Segredos

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Rafa Kalimann
Presente

Quando a voz da minha mãe se fez presente bem atrás de mim questionando esse "bebê?" de forma desconfiada e completamente surpresa eu não precisava ter um espelho para saber como eu perdi totalmente a cor do rosto. Meu coração parou por alguns segundos para logo acelerar de um jeito que quase me causou uma vertigem.

Percebendo meu estado, Manu deu um passo na minha direção, praticamente pressionando o corpo no meu. Seu braço envolveu minha cintura e no mesmo instante senti seus lábios no meu rosto em um beijo rápido, como se o gesto de carinho fosse capaz de reduzir o tamanho do meu susto e nervosismo diante da situação repentina que se formara por um simples comentário.

Todo o tempo parecia ter reduzido de velocidade. Eu notei, quase em câmera lenta, os rostos assustados dos meus sogros, da Cat e de Ally, bem na minha frente. Eles pareciam estar com a respiração presa. Vi como Manu soltou um pequeno sorriso culpado e tranquilizador pra logo a voz da minha mãe surgir novamente.

-- Responde, menina! - ela parecia estar andando pela cozinha, a voz agitada. -- Cês tão querendo ter um bebê? - e riu como se fosse uma piada. -- Isso é brincadeira entre vocês, né Rafaela? - eu sabia que ela havia girado pelo local e estava agora parada no meu lado esquerdo, talvez uns quatro passos de distância. O tom deixava claro que ela estava chocada, mas não querendo acreditar no que ouviu. Fechei o olhos por alguns segundos e senti outro beijo da Manu em minha bochecha, dessa vez mais demorado. Não era mais uma forma de carinho, mas de apoio.

Foi quando eu entendi o óbvio. Não havia mais jeito de esconder da minha mãe qualquer coisa sobre o bebê. Manu já estava ciente e parecia estar me dando o seu aval silencioso para eu tomar a melhor decisão pra mim. No momento, no entanto, não havia escolha, eu tinha que contar.

-- Na verdade...- pigarriei completamente perdida em como dizer isso sem nenhuma preparação. -- Nós estamos tentando há pouco mais de 2 meses... - revelei insegura, sem muito pensar, e imediatamente olhei em sua direção. Foi bem a tempo de ver a expressão chocada mudar para pura incredulidade.

-- Pessoal, será que vocês podem nos dar uns minutinhos a sós? - ouvi Manu perguntar como se ela estivesse há milhas de distância.

Sem emitir uma só palavra, nem mesmo o Ally que é sempre brincalhão, eles saíram praticamente correndo da cozinha. Se fosse em outro momento eu iria rir da situação, mas eu estava me borrando demais com medo da reação da minha mãe pra achar qualquer coisa engraçada. Sequer pisquei pra olhar a movimentação além da minha visão periférica, meu olhar continuou grudado no da mulher que me deu à Luz e que agora estava me encarando como se eu tivesse três cabeças.

-- Todos eles sabiam? - ela estava nitidamente magoada agora e imediatamente eu me senti triste. Não havia escondido a vontade de ter um bebê por maldade.

-- Desde a África... - disse sem entender de onde vieram as palavras e caminhei metade do caminho até ela. Manu ficou para trás, sem se mover. Provavelmente ela queria estar ali para me apoiar, mas estava tentando me deixar à vontade para ter essa conversa com minha mãe. -- Deus me disse claramente que se eu quisesse ser mãe, eu deveria tentar agora.

Dona Genilda me olhava fixamente. Eu conhecia essa expressão. Ela estava me avaliando e pensando sobre a informação que acabei de dar. Minha mãe era espalhafatosa, simples, impulsiva e sem travas na língua, mas sempre foi a pessoa mais sábia e humana que conheci. Bem, talvez Manu possa competir com ela de igual pra igual agora.

Força do Destino [Ranu]Onde histórias criam vida. Descubra agora