e cabisbaixa. Nem ontem enquanto tava passando mal eu te vi tão pra baixo. - encolhi os ombros. Ele me conhecia o suficiente. Afinal, foram meses de gravação. -- Eu conheço a diferença de quando uma pessoa apenas sofreu com uma insônia fodida de quando chorou a noite toda...a maquiagem disfarçou quase que totalmente, mas eu te vi antes de aplicarem essa máscara no seu rosto.

Suspirei exasperada e notei o corpo dele se retraindo. O coitado ficou preocupado de estar me importunando.

-- Sinceramente? Você tá certo. E eu juro que queria me abrir contigo agora e desabafar, juro que sim, mas não é nada que eu possa dividir, Rô...

Força do Destino [Ranu]Onde histórias criam vida. Descubra agora